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Mar de esgoto: banhistas ignoram sujeira e vão a praias impróprias em Salvador

Banho de mar entre o Rio Vermelho e o Farol da Barra não é recomendado até às 6h desta quarta-feira (9)

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 9 de março de 2022 às 05:15

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Wendel de Novais/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Entre o Rio Vermelho e o Farol da Barra, das 18h da última segunda- feira (7) até às 6h desta quarta (9), o mar não esteve para banho. É que, segundo informações da Embasa, por conta de uma obra da Coelba, a estação de condicionamento prévio de esgoto (ECP) do Lucaia, na Vasco da Gama, teve o funcionamento interrompido. 

A parada gerou um extravasamento de efluentes no emissário do Rio Vermelho das 18h de segunda até às 6h da terça-feira, quando o fornecimento de energia voltou e o funcionamento da estação também. Pela liberação dessa matéria orgânica, as praias do bairro até o Farol da Barra ficaram impróprias. No entanto, não afugentaram os soteropolitanos que foram ao mar com o risco de contaminação. Pior: a maioria daqueles que foram ouvidos pelo CORREIO nem sabia desse risco.

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Desavisados

Houve movimento na Praia da Paciência e na Praia do Farol da Barra, duas das mais movimentadas da cidade. Os banhistas ouvidos pela reportagem afirmaram não saber da falta de balneabilidade. Caso da jornalista Mariana Mantovani, 34 anos, que é moradora do Rio Vermelho e foi tomar um banho de mar na Paciência.

Ela só descobriu a condição imprópria da praia quando estava chegando no local, ao conversar com a reportagem. "Eu não sabia disso! Vim pra tomar um banho no horário de almoço, mas vou reavaliar minha decisão. Não vou encarar de jeito nenhum. Uma pena porque não vi relatórios de balneabilidade, a Embasa cortou meu barato", lamenta ela.

No Farol da Barra, o movimento foi maior. Ao contrário de um cenário vazio pela falta de balneabilidade da praia, o que se viu foi um dia como outro qualquer de praia movimentada. Uma soteropolitana, que não quis se identificar, já tinha passado a manhã toda na água quando soube do problema pela reportagem.

“Eu já estou de saída. Até ia ficar mais um pouco, mas não vou entrar na água mais não. A gente não fazia ideia que estava assim, não vimos nada sobre. Pior que já tomei banho desde cedo”, comenta ela, já preocupada com os riscos do banho. Soteropolitanos se arriscaram no mar do Farol da Barra (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Risco para pescadores

De acordo com a Embasa, técnicos da empresa, em parceria com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), estão colocando em prática medidas para minimizar o impacto causado pela parada da ECP. 

Estão sendo aplicados remediadores biológicos para amenizar o odor causado pelo extravasamento de efluente e melhorar a qualidade da água do rio, assim como a instalação de redes retentoras de sólidos no encontro do rio com a praia do Rio Vermelho.

Porém, a remediação não reduz o medo de quem, de um jeito ou de outro, precisa colocar o pé na água para garantir o sustento. Os pescadores da região do Rio Vermelho foram trabalhar preocupados porque, apesar de não afetar os peixes que são pescados em alto mar, o extravasamento coloca em risco a saúde deles.

"É um risco grande porque a gente fica no medo de pegar bactéria, uma coceira ou outra doença. O povo chega aqui, diz que não podemos entrar, mas a gente nem tem escolha. Se não vou, não tenho renda”, reclama Bernardo Oliveira Teles, 47, que pesca há 20 anos. Bernardo (da esquerda) e Alex Sandro (da direita) estavam com medo de contaminação (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Pescador desde os 17 anos, Alex Sandro Freitas, 44, endossou a fala do colega sobre a situação dos pescadores. "No nosso pescado, não tem nada. Mas, pra gente, é ruim demais. Olhe bem, a gente tem que pôr o pé na água pra colocar o barco no mar. E não dá pra parar um dia ou dois porque temos que colocar comida em casa", declara.

Fauna marítima

Apesar do risco para as pessoas, ao contrário do que se pode pensar, o impacto para a fauna marítima não é certo. Segundo Francisco Kelmo, biólogo e diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), existem três possibilidades: prejuízo para a fauna, benefício para os animais ou nenhum dos dois. “É possível que promova um enriquecimento de nutrientes na região, fazendo com que os animais comam e cresçam mais. Outra possibilidade é um prejuízo à saúde do animal, que pode parar de crescer ou reproduzir. E pode ser que o efluente não afete de jeito nenhum”, explica o biólogo.Ainda de acordo com Kelmo, só dá para saber a resposta marítima ao extravasamento através de coleta de amostras da água e análise em laboratório. “Só com as amostras analisadas é possível dizer o impacto do extravasamento. E esse processo é importante porque a praia é patrimônio público e tem que se garantir a balneabilidade dela”, ressalta.

Desde o início de fevereiro, técnicos do laboratório central da Embasa têm coletado amostras de água do mar em pontos da faixa de praias que vai do Rio Vermelho ao Farol da Barra para monitorar a qualidade da água do mar antes da parada. 

A partir da última segunda-feira, as coletas e análises laboratoriais passaram a ser diárias e só deixarão de acontecer quando os resultados das análises forem iguais aos verificados antes da parada da ECP.  O Inema foi procurado para falar sobre o caso e como acompanha a coleta e a análise, mas não retornou até o fechamento desta reportagem.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro