Independência ou sorte! Bastidores do 7 de setembro

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  • Nelson Cadena

Publicado em 6 de setembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Na manhã de 7 de setembro, Dom Pedro I, montando uma mula - o pintor Pedro Américo na sua representação lúdica do evento transformou em um garboso corcel -, soube às margens do Ipiranga da resolução de seu gabinete de promover/sugerir a separação de Portugal, através de uma carta, e sem outra alternativa proclamou a Independência. Não há testemunho de que tenha proferido a frase “Independência ou morte”, de forma tão enfática como dito, a não ser no contexto de uma narrativa oficial.

Na verdade, foi um golpe de sorte, a sua ausência da capital e as circunstâncias evitaram um temido conflito entre militares adesistas e oposicionistas. Ocorrido o “Grito” do Ipiranga, o Coronel Fernando Carneiro Leão apressou-se a emitir uma proclamação para os militares, com o timbre “Vencer ou Morrer”, um manifesto de lealdade. Purpurina pura, já que mais de 90% do contingente da tropa não sabia ler e se lido de viva voz, numa ordem do dia, não entenderia patativas, diante de linguagem tão rebuscada para quem é analfabeto.

Passada a euforia do evento e consolidados os preparativos para a posse de Dom Pedro I como Imperador do Brasil, na data de seu natalício (12 de outubro), ficou o receio de uma reação lusitana a partir da Bahia, onde as tropas do General Madeira, ainda inexpressivas numericamente, dominavam a praça desde março de 1822. Em agosto já estávamos em estado de guerra: os senhores dos engenhos do Recôncavo, respaldados por um Conselho interino de Governo, decidiram não apenas resistir, mas avançar sobre Salvador. Com a guerra em curso, a questão financeira, como sustentar, passou a ser o principal obstáculo para os dois lados do conflito.

Os recursos vieram e a Bahia pagou caro por isso. No dia seguinte ao 2 de julho se deu conta de que o Estado estava falido e viveu uma longa penúria. Portugal também pagou caro, comprometeu recursos que não tinha para o envio e sustento de dez mil soldados, de modo que duas semanas após a humilhante retirada do General Madeira de Mello, contraía com a House B. A Goldschmidt & C.º of London um vultoso empréstimo de 1,4 milhão de Libras Esterlinas. Quem pagou por isso, afinal? O Brasil. No acordo firmado em 29 de agosto de 1825, data marca o dia em que o Brasil “vendeu” sua Independência.

Com o dito acordo, mediado pelos ingleses, os principais interessados no processo, o nosso país assumia o empréstimo de 1,4 milhões de libras esterlinas, feito pelos portugueses em 1823 para cobrir o rombo das despesas de guerra e mais 600 mil de indenização da coroa portuguesa pelos bens deixados no Brasil. Foi um negócio da China para as casas bancárias de Londres. O dinheiro do empréstimo ficou nos bancos que abateram dívidas e pagaram taxas e comissões dos negociadores. Em troca, o Brasil teve reconhecida oficialmente a sua Independência por Portugal e outras nações europeias que respaldaram a iniciativa.

E o que restou para os baianos? Além do desencanto de assistir o início de um governo centralizador e autoritário no Rio de Janeiro e em Salvador uma acomodação de interesses entre os vencedores e vencidos e a frustração da mão de obra escrava que foi usada como massa de manobra e nenhum benefício teve, restou-nos participar do script oficial de dois desfiles cívicos, um no 2 de julho, outro em 7 de setembro. Um dia inventaram um personagem de ficção, Maria Felipa, que não existiu; outro dia, como bem ressaltou, certa feita, o professor Luís Henrique Dias Tavares (“Não há a menor razão para isso”), deram ao General Labatut um protagonismo que não teve.