Maldição eterna? Existe solução para o problema do chumbo em Santo Amaro?

Médicos e químicos explicam ao CORREIO como a contaminação por chumbo pode ser amenizada em Santo Amaro

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 6 de outubro de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

Ao longo das décadas, após dezenas de estudos realizados por especialistas, algumas soluções foram apontadas para os problemas causados pelo chumbo em Santo Amaro. Em 2004, um proposta que ganhou força era encapsular as 500 mil toneladas de escória deixadas para trás pela Cobrac e fazer sua remoção física. Uma solução cara, já que todo o subsolo da cidade foi contaminado quando gestões municipais usaram o material para pavimentar as ruas. 

“Era um processo de milhões de dólares. Eu disse ao prefeito da época que isso era uma utopia, porque é humanamente impossível se remover todo o subsolo da cidade para fazer uma nova pavimentação. Acho mais fácil e mais barato se criar uma nova cidade sem poluição em outro lugar”, ironizou Fernando Carvalho, PHD em Saúde Ambiental, Poluição por Metais Pesados e Contaminação Hídrica-aérea, que realiza estudos sobre o caso de Santo Amaro há mais de 30 anos. Escória de chumbo nas ruas de Santo AmaroFoto: Arisson Marinho/CORREIO Em determinado momento, se criou um método com a ajuda de uma empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari. Um estoque de 150 mil litros de ácido clorídrico seria transportado em caminhões pipa pela BR-324 e seria usado para “atacar” a escória em Santo Amaro, com toda a população dentro da cidade. Voltaram atrás. “Em 2008 isso foi aprovado goela abaixo e a gente recorreu, porque isso seria um crime ambiental. Fizemos um parecer, que foi lido e eles ficaram com a batata na mão. Mesmo assim, o parecer foi aprovado, mas a empresa desistiu”, lembra Fernando.

Bióloga do Cimatec, Kátia Góes Macedo de Oliveira, que coordenou a análise da amostra recolhida pelo CORREIO e que comprovou a existência de altos índices de chumbo no subsolo do município, disse que a remoção física voltou a ser cogitada recentemente. Ela cita também a possibilidade da fitorremediação, mas ambas seriam bem difíceis. 

“A remoção física é a única possível. Mas, o chumbo está em toda a cidade. No entorno da indústria você pode até fazer o que se chama de fitorremediação, ou seja, colocar umas plantas. Mas, o que fazer com as escórias de chumbo e de cádmio que estão nos quintais das casas, na pavimentação e no Rio Subaé?. A única solução é a remoção física. E isso custa muito porque vai mexer com a vida das pessoas”, afirma. Portões fechados da PlumbumFoto: Arisson Marinho/CORREIO Mais recentemente ainda, a chamada biodegradação com microorganismos foi cogitada, mas seria necessário que fosse um metal “biodisponível”, o que não é o caso de metais pesados como chumbo e cádmio. “Seriam necessários muitos microorganismos. E isso é muito custoso também”. Qual a solução então? “Olha, é uma situação que eu vejo quase sem solução”.  

De todo modo, independente da destinação que pode ser dada ao chumbo, a criação de um centro de tratamento para os doentes, já previsto no Protocolo de Vigilância e Atenção à Saúde da População Exposta a Chumbo, Cádmio, Cobre e Zinco em Santo Amaro, é visto pelos especialista como algo urgente há anos. “A saúde das pessoas tem que ser preservada. Isso é prioridade”, afirma Fernando Carvalho.