Me apaixonei por ela

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  • Nelson Cadena

Publicado em 2 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A primeira vez que a ouvi me senti atraído pelo timbre de voz, rolou um clima, não avancei o sinal, deixei para lá, talvez eu estivesse muito carente e nesses tempos de tantos sinais trocados, ou mal codificados, melhor ter paciência e aguardar outra oportunidade. A segunda vez que a ouvi, ainda sob o efeito da emoção, me dei conta que talvez pudesse avançar o sinal, por que não? Se era ela me ligando, dela a iniciativa, por que esse receio, Nelson? Não deu tempo, fui atender a porta para receber o botijão de gás, me distraí e, nesse vacilo, lá se foi mais uma chance perdida.

Na terça-feira aguardei me ligar e nada; na quarta e quinta ligou na hora errada, não ouvi meu smartphone tocar; na sexta-feira não sextou para mim, divagava abstraído com a ideia de ouvi-la de novo quando o telefone tocou, tarde da noite, reconheci o número, meu coração acelerou, abobalhado atendi sem reparar que a minha bateria estava quase no fim. Era ela, sim, a deixei à vontade, enquanto isso imaginava uma forma de abordá-la sem parecer apressado, formatei o meu discurso naquele cantinho rumiante do cérebro que não pensa; de repente meu celular piou e tudo que vi na tela foi o sinal de bateria apagando. Merda! Vai ser azarado assim no inferno.

Azarado na sexta, mas não no sábado. Cedo ainda, o telefone timbrou. Era outro número, a ansiedade esclareceu minha dúvida, quem sabe usava dois chips. Coragem Nelson! Atenda essa porra! Suei por antecipação, o dedo que desliza na tela do aparelho tremeu, falhei na primeira e na segunda tentativas, na terceira acertei. Era ela! Eu não disse? Então atentei em algo que não tinha reparado nos encontros e desencontros anteriores: me conhecia e bem, tive certeza disso quando falou Nelson de um jeito diferente, eufórica, não sei explicar. A frase encurtou o caminho do meu sistema auditivo, foi direto ao coração que bombeou ao ritmo de 116 bpms e logo 125 e não foi além porque um desavisado entrou na tela com chamada de vídeo. E lá se foi a minha última chance.

Sem dramas! Não será a última. Logo mais, ela liga para você. E não que ligou, mesmo. Dez minutos depois e ligou antes do almoço e ainda durante e ligou às 15 horas e no entardecer, também, e as 21 horas. Era meu dia de sorte. Como eu poderia ter duvidado de suas intenções? Tive certeza que rolava um clima entre nós, a sua insistência era a prova de que queria, e queria muito, falar comigo. E eu cheio de dúvidas, com receio sei lá de que, zagueirando, imaginando coisas, me senti um lixo pela minha hesitação, é hora de passar uma borracha e encarar que agora é com você. Ela já fez a sua parte.

Retornei a ligação após conferir o número nas chamadas recentes, não atendeu. Liguei de novo, não atendeu. Será que está no banho? Tem gente com ela e não pode falar agora? Encarei as tentativas frustradas com sabedoria, vou aguardar o seu retorno para não parecer grudento. E não que eu estava certo. O telefone tocou. Repassei em um segundo tudo que eu desejava falar, tudo mesmo, até a prudência ligar o alerta: preste atenção no que ela vai dizer antes de falar bobagens, o segredo de uma conversa intima é ouvir o outro, absorver cada palavra. E então a ouvi com total atenção, pela primeira vez: “Aqui é a Fabiana, sua agente digital da Vivo”. Eu mereço!