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Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2019 às 09:00
- Atualizado há 2 anos
O laudo pericial da reconstituição do crime que terminou na morte do espanhol Márcio Perez Santana será finalizado em um período entre dois e três meses pelo Departamento de Perícia Técnica (DPT). A segunda parte da reprodução simulada foi realizada nessa terça-feira (21), com a participação dos policiais militares acusados de execução. A vítima sobrevivente não estava no local desta vez. A primeira parte da reconstituição iniciou na última quinta-feira (16) e foi interrompida.>
Márcio foi assassinado no dia 19 de setembro do ano passado, no bairro de Armação. Os policiais militares Maurício Correia dos Santos e Saulo Reis Queiroz são acusados de homicídio qualificado contra o empresário e de tentativa de homicídio qualificado contra Renata Alves Correia, que estava no banco do carona de Márcio no dia do crime. Renata participou do primeiro dia de reconstituição, mas não esteve presente nessa terça (21).>
Os dois dias de reprodução serão utilizados para a realização do laudo pericial do DPT. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) produzirá um auto circunstanciado que também será enviado à Justiça. A reconstituição foi um pedido do advogado de defesa dos policiais. Maurício dos Santos e Saulo Queiroz são réus na Justiça e estão presos na Penitenciária da Mata Escura.>
Novamente, mais de 30 viaturas das polícias Militar e Civil acompanharam a reconstituição do crime, que passou pelo Imbuí e diversos pontos de Armação. Os locais utilizados pelos policiais foram isolados, e a imprensa teve de manter distância do cerco e das testemunhas.“A reprodução não consiste só no trabalho de campo. Depois, nós iremos avaliar tudo o que foi feito e vamos emitir um laudo a respeito do trabalho. Um laudo pericial dessa proporção deve levar de dois a três meses, podendo até se estender um pouco mais porque são muitos detalhes a serem analisados”, explicou o perito criminal que comandou a reprodução, José Carlos Montenegro.No dia do crime, Márcio dirigia seu carro e voltava para casa quando começou a ser seguido por policiais. Ele tentou escapar, mas vários tiros foram disparados, e ele foi atingido na nuca e no braço. O espanhol não resistiu aos ferimentos e morreu. Renata não foi baleada.>
O perito José Carlos Montenegro explicou que a reprodução foi interrompida na quinta-feira (16) para “manter as mesmas condições” do momento do crime, que ocorreu à noite. Ele ainda ressaltou que cada policial faria sozinho o trajeto do dia e que só depois o material seria analisado para avaliar inconsistências.>
“À princípio não podemos fazer conclusão para outra etapa. Se há linha de convergência ou divergência das versões. Existem coisas bem definidas, bem claras, mas a gente prefere não adiantar. Algumas conclusões já foram tomadas, inclusive, na parte do inquérito, quando eles (os policiais) foram ouvidos. Algumas coisas já ficaram bem nítidas, elementos materiais, perícias que já foram feitas, tudo o que já foi colhido é muito definitivo. O que a reprodução faz é checar se tudo isso que foi reproduzido ganha uma sequência lógica e dinâmica lógica a partir dos elementos materiais que já se têm”, explicou José Carlos Montenegro ao CORREIO.>
Versões Autor do pedido, o advogado de defesa dos policiais Dinoermeson Tiago Nascimento avaliou como “esclarecedora” a primeira parte da reconstituição, realizada na última quinta-feira (16). “Apesar de não ter saído o laudo ainda, percebemos que as coisas não aconteceram da forma que foram narradas na denúncia. Isso para a defesa é muito importante. Vamos terminar hoje, essa é a segunda parte, e acredito que venha a esclarecer o que realmente aconteceu no dia”, afirmou Dinoermeson, que voltou a sustentar que os policiais ligaram o giroflex no momento da abordagem e “fizeram todos os procedimentos estabelecidos na norma e que aprenderam na escola de formação”.>
O promotor de Justiça Luciano Assis afirmou que a reprodução foi um “desperdício de dinheiro público” e “absolutamente desnecessária neste momento processual”. De acordo com ele, o processo já estava em um estágio avançado, com a oitiva de todas as testemunhas, para que o laudo fosse produzido neste momento.“Já temos a exata dimensão do que aconteceu naquele dia. Foi uma diligência desastrada de dois policiais absolutamente despreparados que deu cabo à vida de um inocente. Está claro na ação penal que eles praticaram homicídio doloso duplamente qualificado (contra Marcos) e de forma tentada contra a vítima sobrevivente (Renata)”, disse o promotor. Ele ainda explicou que a reconstituição não tem como objetivo saber a motivação dos policiais e, sim, reproduzir a dinâmica dos fatos ocorridos no dia.O advogado de acusação, que representa os pais do empresário espanhol morto, Alcindo Júnior, afirmou que a defesa espera que os policiais sejam levados à júri popular e penalizados com a pena máxima de 20 anos.>
“O que está sendo aqui realizado, apesar de ser solicitado pela defesa, não pertence à defesa, pertence aos autos (ao processo). E comprova o que está nos autos. Apenas está se reconstruindo tudo o que já foi dito pela sobrevivente e testemunhas. O primeiro passo já foi feito a reprodução com o sobrevivente. Hoje vão dizer a versão deles e nós vamos acompanhar”, disse Alcindo.>
Após a conclusão do laudo, os policiais militares serão interrogados pela juíza, as partes apresentarão suas alegações finais e os juízes vão decidir se os PMs irão, ou não à júri popular.>
Família Parte da família do espanhol Márcio Perez Santana residente do Brasil acompanhou a segunda parte da reconstituição. O primo dele, Marcos Perez, é advogado e afirmou que a família recebeu o pedido de reprodução simulada com estranheza. “São 1.500 páginas de processo. Foram 14 tiros. Não tem dúvida nenhuma. Meu primo foi alvejado na nuca e no braço. É estranho receber esse pedido à essa altura dos autos. O DHPP fez um trabalho excelente, colheu imagens de diversas câmeras. Não tinha o motivo de fazer isso agora”, disse Marcos.>
Os pais de Márcio Perez, que vivem na Espanha, e as filhas dele, de 14 anos e 9 anos, estão tendo acompanhamento psicológico após a morte. Os cinco primos dele que ainda moram no Brasil estão se planejando para deixar o país. “Ele era filho único. Minha tia disse que ele teria que ser enterrado lá para ela conversar com ele quando quisesse. Ele tinha duas filhas que ele era próximo demais. Então isso tudo mexeu muito com a família. Os pais dele moraram no Brasil durante 30 anos, mas não tem como ficar aqui mais. Todos nós estamos indo. Chega uma hora que queremos tranquilidade”, desabafou o primo.O advogado destacou que a família receia as reais intenções da reprodução “que não acontece no tempo correto”. “O processo ele nunca é o que apresenta, quais são as reais intenções? A imagem mostra a abordagem, todo o caminho feito pelos policiais. Depois eles ainda jogaram o corpo do meu primo como um saco de farinha na viatura”, disse. O empresário espanhol Márcio Perez Santana, 41 anos, foi morto em setembro (Foto: Reprodução) O caso O crime aconteceu na noite de uma quarta-feira no dia 20 de setembro de 2018. Márcio Pérez estava estacionando o próprio carro na porta de casa, acompanhado de uma mulher, quando foi surpreendido por uma viatura da 58ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Cosme de Farias). Segundo testemunhas, era por volta de 23h e a viatura estava apagada.>
Os vizinhos da vítima contaram que o empresário se assustou e saiu com o carro, mas foi perseguido e baleado na nuca pelos militares. Depois de ser atingido, o consultor perdeu o controle do veículo, subiu o canteiro e atingiu uma árvore. A mulher que estava com ele não ficou ferida.>
Os policiais não explicaram o que estavam fazendo em Armação, 10 km distante da área em que eles atuam, Cosme de Farias. Também não ficou claro por que a viatura estava com as luzes apagadas e por que só havia dois PMs dentro do veículo, quando a ronda é sempre feita com três militares.>
O advogado de defesa dos policiais, Dinoermeson Tiago, afirma que ambos estavam à serviço da coordenação da área do momento e que “não saíram em hipótese alguma da área de atuação” porque Imbuí fazia parte da ação que eles foram alocados na data.>
Perez era formado em Economia e sócio de uma empresa que presta consultoria a uma operadora de telefonia. Os pais dele são espanhóis, mas viveram por alguns anos no Brasil, por isso, o empresário tinha naturalidade espanhola.>
O pai e a mãe retornaram para a Espanha, mas Márcio resolveu permanecer no Brasil. A família era natural da cidade de Ponte Caldelas, onde o corpo do empresário foi enterrado. Márcio era filho único e deixa duas filhas.>