Menos Malafaia e mais afeto e cuidado com os filhos; veja vídeo

Edgard Abbehusen: 'Se existe fé mais forte e mais bonita do que a fé no amor, eu desconheço'

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  • Edgard Abbehusen

Publicado em 2 de agosto de 2020 às 05:18

- Atualizado há um ano

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É bonito ver um pai participando efetivamente e afetivamente da criação dos seus filhos. Bonito, mas infelizmente isso ainda não é uma regra e é encarado como algo ‘sobrenatural’ em muitas rodas de conversa.

Pai que troca fraldas? Que assume responsabilidades domésticas? Que fica em casa cuidando dos seus filhos para a mãe trabalhar? Raridade. Faz uma matéria fofa de destaque na televisão ou em alguma capa de revista. 

É que no Brasil, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no Censo Escolar de 2011, há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento. Fora isso, ainda tem os casos dos pais que vivem sob o mesmo teto dos seus filhos, mas são um zero à esquerda em relação a muita coisa. Acha que, por ser provedor financeiro, não precisa mais nada. Nem do mínimo que qualquer filho espera de um pai: afeto. 

Eu tive a sorte de ter um pai presente. De ter um pai amigo. Mas também tive colegas que pouco sabiam dos seus pais. Ou que o pai era uma mera peça decorativa em casa. Peça decorativa que dá muito trabalho, é verdade. Meu pai faleceu em 2007 quando eu tinha 18 anos e de lá pra cá muita coisa mudou. Muitas questões foram levantadas. E eu sempre venho buscando entender e ser um pai ainda melhor do que o meu pai foi pra mim. 

Ser pai e ser mãe, hoje, vai muito além dos laços de sangue. Para ser cuidador, basta querer ser. Bastar ter no coração o amor e a vontade de dedicar afeto a quem poderia entrar para triste estatística citada acima. Então surgem as possibilidades de casais homoafetivos adotarem filhos, homens transexuais serem pais e, junto a essas possibilidades, o discurso de ódio promovido por pessoas que dizem falar em nome de Deus também reverbera. 

O Pastor Silas Malafaia é um exemplo claro desse discurso raso, vazio e tão fora de tempo. Ele não usa a sua voz eloquente para chamar os pais da sua igreja à responsabilidade. Ele não usa a sua voz para retratar a realidade de dezenas de milhares de mães solos que criam os seus filhos. Ele não usa a sua voz para uma campanha de conscientização para todos esses pais que acreditam que ser pai é ser apenas provedor. O pastor Silas Malafaia não se preocupa com as crianças que precisam de carinho, de afeto, de cuidado e de atenção. Pelo menos não é o que parece. 

Silas Malafaia quer reforçar sempre o seu preconceito. Quer sempre falar com dedo em riste para o que ele julga ser pecado. Ele quer ser o juiz. Quer condenar e crucificar. Quer usar a bíblia como escudo e a religião como palanque para os seus delírios. Foi o que ele fez recentemente contra uma campanha publicitária para o dia dos pais, quando o ator Tammy, que é um homem trans, publicou um vídeo fazendo parte dessa ação de marketing. 

Com o Pastor Silas Malafaia, a voz do preconceito ecoou pelas redes sociais e até um pedido de boicote a marca foi feito. O tiro saiu pela culatra. As ações da empresa avançaram 6,73%, um resultado super positivo no mercado financeiro. 

Pais que abandonam os seus filhos, que se recusam a pagar pensão, que jogam sobre as mães a carga de todo trabalho doméstico e que são super agressivos não incomodam o Pastor Silas Malafaia. 

O que incomoda Silas Malafaia é o amor. Se você reparar direito, não existe afeto nas palavras dele. Só rancor. Raiva. Ele fala com raiva. Ele quer ser o dono da verdade e, infelizmente, usa o nome de quem mais pregou amor e afeto para vender a imagem de defensor da família, da moral e dos bons costumes. Quer propaganda mais fake do que essa?

Mas eu espero que a mensagem que essa situação nos trouxe fique firme e forte. Não há mais espaço para os intolerantes, apesar de eles gritarem mais alto e usar um exército de robôs ao seu favor. Apesar de alguns deles ocuparem espaços de poder. Apesar de tudo e de todos esses que usam a igreja como toca.  O amor vai resistir. O amor vai permanecer e filhos serão filhos daqueles que quiserem ser pais. De quem quiser ser mãe. O afeto, o respeito, o carinho e o cuidado com o outro é o que importa agora. 

Se existe fé mais forte e mais bonita do que a fé no amor, eu desconheço. E quem duvida disso e diz acreditar no cara lá de cima, talvez não tenha entendido nada do que o seu filho falou.   

*Edgard Abbehusen é escritor, compositor, redator, baiano, criador de conteúdo afetivo e  autor de livros; Ele  publica textos exclusivos aos domingos no site do CORREIO. Acompanhe Edgard no Twitter e Instagram