Irmã Dulce: o que muda com a sua canonização

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  • Dom Murilo Krieger

Publicado em 14 de outubro de 2019 às 04:00

- Atualizado há um ano

De tempos em tempos, Deus coloca estrelas nos céus de nossa vida. Quem nos lembra isso é o profeta Daniel (6º séc. aC): “Os que instruírem a muitos para a justiça, brilharão como as estrelas sempre e eternamente” (Dn 12,3). Salvador, nesse ponto, tem sido uma cidade privilegiada: basta nos lembrarmos de S. José de Anchieta (séc. XVI), de Madre Vitória da Encarnação (séc. XVIII), da Bem-aventurada Lindalva († 1993) e, de maneira especial, da Bem-aventurada Dulce dos Pobres.

Não basta uma estrela brilhar: precisamos vê-la e segui-la, mesmo quando alguma nuvem a ofuscar por algum tempo. Foi assim com os magos do oriente: viram a estrela do “recém-nascido rei dos judeus” (Mt 2,2) e a seguiram, para adorá-lo. Quando não mais a avistaram, buscaram informações sobre “onde o Cristo deveria nascer” e continuaram seu caminho, até chegarem diante dele e se prostrar.

Irmã Dulce dos Pobres, quer com palavras, gestos ou com o seu testemunho, orientou muitos nos caminhos da justiça. Ao canonizá-la, a Igreja a está colocando em lugar de destaque, para cumprir a ordem de Jesus: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

Há os que perguntam: O que mudará no catolicismo do Brasil após Irmã Dulce se tornar santa? Aumentará a fé? Minha resposta é: não sei! Afinal, isso não dependerá de mim nem da Igreja. Dependerá, sim, do coração de cada pessoa. Irmã Dulce fez a sua parte e nos deixou como herança não tanto uma obra (OSID) – grandiosa, por sinal –, mas sobretudo um exemplo. Há os que sentem um certo orgulho por terem sido seus contemporâneos, colaboradores ou beneficiados, mesmo que com um simples gesto de carinho, mas isso não basta. Pela oração de outros podemos receber a graça de dar um novo sentido à nossa vida. Mas, quando se trata das obras de Deus, jamais estamos dispensados de fazer a nossa parte.

Nós, que temos o privilégio e a graça de morar em Salvador e na Bahia, precisamos nos perguntar mais do que os outros: Senhor, o que queres que eu faça? O que procuras me ensinar com essa pequena e frágil mulher que, diante dos desafios, tinha uma força que surpreendia a todos? Como eu mesmo poderei responder aos apelos que se multiplicam diante de mim?

Afinal, a realidade que nos cerca não melhorou muito depois dos tempos de Irmã Dulce. Em obras sociais, há necessidade de doações e de voluntários. Nos momentos de convivência familiar ou social, há necessidade de perdão. No campo espiritual, há uma necessidade imensa de pessoas que se tornem intercessoras em favor de seus irmãos ou de adoradoras do Deus vivo.

Irmã Dulce – mais um pouco e diremos: Santa Dulce dos Pobres – fez sua parte. Ela é uma estrela que brilha eternamente. Levantemos nossos olhos para vê-la e imitá-la!

*Dom Murilo é Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil