José Guerra: 'O Vitória precisa de gestão profissional e transparente'

Candidato da Frente Vitória Popular é o segundo da série de entrevistas do CORREIO com os presidenciáveis do Leão

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  • Daniela Leone

Publicado em 14 de setembro de 2022 às 05:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

José Guerra é candidato à presidência do Vitória pela chapa Frente Vitória Popular, que tem como vice-presidente Zainildo Pinto. Aos 45 anos, ele está disputando o cargo pela primeira vez. É casado, pai de três filhos, bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

Nascido em Salvador, José Guerra mora em Brasília desde 2006, quando se tornou servidor público, mas já protocolou um pedido de licença para interesse particular condicionado à eleição rubro-negra. Caso vença, ele voltará a morar com a família na capital baiana. Transparência e profissionalização são algumas das bases do projeto que quer implantar no Vitória. 

A eleição ocorre no próximo sábado (17), no Barradão. O vencedor tomará posse em dezembro e irá gerir o clube no próximo triênio, de 2023 a 2025. Ao longo desta semana, o CORREIO publica entrevistas com os quatro candidatos à presidência do Leão. Algumas perguntas são iguais para todos e outras foram elaboradas especificamente para cada entrevistado, levando em consideração propostas e trajetória.  

Por que você quer ser presidente do Vitória?  Mais do que o José Guerra servidor público, o especialista em gestão, o bacharel em direito, o professor de gestão, na verdade eu represento um movimento, a Frente Vitória Popular, que tem mantido sua coerência, um movimento criado com propostas bem claras para o Esporte Clube Vitória, que é de democratização, de profissionalização, de popularização e de apoio e melhoria do Barradão como nossa casa. E essa Frente Vitória Popular hoje se apresenta com candidaturas para os três conselhos, Deliberativo, Fiscal e Gestor. Eu sou um torcedor rubro-negro apaixonado, boa parte do que eu sou hoje se deve à experiência de arquibancada da Fonte Nova, do Barradão, e onde quer que o Vitória esteja, eu acompanho o Vitória em muitos lugares. Eu entendi que uma forma minha de ajudar o Vitória, além de ser sócio, é participar da vida do clube. Eu sou conselheiro já desde 2016, retornei ao Conselho [Deliberativo] agora porque fui eleito como suplente na última gestão e, desde então, tenho uma participação muito atuante, principalmente no último processo de reforma do estatuto. Além de ter todas as condições pessoais, eu entendo que eu tenho também as condições de grupo para poder dar minha contribuição para o Vitória e entendemos que o clube precisa se profissionalizar, precisa ter uma gestão profissional, democrática e transparente, para conseguir competir com os grandes clubes do futebol hoje.

De onde tirar dinheiro para investir na temporada 2023 caso o clube não conquiste o acesso à Série B este ano? Tenho muito pé atrás com as análises catastróficas que fazem sobre o Vitória. É um clube que tem um potencial de geração de receita muito alto, os últimos jogos têm demonstrado isso, a participação de uma torcida apaixonada, grande, que comparece quando é chamada. Tivemos um aumento no quadro de sócios, mesmo sem qualquer campanha de marketing estruturada pela gestão atual. Saímos de 6 ou 7 mil para mais de 10 mil sócios, muito longe do nosso potencial. E mesmo na Série C este ano, temos um orçamento que é compatível com uma Série B. Então, a questão financeira do Vitória, que as dívidas se encontram uma parte equacionada, nos permite montar um time competitivo não apenas na Série C, mas também numa Série B caso nós tenhamos o acesso. 

Além disso, temos diretrizes que são de utilização intensiva da nossa base, que é o nosso grande patrimônio, nós somos formadores de atletas de altíssimo desempenho historicamente, reconhecidos nacionalmente e internacionalmente por isso, e também de prospecção, pois somos muito bons nisso, de atletas promissores de clubes de ligas menores, que podem ser baratos e fonte de receita lá na frente.

Você pretende manter João Burse e a atual comissão técnica para a temporada 2023? Eu não posso assumir compromissos, porque nem eleito fui. O que posso falar é que admiro muito o trabalho de João Burse. Ele é um treinador com o DNA do Vitória, egresso do Vitória, que é formador não apenas de atletas, mas de profissionais de altíssimo desempenho. João Burse tem um perfil que se encaixa muito no que pensamos no futebol do Vitória no próximo período, que é de utilização da base e de entendimento do que é a nossa identidade. João Burse é um nome a ser muito bem pensado. Em caso de sermos eleitos, conversaremos muito e apresentaremos o nosso projeto a ele. Quem sabe ele esteja junto com a gente no próximo período, mas não posso garantir, até porque ainda tem o processo eleitoral.

Após nova punição da Fifa, o Vitória está impedido de registrar atletas até junho de 2023. O clube precisa quitar uma dívida de 350 mil dólares (R$ 1,8 milhão) com o Boca Juniors, da Argentina, pelo não pagamento do empréstimo de Walter Bou. Quando e de que forma você irá solucionar esse problema? Nós temos diversas possibilidades e elas estão em nosso projeto. Em primeiro lugar, o Vitória tem muitas fontes de receitas ainda a receber, por exemplo, a questão do atleta David, da venda ao Metalist, da Ucrânia [que ainda não pagou pela transferência]. Também tem possibilidade de parcerias com grandes grupos vinculados ao mercado do futebol que nos permita uma reestruturação financeira, inclusive, nessa reestruturação, nós deixamos condicionado um valor para o pagamento dessas multas. 

Essas parcerias só serão possíveis - e estamos já conversando com alguns ‘players’ do mercado do futebol - com a gente chegando e fazendo uma profunda auditoria no Vitória. Precisamos saber o que temos ainda a receber, o que temos de dívida que podem estourar com esses ‘transfer ban’.  Uma possível parceria com esses 'players' que podem nos dar esse auxílio financeiro, essa reestruturação financeira do Vitória, já deixar provisionado alguns valores a serem utilizados caso essas multas venham a ser cobradas na nossa presidência. 

Dado o atual cenário financeiro e futebolístico do clube, como você acha que pode deixar o Vitória após três anos de sua gestão, se for eleito? Nossa proposta é que no fim do nosso mandato o Vitória esteja retornando ou já tenha retornado para onde ele nunca deveria ter saído, que é a elite do futebol brasileiro. Nossa meta é, em 2025 ou antes, logicamente é muito difícil, mas lutaremos para isso, o Vitória estar na Série A. Para isso é fundamental que o clube tenha um novo modelo de gestão que seja profissional, transparente, com profissionais competentes em todas as áreas. 

O Vitória hoje é um clube opaco, com gestão amadora, onde pessoas que não têm competência ocupam funções que não são de sua competência. O que queremos, e a minha experiência com gestão profissional no sentido público traz para isso, é colocar os melhores nomes nos seus locais, com independência e com autonomia, sob minha supervisão como presidente. O que não pode é continuar essa gestão amadora que nos persegue há muito tempo.

Você pretende transformar o Vitória em SAF? Por quê? Nós não temos posição firmada sobre a questão da SAF porque não temos ainda uma auditoria profunda do Vitória. A SAF é uma das alternativas que temos no próximo período para que o Vitória tenha um aumento de receita e um posicionamento melhor no futebol brasileiro. É uma experiência que vem sendo acompanhada de perto pela Frente Vitória Popular e que só poderá acontecer no Vitória devido à intervenção da Frente Vitória Popular, que fez constar no estatuto novo, aprovado em julho, uma previsão de procedimento caso o Vitória queira aderir à SAF. Mas, antes de SAF, temos que fazer uma auditoria profunda, trazer os padrões de gestão do Vitória para os mais modernos e, o Vitória estando girando a sua gestão de forma eficiente, decidirmos de uma forma democrática, com a participação dos sócios, dos conselheiros, dos conselhos do Vitória, se é o melhor dentro desse caminho aderir à SAF ou não. Mas hoje, sem uma auditoria, uma análise de quanto o Vitória vale, aderir a uma SAF dessa forma é atrair abutres e isso nós não queremos fazer. Após essa auditoria, após esse entendimento e após essa melhoria dos processos do Vitória poderemos sim, quem sabe, aderir a uma SAF, em situação muito melhor do que se aderirmos agora.

Desde o final do mandato de Alexi Portela Júnior, em 2013, nenhum presidente eleito do Vitória conseguiu terminar o mandato, com exceção daqueles com caráter tampão. O que pretende fazer para que isso não aconteça com você também? Eu acho que a democracia no Vitória ainda não foi completamente estabelecida. Estamos dando passos lentos e a reforma do estatuto é isso. Acho que o grande problema do Vitória, ao contrário do que o senhor Alexi Portela fala, não é a democracia e sim a falta dela. Precisamos completar um processo democrático no Vitória e isso é você ter uma gestão transparente e profissional, que saiba ouvir todos os setores do clube. Torcedores, sócios, a imprensa, as torcidas organizadas ou não, e conseguir ter esse diálogo aberto. O Vitória hoje precisa ter uma gestão transparente com órgãos de imprensa, com setores da sociedade baiana, com o governo estadual, com o governo municipal, para que nós tenhamos uma estabilidade democrática, que vai se refletir também numa estabilidade na gestão. Com isso, nós conseguimos colocar o Vitória em outro patamar e retornar à Série A. Vale ressaltar que tenho experiência nisso, pois a minha carreira no serviço público é baseada trabalhando em muitos órgãos de diálogo, entre governo, sociedade civil, empresários, trabalhadores.

Uma das diretrizes da Frente Vitória Popular é a utilização intensiva da base no futebol profissional. Como seria a composição de jogadores da base e contratados em um elenco montado por sua equipe para a temporada 2023? Em primeiro lugar, a utilização intensiva da base precisa também de um choque de profissionalização da base. Nós precisamos voltar a investir na qualificação dos nossos profissionais que trabalham na base e fazer uma integração da base com o departamento de futebol profissional. A gente precisa que o modelo de futebol que é utilizado no profissional seja também espalhado para toda a base.

Em primeiro lugar, a gente tem que requalificar a nossa base. Em segundo, dentro desse princípio, contratar profissionais, tanto o diretor de futebol, o nosso departamento técnico, o treinador, equipe técnica, que trabalhe com a base, que tenha experiência em trabalhar com a base, em lançar jogadores, e com isso, dentro dessas diretrizes, a gente consegue ter um time de futebol profissional que não seja tão caro, dentro desse momento de restrição financeira, e que possa nos trazer com esses jogadores divisas, com futuras vendas.

Tudo depende de onde iremos e espero que eu assuma com o time já na segunda divisão, que já dará um pouco mais de flexibilidade para a contratação de alguns atletas. A ideia é de que os atletas que sejam contratados venham para contribuir, mas a grande maioria do elenco seja dos que nós já temos hoje com atletas que subam da base. Não posso trabalhar com percentuais, mas creio que tenhamos 50% de atletas formados na base e os outros que ainda estão no elenco hoje, com contratação pontual de alguns jogadores.

O que não podemos fazer hoje é entrar nessa roda que vem há muito tempo com 30 ou 40 jogadores contratados a cada temporada. Isso é uma fonte de dívida lá na frente. Hoje estamos pagando dívida num acordo global com o Tribunal Regional do Trabalho, de quatro, cinco, seis, sete ou oito anos atrás. Agora mesmo nós estamos fazendo essa roda girar e já criando dívida com 40 jogadores, alguns que nem chegaram a jogar uma partida, e nós estamos gerando dívida para daqui a três, quatro, cinco ou oito anos. Então a gente tem que parar essa roda, esse círculo vicioso, com a utilização da base. São jogadores formados, que têm o DNA do Vitória e que vão dar a sua contribuição, como estão dando hoje. Nós temos uma participação muito grande de atletas formados pelo Vitória nesta campanha que esperamos que seja de acesso à Série B.

Pela primeira vez a Frente Vitória Popular lança um candidato para presidente, apesar de já ter participado de outras eleições visando outros cargos. Por que agora? Eu acho que são dois movimentos que se reúnem para que a Frente tenha chapa completa. Por um lado, nós entendemos que hoje é um momento muito delicado na história do Vitória, o próximo período trará a necessidade de tomar decisões que impactarão o clube a longo prazo. Não apenas com a questão da SAF, mas como também de uma necessidade de modernização. Se nós não modernizarmos a gestão do Vitória no próximo período, corremos o risco de ficar para trás e não recuperar tão cedo essa posição que o Vitória tem que ocupar na elite do futebol brasileiro. 

Por outro lado, o movimento interno da Frente Vitória Popular, que foi criada em 2019 para disputar as eleições em 2019, nesse último período se qualificou, foi muito importante na vida política interna do Vitória, tivemos campanhas fenomenais jogando luz para a crise que ocorreu no futebol feminino, com a campanha do apoio às Leoas, campanhas como divulgação dos resultados da reunião do Conselho Deliberativo, para que tenhamos transparência, e com isso nós nos sentimos prontos e preparados para dar esse segundo passo, que é a disputa dos três Conselhos do Vitória.

Vale ressaltar que as minhas capacidades pessoais são reforçadas pela existência desse grupo, unido, coeso e coerente no último período, que é a Frente Vitória Popular. Mais do que os nomes que são super qualificados, tem muitos nomes por trás de uma frente que se capacita e está pronta para ocupar um espaço de destaque na política do Vitória, para levar o Vitória de volta à elite do futebol brasileiro e para a proeminência no esporte brasileiro.