Mateus Aleluia lança disco e museu virtual sobre nações do candomblé

Afrocanto das Nações – Jêje mostra as aproximações entre os cantos para os orixás no Benin e na Bahia

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 30 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paola Alfamar

A herança afromusical brasileira precisa ser valorizada, dscoberta e difundida. Esse é o norte do cantor e compositor Mateus Aleluia em seu novo álbum, Afrocanto das Nações - Jêje, que será lançado nesta terça-feira (30), às 18h, nas plataformas digitais. O trabalho é resultado de pesquisa feita no Benin e Brasil, e também terá um museu virtual mostrando os registros feitos por ele e pela diretora artística Tenille Bezerra durante o processo.

“Estou me impondo e me dando vida com o início do desenrolar deste projeto que permitiu um processo de pesquisa etnomusical no Benin e no Brasil, para revelar os enlaces e conexões dos cantos dos nkisis, voduns e orixás, em sua terra de origem no continente africano e na Bahia”, explica Mateus Aleluia. 

A primeira etapa do trabalho foi realizada de maneira remota, focado nas contribuições poético-musicais dos povos africanos das etnias fon/ewe /ashanti, do antigo Reino de Daomé, atual Benin. Os trabalhos foram iniciados nas cidades de Ouidá, Porto Novo, Dassa Zoumé e Savalu, no país africano, e pelas casas de Candomblé Jêje em Salvador e Cachoeira.

Essas ligações entre Bahia e África são o grande trunfo desse projeto, ançado pelo Natura Musical em plataformas como Spotify, Deezer e iTunes. O museu virtual, que também conta com patrocínio do Governo do Estado, ficará disponível no site., que traz entrevistas, fotografias, vídeos e textos. Entre o material está, por exemplo, o registro dos cantos para os voduns e as entrevistas com sacerdotes e líderes de culto. 

"São essas conexões, que me permito reatar em um processo que resultou em músicas inéditas, mas também em um museu virtual com conteúdo em diversas linguagens que traduzem o que foi vivenciado”, contou Mateus.

Além das Fronteiras

Para Tenille Bezerra, o projeto é como se fosse uma bússola e dá margem para aprendizados que ultrapassam fronteiras. "Nessa primeira edição miramos o Benin, Cachoeira e Salvador para registrar e conhecer os cantos para os Voduns, divindades da nação de candomblé conhecida como Jêje aqui no Brasil", disse. Tenille Bezerra assina a produção musical juntamente a Seu Mateus (Foto: Paola Alfamar)

Com todo esse plano de fundo dando sustentação ao disco, o baiano de Cachoeira dá mais um passo em sua luta antirracista, que alia música e muita pesquisa desde os tempos dos Tincoãs - trio considerado pioneiro em trazer à Música Popular Brasileira, de forma consistente, o universo poético do candomblé e da umbanda. 

O grande trunfo da vez é a ênfase dada por Mateus Aleluia nesse processo que mistura diversas linguagens artísticas: música, fotografia e audiovisual. Além disso, segundo Aleluia, os procedimentos etnográficos da obra contribuem “de forma significativa para o entendimento dos contornos identitários do povo brasileiro a partir das culturas advindas da diáspora africana”. 

Carreira e história

 Aos 77 anos, Seu Mateus - como é chamado em forma de reverência - ainda tem olhar vivo e curiosidade de menino. Por isso, está sempre pesquisando, experimentando e inventando coisas. A Bahia continua sendo um ponto de partida fundamental para o laboratório de sua vida. É dela que partem as perguntas e as buscas por conexões, que aparecem, mais uma vez, em seu novo álbum. Como ele mesmo costuma dizer, a presença da África na Bahia é muito marcante e, segundo ele, há, por exemplo, nos nossos terreiros de candomblé, coisas que já não existem mais sequer na própria África.

Premiado pelos seus últimos trabalhos lançados,  em 2018 ele teve o seu álbum Fogueira Doce apontado como um dos melhores  do ano. Em 2020, comemorou 50 anos de carreira musical, tomando como referência o começo nos Tincoãs. E lançou o  belo álbum Olorum (Selo Sesc), no qual, pela primeira vez, juntou bateria e guitarra à sonoridade acústica do violão e percussão que marcam seus trabalhos. A produção foi assinada pelo músico  paulista Ronaldo Evangelista. 

Além disso, estrelou o documentário Aleluia - O Canto Infinito do Tincoã, com direção de Tenille Bezerra e produzido ao longo de seis anos. 

Desde sempre, sua carreira de músico é aliada à pesquisa cultural e isso faz com que Seu Mateus tenha a peculiaridade da sua expressão artística tão reconhecida. Em Angola, onde viveu por 20 anos, ele seguiu desenvolvendo, através do Ministério da Cultura local, o trabalho de pesquisador cultural, tendo desta forma conhecido e aprofundado os seus estudos em diversas províncias.