Inaê sobre transição no trabalho: 'Tudo que acontecia com meu corpo era muito grandioso, esperado e criticado'

Mesa sobre mercado de trabalho para pessoas trans foi marcada por emoção na 19ª Parada LGBTQIA+ da Bahia

Publicado em 5 de dezembro de 2020 às 21:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Emocionante. A mesa sobre o mercado de trabalho para pessoas transexuais foi carregada de histórias fortes, contadas pela vereadora Érika Hilton, mulher mais bem votada nas eleições de 2020, quando foi vencedora de uma cadeira na Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo, e da professora Inaê Leoni. A potência dos relatos derrubou lágrimas, inclusive do apresentador da 19ª Parada LGBTQIA+ da Bahia, Jorge Gauthier, durante a transmissão.

Erika Hilton recebeu 50.508 votos na eleição, mas afirma que não foi a única vencedora do pleito. Ela acredita que a materialização dos votos foi uma construção contínua e coletiva, que só foi possível a partir do momento em que ela teve a oportunidade de sair da vida de marginalização que lhe foi imposta após ser expulsa de casa ao se assumir como mulher transgênere.

"Reatar com a família foi fundamental para que eu tivesse oportunidades de romper os espaços de marginalização de meu corpo. Voltei para os estudos, que tinha abandonado no ensino médio, comecei a me compreender como alguém que não merecia estar numa condição desumanizadora", afirmou.

Erika afirma que estar nesse lugar da política institucional é mostrar para a sociedade que travestis negras podem e vão existir para além das esquinas de prostituição, encarceramento, manchetes policiais e estatísticas de morte.

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Quem também participou da mesa foi a professora Inaê Leoni, que iniciou o seu processo de transição após ser aprovada no concurso público para lecionar no Fundamental I. Emocionada, ela lembrou que sofreu muito dentro do trabalho e que sua transição foi espetacularizada dentro da escola.

"Tudo que acontecia com meu corpo era muito grandioso, esperado e criticado", afirmou.

As situações foram diversas: com alunas, alunos e colegas. Por exemplo, quando uma aluna a questinou se ela é uma mulher e ela afirmou que sim. A resposta da crianças foi: "com essa sobrancelha, não". Houve outra crianças que perguntou o porquê de pessoas trans não serem normais. Perguntas que doem na carne e na própria existência.

"Ao mesmo tempo que é um lugar de orgulho por furar uma brecha, tudo isso me deixa com raiva e preocupada com meu contexto, por andar na cidade que leciono. São corpos que são vistos como forasteiros, meu corpo é visto como um corpo alienígena", afirmou.

Assista à Parada LGBTQIA+ ao vivo no player abaixo.

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