Líder de infectados: Brotas tem aumento de 203% nos casos de covid-19 em uma semana

Bairro passou a Pituba com 250 novos diagnósticos

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  • Bruno Wendel

Publicado em 5 de junho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO
Foram registrados 250 novos casos no bairro – um crescimento de 203% por Tiago Caldas/CORREIO

Largo da Cruz da Redenção, quinta-feira (4). O relógio marcava 11h30. Em frente a uma lotérica, a fila crescia à medida que o risco de contagio seguia na mesma proporção. Mesmo tendo passado por sete dias de medidas restritivas para conter o avanço do novo coronavírus, Brotas volta a registrar aglomerações e isso já refletiu no bairro. Atualmente, a região é a campeã de infectados pela doença em Salvador, com um salto de 250 novos casos – um crescimento de 203% - em apenas uma semana.  

No penúltimo boletim da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), divulgado no dia 27 de maio, o bairro aparecia em segundo lugar, com 123 casos, e a Pituba na primeira posição, com 136.  Agora, no levantamento mais recente, que contabilizou dados até o último dia 2, o jogo virou: Brotas ocupa a liderança com 373 infectados. Já a Pituba segue na segunda posição, contabilizando 366 confirmações da doença. 

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Ainda conforme a SMS, os bairros de Pernambués, Liberdade e São Marcos dispararam em números de contaminados. No dia 27 de maio, Pernambués aparecia com 98 diagnósticos. Agora, já tem 269. A Liberdade estava com 95 e pulou para 237. São Marcos, por sua vez, foi de 78 para 230. Veja o top 10 acima. 

Mais populoso Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IGBE), em 2010, Brotas era o bairro mais populoso de Salvador, com 70.158 habitantes. Desses, 5.821 eram idosos de 65 anos ou mais de idade, o que representava 8,3% da população total. A renda média das pessoas, em valores da época, era R$ 1.419, o que representava a 22ª mais alta entre os 163 bairros da capital.

O CORREIO procurou saber dos moradores do local a que atribuem esse aumento de infectados pela covid-19. O agente de portaria Fábio Ricardo Rocha, 49 anos, apontou para o problema do desemprego. “Brotas é um bairro muito populoso e as pessoas estão sem renda por causa da pandemia. Muitos pais de família perderam seus empregos e estão nas filas das lotéricas e das agências da Caixa Econômica Federal atrás do auxílio emergencial e isso acaba ocasionando aglomerações. Conheço várias pessoas nesse dilema. Em outros casos, tem gente que sai de casa porque vai em busca de um bico, já que está sem emprego. Tem gente que fica parado na porta dos mercados para carregar compras, por exemplo”, disse ele, que teme novas restrições. 

Morador do Condomínio Bosque Tropical, o administrador Jonas Amorim de Lima, 56 anos, afirmou que, além das aglomerações em frente às lotéricas e bancos, o bairro tem uma população jovem e esse público não estaria cumprindo algumas medidas de precaução. 

“Essa turma vem promovendo festas, encontros com cinco, seis, dez pessoas. O bairro sempre teve uma noite movimentada. Pessoas de outros bairros vinham para cá. Alguns comércios amanheciam o dia atendendo clientes e isso atraía jovens de todos os cantos. Como os bares não podem abrir, os encontros estão sendo dentro das casas. Outra coisa: jovens estão indo para casa de outros jovens para malhar. Ou seja, estão circulando entre si e levado e trazendo o risco para suas casas”. 

Ele pontuou também a tradicional fila para atendimento no Hospital Aristides Maltez, unidade filantrópica destinada ao tratamento de pacientes com câncer. “Mesmo com a pandemia, as pessoas amanhecem na fila em busca de atendimento. Alguns até sem máscaras”, revelou.

Já o feirante Osvaldo Santos de Jesus, 56, disse que a falta de distanciamento social é algo pontual. “Vejo lugares com mais gente circulando do que aqui. Cajazeiras e Liberdade são exemplos. Se for lá agora, o bicho tá pagando de gente na rua”. 

Entretanto, ele fez uma ponderação sobre a explicação do número alto. Para o feirante, alguns casos estão relacionados ao fato de pessoas terem sido contaminadas fora do bairro. Ele citou o exemplo de uma irmã, infectada quando trabalhava na Barra. “Ela tomava todos os cuidados na casa dela. Só saía para a casa da patroa, no Morro do Gato, onde é empregada doméstica. Lá, a família estava toda infectada e ela acabou se contaminando, e veio buscar atendimento nas unidades médicas de Brotas”, justificou. 

Pituba O CORREIO também conversou com pessoas que frequentam a Pituba ou moram por lá para saber como anda o comportamento da população. “A Pituba vem agido de outra forma. Por ter sido o bairro que liderou por muito tempo o número de casos, as pessoas estão sendo mais cuidadosas. Tomaram o susto e não querem outra medida restritiva. Enquanto nos outros bairros, as pessoas adotaram as cautelas iniciais, mas agora estão começando a flexibilizar as medidas”, avaliou o advogado Wilson Feitosa, que trabalha no bairro. 

“Tenho observado em outros bairros um relaxamento da cautela das pessoas, estão voltando a andar muito cedo pela rua, esquecendo de botar as máscaras, só colocando em locais em que o uso é obrigatório como nos supermercados”, acrescentou. 

Há 20 anos, Suzana Alves, 44, reside e trabalha na Pituba. Dona de um salão de beleza, ela achou que as pessoas estão um pouco mais conscientes dos riscos e desejam que os números diminuam daqui para frente.

“O fechamento do comércio foi necessário para a redução, mas estamos nos esforçando para não ter outra restrição como a primeira.  Vejo que as pessoas estão bastante conscientes, só saem de casa quando realmente precisam e se mantém distantes umas das outras. Os poucos estabelecimentos em funcionamentos estão adotando todas as medidas de segurança, como aferição de temperatura, disponibilização de álcool em gel, higienização de objetos”, explicou.