Impacto econômico: como a pandemia do coronavírus mexeu com a realidade do setor industrial

Estudo aponta que sete em cada dez indústrias brasileiras tiveram perdas

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  • Do Estúdio

Publicado em 25 de maio de 2020 às 06:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shutterstock

Sete em cada dez indústrias brasileiras tiveram que encarar perdas em seus faturamentos como um dos impactos provocados pelo avanço da pandemia do coronavírus, de acordo com a Sondagem Especial: Impacto da covid-19 na Indústria, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O segundo maior impacto da crise no dia a dia das empresas foi a queda na produção. Das 1.740 empresas pesquisadas, entre 1º e 14 de abril, 76% relataram que reduziram ou paralisaram as operações. De acordo com os dados, 59% dos empresários estão com dificuldades para cumprir com os pagamentos correntes e 55% relataram que o acesso a capital de giro ficou mais difícil.

A inadimplência e o cancelamento de pedidos foram apontados por 45% e 44% dos entrevistados respectivamente. Entre as medidas tomadas em relação à mão de obra, 15% das empresas demitiram. Ao todo, 91% das empresas relataram ter enfrentado algum tipo de impacto negativo até abril.

O índice de evolução da produção industrial, outro índice apresentado pela CNI, ficou em 33,3 pontos em março – 14,2 pontos abaixo do apurado em fevereiro e bem abaixo da linha de 50 pontos que separa queda e crescimento da produção.

A realidade mostrada pelos números vem sendo percebida no dia a dia de quem vive da atividade industrial.

Juan Lorenzo, presidente do Sindicato das Indústrias de Sabões, Detergentes, Produtos de Limpeza em Geral, Aditivos e Velas da Bahia (Sindisabões-Ba), conta que no setor há duas realidades distintas. As empresas que trabalham fornecendo produtos para o segmento doméstico têm visto a demanda por seus produtos se manterem e até se elevarem. Entretanto, a realidade das empresas que atendem o mercado institucional é muito ruim.“A área institucional está em situação bastante difícil. Hotéis fechados. Hospitais particulares praticamente fechados, à exceção de emergências. Clínicas e lavanderias sem funcionar. Conservadoras, que fazem limpezas de grandes áreas, paradas porque os shoppings estão fechados. Só se salva quem atende a indústria de alimentos”, diz Lorenzo.Segundo ele, no segmento institucional a redução de demanda varia entre 50% e 70%.

Além da queda de demanda, no setor de saneantes ainda houve um significativo aumento nos preços dos insumos por conta da alta de 50% do dólar desde o início do ano. Um terço das matérias-primas usadas vem do exterior e outro terço tem os preços indexados ao mercado externo. “A alta do dólar provocou um aumento de quase 40% em nossos insumos”, calcula Juan Lorenzo.

Outro fator de preocupação é o recebimento pelos produtos comercializados. “Alguns clientes estão com dificuldades de pagar porque seus estabelecimentos não faturam”, lembra. “Isso nos preocupa mesmo porque quando acabar a crise, eu preciso ter clientes. Se nada for feito e essas empresas de segmentos mais atingidos pela crise simplesmente quebrarem, vai criar um efeito ruim em toda a cadeia”, analisa.

O empresário destaca que a situação é mais dramática entre as micro e pequenas empresas, porque elas dispõem de uma estrutura menor.

Estímulo à produção Mauro Pereira, superintendente geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic), conta que o quadro atual entre as empresas do Polo continua preocupante. “Sabemos que este não é um problema isolado, a demanda é baixíssima em todo o mundo. O mercado não está bom, isso afeta as empresas e por consequência a sociedade como um todo”, destaca.

Segundo o dirigente empresarial, o cenário de dificuldades deve permanecer por mais algum tempo, entretanto já existem sinais de reação no horizonte. “Não se tem ainda um ambiente de retomada, mas temos relatos de algumas empresas que começam a receber consultas de clientes. Ainda há todo um processo antes que isso se torne realidade”, pondera.

Ele lembra ainda que a China começa a sair do momento mais crítico e que quando voltar a produzir, vai demandar produtos brasileiros.

Para Mauro Pereira, o caminho para a retomada na área industrial passa pelas grandes empresas, mas também por um amplo estímulo aos processos produtivos, para que indústrias de todos os tamanhos tenham facilidade de florescer no país.“Temos patinado por muito tempo porque não se entende a produção como prioridade no Brasil. Estimular a produção é o caminho para tirar o Brasil desta situação. Se você ajuda a indústria a não quebrar, ela mantém os seus empregos e toda aquela rede de benefícios”, diz. “Quando você estimula alguém pequenininho a se tornar uma indústria, mesmo que seja no seu quintal, isso está dando início a um círculo virtuoso”, acredita.Apoio Tercio Calmon, coordenador de Indústria do Sebrae Bahia, conta que logo no início do período de isolamento, o serviço de apoio às empresas procurou diversas empresas para identificar as dificuldades enfrentadas por elas. Ficou claro que as dificuldades eram as mesmas, porém em escalas diferentes e com a dificuldade em relação ao atendimento presencial.“O primeiro ponto é a dificuldade de caixa. Quando a gente fala de uma pequena indústria, estamos falando de uma empresa que tem recursos em caixa correspondentes a no máximo 30 dias de operação. Isto é praticamente o decreto de morte para elas”, lembra Calmon. Ele lembra que o governo federal chegou a anunciar um conjunto de medidas de apoio, mas “muitas empresas não tinham ideia do que fazer”.Segundo ele, apesar dos anúncios de linhas de crédito, tanto por parte do governo quanto de instituições financeiras, há uma grande dificuldade para fazer os recursos chegarem à ponta. “Muitas vezes falta conhecimento para acessar esses recursos”, diz Tércio Calmon.

Para resolver esta questão, conta, o Sebrae reuniu soluções para os problemas mais recorrentes em um programa totalmente gratuito e online, o Sebrae Presente com Você. “Até aval para crédito, o Sebrae está oferecendo”, diz o coordenador de Indústria do órgão.

Cinco pontos do Sebrae Presente com Você:

Presença Consciente Orientações sobre como agir diante da crise do coronavírus em relação aos seus funcionários, clientes e a sua empresa. Explicações sobre o auxílio emergencial oferecido pelo governo, o "coronavoucher".

Presença Financeira Especialistas da área de Finanças para atuar junto com o empreendedor, com ações práticas para a empresa neste momento. São 40 consultores de finanças para auxílios em questões sobre fluxo de caixa, contas a pagar e contas a receber, trabalhando de forma remota por videoconferência.

Presença digital Estrutura com profissionais de marketing digital para ajudar as empresas a se inserirem. Além da consultoria sobre o uso de redes sociais, é possível chegar até a formação de um e-commerce. Auxílio para posicionar a marca na internet, gerando valor para os clientes e se relacionando da melhor forma com o público em tempos de crise.

Presença gerencial Ferramentas gratuitas para ajudar na tomada de decisão sobre acesso a crédito, pessoal, fornecedores e legislação. O Sebrae te orienta!

Presença logística Todas as informações sobre logística e gestão de estoque que uma empresa precisa saber, com auxílio para quem precisa montar um serviço de delivery para a empresa.

Conteúdo especial do projeto Indústria Forte, iniciativa do CORREIO, com o patrocínio do Hapvida, Sotero Ambiental e Yamana Gold, apoio da Claro, FIEB e Larco e parceria do Sebrae.