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Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Vislumbremos juntos: seu time vai jogar a 120 quilômetros de sua cidade e você, supostamente um torcedor fiel, chama quatro amigos para uma curta viagem em nome da paixão. Tudo certo, lá se vai o grupo pela estrada.>
No meio do caminho, bem antes do destino final, você passa por um cara que faz exercícios na rua, trajando a camisa de uma torcida organizada do clube que é o rival do seu time do peito. “E eu com isso?”, pensaria você ou qualquer pessoa minimamente capaz, afinal, seu interesse é chegar à partida quilômetros adiante. Concorda?>
Tal raciocínio seria o mais razoável se estivéssemos falando de torcedores. Mas aqui, infelizmente, estamos falando apenas de supostos torcedores fiéis. A bem da verdade, estamos falando de imbecis.>
Imbecis criminosos, membros de uma torcida organizada do Bahia que, ao cruzarem com um jovem na estrada, acharam por bem atropelá-lo e, sem sucesso, resolveram persegui-lo e espancá-lo porque ele cometeu a grande ofensa de usar a camisa de uma torcida organizada do Vitória.>
Vale enfatizar: o tricolor jogou contra o Atlético em Alagoinhas e, a caminho do jogo, um bando de não-torcedores do Bahia quase mata um torcedor do Vitória na base da porrada em São Sebastião do Passé. Assim, como quem para pra abastecer.>
Nesta infame sequência de fatos, a única coisa coerente é a cristalização de que marginais como estes não torcem para o time que raivosamente dizem amar. Eles torcem é para a torcida organizada da qual são integrantes. É isso que os move.>
No mais, há um detalhe a destacar: um dos agressores, Luciano Venâncio, é presidente da Bamor, a principal organizada do Bahia. Ou seja, eram representantes como ele que participavam daquelas inúteis reuniões entre “torcedores”, Polícia Militar e membros do Ministério Público antes de Ba-Vis com duas torcidas. É este tipo de “líder” que assina os documentos se comprometendo a torcer em paz, a não realizar emboscadas, a não marcar pancadarias pela internet.>
A polícia e os promotores sabem (ou deveriam saber) exatamente quem são os bandidos que cometem crimes camuflados sob o manto da rivalidade da bola. Em vez de barrá-los, barram os autênticos torcedores de irem ao estádio, como aconteceu no domingo passado, em mais um clássico de torcida única.>
Nisso, os imbecis seguem livres para agir, inclusive em trânsito intermunicipal, como mostrou este caso de São Sebastião. Os cinco foram detidos, mas não demora estarão na rua novamente – ninguém duvide de que amanhã mesmo já estejam na Fonte Nova contando suas vantagens, detalhando cada soco e cada chute que impuseram ao rubro-negro antes de serem presos. E tudo vai ficar por isso mesmo.>
Sabe o que é pior? Já tem marginal do lado do Vitória (eles estão por todos os lados) tramando revanche, sedento por pegar um tricolor desavisado no meio da rua.>
Os imbecis desconhecem limites. >
Tristeza Acordamos todos ontem com a triste notícia do incêndio no CT do Flamengo. Apenas para ilustrar o tamanho do fosso em que estamos, segue um comentário que li em um dos portais de notícia: “Desta vez não sentiram o cheirinho de queimado a tempo de evitar a tragédia”.>
É isso. Vivemos numa era – e num país – dominada por imbecis.>
Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.>