Lockdown parcial: turistas vêm a Salvador para conhecer praias, mas ficam presos em hotéis

Visitantes não puderam conhecer alguns pontos turísticos e contam os motivos de terem vindo para a capital no pior momento da pandemia

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Santana
  • Fernanda Santana

Publicado em 1 de março de 2021 às 06:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil

Se pudessem, os três amigos estariam na praia. Ou até num passeio ao ar-livre, a descobrir ruas, paisagens e as belezas da cidade. Só não imaginavam que passariam o final de semana quase restritos aos limites do hotel, na Barra, em Salvador. E que, sem praia, restaria mergulhar na piscina para refrescar o calor. “Quando chegamos aqui, estranhamos logo”, contou a professora e estudante de psicologia carioca, Kevelyn Abreu Figueiredo, 23 anos. Esperavam uma Salvador, mas conheceram outra - mais silenciosa e vazia.  Turistas do Rio de Janeiro tiveram que repensar planos de turismo em Salvador (Foto: Acervo Pessoal) O trio chegou à capital baiana no último sábado (27), primeiro dia do final de semana com restrições impostas pelo lockdown parcial, e se deparou com bares e restaurantes fechados, toque de recolher e praias bloqueadas. Antes de desembarcarem aqui, pensaram em cancelar a viagem, mas, como tudo estava programado desde novembro do ano passado e sentiriam os custos do prejuízo, mantiveram a vinda.“Pelo menos tem uma piscina,  já dá para se refrescar. Torcemos para conhecer um pouco da cidade, se divertir um pouco”, falou a turista. Ela e os amigos, Wellington, também carioca, e Gabriel, paulista, conseguiram conhecer apenas o Pelourinho, o Elevador Lacerda e os gradis da Basílica do Senhor do Bonfim, já que o templo estava fechado. O Governo da Bahia decidiu, neste domingo, prorrogar o decreto do lockdown até a próxima quarta-feira (3), quando Kevelyn e os amigos deixam a cidade. A ocupação dos leitos de UTI ficou em 85% na capital baiana, no final de semana. A estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis é que a ocupação nos 120 hotéis associados tenha ficado em 40%, entre o sábado e o domingo, em Salvador. Sem a pandemia, estimou Luciano Lopes, presidente da Associação, “seguramente seria algo em torno de 70 a 75%”. “Muitas pessoas não vieram, por conta dos decretos, mas ainda não temos uma estimativa numérica de pessoas”, afirmou..

A recomendação, acrescentou Luciano, tem sido que hotéis negociem com aqueles clientes que quiserem adiar a reserva, “buscando entender que é um momento difícil e que buscar um consenso é bom para todos”.Readequação Quando desembarcou em Salvador, na última terça, Shirlayne Thaise, 21, trazia de Recife, sua cidade natal, uma listinha com lugares que queria conhecer. Entre eles, o Porto da Barra e o Museu de Arte Moderna (MAM). No fim, ela e duas amigas viram o mar e o museu apenas à distância. As três conheceram Salvador só até a borda e buscaram formas de, ainda assim, aproveitar a cidade a fundo. 

“Tentamos fazer de uma forma tranquila. Fomos ao Pelourinho, passeamos, conhecemos o Farol da Barra, vimos o MAM de mais longe, mas já deu para ver que é um lugar lindíssimo”, disse a empreendedora. As três chegaram a ver os tapumes serem colocados para tapar as praias. “A gente foi adequando os horários, saindo à tarde e voltando no início da noite, para conseguir aproveitar alguma coisa”, completou. Amigas de Recife não conheceram os pontos turísticos que planejavam (Foto: Acervo Pessoal) A viagem estava programa desde novembro do ano passado, como parte da restituição de uma viagem à Europa que Shirlayne e as amigas fariam, mas que foi cancelada, devido à pandemia. Elas voltaram para Recife na tarde de sábado. A guia de Turismo Silvana Rós contou que, diante das restrições, os 35 passeios agendados por ela foram cancelados pelos turistas. "Certamente ficaram no hotéis, porque eu teria trabalho sexta, sábado e domingo", afirmou. Nesta semana, a depender das novas restrições, ela pensará formas de readequar a programação, com passeios guiados em áreas abertas, por exemplo, ou city tour - ida aos principais pontos turístico da cidade. Quem está em Salvador, sem sequer ter cogitado cancelar a viagem, apostou mesmo numa readequação. Assim que chegaram na capital, vindas de Porto Alegre, na madrugada da última sexta (26), Giovana Bopp, 29, e uma amiga decidiram não ter qualquer expectativa. O que viesse seria uma surpresa. E, segundo ela, as duas "estão encantadas com a cidade". Os jantares são feitos dentro do próprio hotel, pedidos via algum serviço de delivery. A orla, elas conheceram dentro do carro de um motorista de aplicativo.  Mas, conseguiram conhecer o Pelourinho e a Barra, onde estão hospedadas, como estava nos planos. Elas pensam em retornar, quando a pandemia for controlada e as experiências não estiverem restritas. "Estamos curtindo mesmo com a função. A gente comprou as passagens há duas semanas e decidimos vir mesmo assim, porque tínhamos saído de férias e queríamos curtir de alguma forma. Não quisemos cancelar", disse a analista de importação, que pretende seguir viagem para Morro de São Paulo nesta segunda.Indecisão à vista Enquanto uns sonham em conhecer a Europa, conta Maria Júlia Carvalho, 34, o desejo dela era desvendar o Pelourinho. Ela e a prima se planejavam desde o ano passado, “com muita ralação para poder realizar este sonho de uma vida”, para conhecerem a cidade. “Mas acabou se transformando tipo num pesadelo. A gente já está com tudo fechado, mas também não estamos tendo como cancelar”, contou a assistente jurídica. A viagem, de quatro dias, está agendada para começar no dia 5 de março.

Hoje, Maria acha que ela e a prima “contaram com a sorte”. A essa altura, esperavam que estivessem vacinadas contra a Covid-19. Mas nunca pensaram que a viagem coincidiria com o momento mais grave da pandemia na Bahia."Eu já tive coronavírus, perdi o olfato na época, então fico preocupada, com medo da doença. Mas não sabemos o que fazer, porque só podemos cancelar se a cidade não puder nos receber”, falou ela. Os turistas podem remarcar ou pedir reembolso de passagens aéreas e de hospedagem, como prevê a Lei 14.034, aprovada em agosto do ano passado e prorrogada para o fim de outubro de 2021. Para isso, é preciso que as restrições impeçam atividades turísticas, o governo local proíba a entrada de visitantes ou a companhia aérea cancele o voo. 

Se a opção for pelo cancelamento, o consumidor precisará checar as condições do contrato da compra ou da hospedagem. A empresa pode oferecer reembolso parcial ou possibilidade de remarcação, num prazo de 12 meses. 

As empresas têm tentado flexibilizar e chegar a um consenso, segundo Luciano Lopes, da Abih. “No final, litígio não é bom para nenhuma das partes”, disse. Isso porque o trade turístico quer manter aceso o desejo da visita, não afastar, para sempre, um possível turista.

Quer cancelar ou manter sua viagem? 3 informações para se ter em mente •    Se seu voo estiver confirmado, olhe as clausulas do contrato, tire dúvidas com a empresa e entre em contato com a empresa onde você fez a compra ou a reserva; •    Se seu voo for cancelado, você pode solicitar o valor em crédito para futuras compras ou aguardar até 12 meses pelo reembolso integral; •    Se não quiser fazer uma nova viagem ou desejar remarcar no futuro, espere uma semana antes do voo para conferir se a companhia aérea cancelará o voo ou fará uma alteração. Se isso acontecer, você poderá solicitar o reembolso integral ou alterar o bilhete sem pagar taxas adicionais.