Marco Luque estreia stand up na Netflix e fala sobre o humor: 'age como vaselina'

Visto por cerca de 300 mil pessoas, o espetáculo Tamo Junto! estreia quinta (15), no serviço de streaming

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  • Laura Fernades

Publicado em 10 de junho de 2017 às 06:10

- Atualizado há um ano

Ao atender o telefone, depois de uma maratona de entrevistas sobre sua stand up comedy Tamo Junto!, que estreia quinta (15), na Netflix, o ator paulista Marco Luque, 43 anos, despeja uma dose de sinceridade em entrevista ao CORREIO. “Pois é, acabei de falar um tempão na rádio. Falei várias coisas e deu até vontade de pedir para todos os jornalistas escutarem a entrevista de uma vez, para poupar trabalho”, brinca, rindo.

Em turnê desde 2009 com o espetáculo Tamo Junto!, que já foi visto por cerca de 300 mil pessoas e que agora chega à Netflix, Marco avisa que o gênero teatral tem regras básicas: não pode ter cenário, figurino, nem personagens. Ou seja, o público vai ver o famoso “humor cara limpa” no serviço de streaming.Com lugar cativo no Altas Horas, o humorista paulista Marco Luque leva stand up comedy para a Netflix (Gustavo Arrais/Divulgação)“Quem já der o play com os personagens na cabeça vai se surpreender, porque nos primeiros 15 minutos as pessoas já embarcam na onda e esquecem que não tem personagem”, garante Marco. Revelado pelo CQC, o humorista faz sucesso na pele de personagens como Mary Help, Mustafary e Jackson Faive, apresentados no programa Altas Horas, da Globo/TV Bahia, e em seu canal do YouTube, Marco Luque TV, que conta com quase 1 milhão de inscritos.

Gravado em novembro do ano passado, durante apresentação no Teatro Santander, em São Paulo, Tamo Junto! vai ficar disponível para mais de 100 milhões de pessoas, em mais de 190 países. Diante do alcance da nova plataforma de divulgação da stand up, Marco não esconde o entusiasmo.

“Estou muito empolgado, vai ser um marco na minha carreira”, comemora o humorista que vai estrear dois filmes esse ano: O Homem Perfeito, de Marcus Baldini, e Talvez Uma História de Amor, de Rodrigo Bernardo. “Acredito que vou atingir cada vez mais pessoas, dar uma agulhada de ânimo e de alegria no coração delas. É muito importante pra mim e pra minha contribuição para a sociedade”, completa.

BarreiraSituações vividas no cotidiano alimentam o conteúdo de Tamo Junto!, espetáculo dirigido por Caio Cobra no qual Marco Luque passeia com humor por temas como a diferença entre homens e mulheres e o convívio com os animais domésticos. Além disso, o humorista não esconde sua opinião sobre ter cabelo grande, algo que sempre desejou, mas que nunca teve apoio da avó que dizia: “corta esse cabelo ruim, meu filho”.

Marco conta que o formato do seu espetáculo, em si, não traz surpresa nenhuma, mas o diferencial está no seu estilo próprio, na sua performance que não se prende apenas ao texto. “Tenho muita expressão corporal, já fui palhaço, faço beatbox, é meio um catadão geral”, resume o artista.

O trailer de Tamo Junto! dá uma pista do que o público pode esperar. “Um dia eu pensei: ‘meu cachorro me ama mais do que a minha esposa’. Fiz a prova: tranquei os dois no porta-malas e deixei meia hora lá. Quando abri, adivinha quem ficou feliz em me ver?”, pergunta Marco, tendo a gargalhada da plateia em resposta.

A palavra é ferramenta central em seu espetáculo, porém Marco acredita que a barreira da língua não vai atrapalhar o alcance da sua performance. “As pessoas de outras línguas vão ter que se segurar na legenda, mas os temas são muito gerais - comportamento, relacionamento - e minha abordagem é muito universal, pessoas do mundo inteiro vão se divertir”, garante.Mary Help é uma das famosas personagens que Marco Luque (Reinaldo Marques/TV Globo) PalhaçoO que algumas pessoas não sabem é que antes de fazer sucesso no humor, Marco Luque tentou   ser  jogador de futebol. A carreira não deu certo, então trabalhou como garçom para pagar a faculdade, até virar monitor de acampamento e descobrir uma veia cômica na hora de explicar as brincadeiras. Percebendo a potência, virou palhaço - “que pagava cachê duas vezes maior que garçom” - e ali tudo começou.

Aliás, ali se confirmou a aptidão que marcou a infância do garoto que viu no humor uma forma de vencer a timidez. Ainda pequeno, Marco era a grande atração da escola, com espaço cativo no final de cada aula para apresentar suas imitações para os colegas.

Hoje, o artista  arranca risos de quem o vê na pele de personagens como o motoboy Jackson Five, a diarista Mary Help, o Ed Nerd e o “bicho grilo” Mustafary. A inspiração do último “veio da Baêa!”, diz Marco, ao telefone, com o sotaque marcado pelas vogais bem pronunciadas.

Apesar de algumas vezes reforçar o estereótipo do baiano preguiçoso, Mustafary reflete o jeito de falar da Bahia com leveza e bom humor. “Passei um ano na Baêa, pai”, continua, imitando Mustafary. “Lá em Morro de São Paulo. Emendei com o Carnaval, esqueci de voltar e tererê. Rapaaaz...”, brinca o humorista, com a pronúncia impecável. Ao ouvir o elogio, Marco agradece: “valeu sérumaninha conectada!”.

VaselinaQuestionado sobre o limite do humor, Marco não hesita em dizer que não concorda com quem se esconde nisso para ofender. “Acho que esses caras não duram”, opina. Em exemplo recente, o humorista Danilo Gentili publicou um vídeo no qual aparece rasgando e colocando dentro da calça a notificação extrajudicial enviada pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que pedia para ele apagar as publicações sobre a deputada e sua filha.

“O limite do humor está em cada um. A pessoa vai até onde acha que deve ir e sofre as consequências de onde for. Cada um tem um estilo de humor e é importante que existam diferentes estilos, é um mercado muito grande. Não tenho esse estilo, mas não condeno quem tem”, opina Marco.

Para além das ofensas, o artista ressalta que o humor serve de aliado para abordar temas sérios e fazer críticas. “Acho que o humor age como uma vaselina na cabeça das pessoas. Com humor, a pessoa se abre e se permite prestar atenção no que você está falando. É legal também mandar uma mensagem, dar uma cutucada“, provoca.