Mercadinhos são 90% do varejo de alimentos de Salvador e Lauro de Freitas

Na Bahia, há 25 mil mercados de médio e pequeno porte, segundo a Abase

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  • Nilson Marinho

Publicado em 14 de julho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Ângelo Muniz administra há 18 anos um mercadinho com um dos irmãos (Foto: Betto Jr./CORREIO) Ali, no dia a dia, a dona de casa consegue quase tudo, desde o dente de alho à carne de corte nobre. Mesmo dispensando nomes de grandes franquias, eles mostram para a concorrência - os atacados e as grandes redes - a sua força. Os mercados de médio e pequeno porte representam 90% das lojas do setor de varejo de alimentos em Salvador e Lauro de Freitas (RMS), conforme levantamento da Associação Bahiana de Supermercados (Abase). Na Bahia,  são cerca de 25 mil unidades num setor que responde por 6% do PIB nacional. 

A maioria dos mercadinhos nasce em bairros periféricos e, por lá, conquista clientela fiel. Geralmente é uma empresa familiar responsável por empregar os moradores dos arredores, com capacidade de admitir, em média, até cinco funcionários.

O empresário Ângelo Muniz, 52 anos, está à frente do Mercadinho Menor Preço, na Rua Padre Luiz Figueira, no Engenho Velho de Brotas. O negócio é gerenciado por ele e por um dos seus irmãos em uma parceria que já dura 18 anos. De lá para cá, eles ganharam a confiança dos moradores que, em muitos casos, não abrem mão de comprar no estabelecimento.

Proximidade Ângelo acredita que a proximidade com a clientela é um dos fatores que contribuem para o consumidor optar por encher a sacola em um comércio do bairro e não em um supermercado das grandes redes.

“A gente conversa e ouve o cliente. Eles podem chegar no dono de maneira fácil. Eu, por exemplo, moro em uma casa que fica em cima do meu mercado, conheço quase todo mundo do bairro”, conta.

O negócio começou pequeno, em uma área com cerca de 50 metros quadrados. Com o tempo, as vendas foram crescendo e hoje os irmãos duplicaram o tamanho do mercadinho.

De acordo com o levantamento da Abase, em Salvador, cerca de 80% de todos os estabelecimentos de pequeno porte contam com um espaço que mede até 50 metros quadrados. Na Bahia, mercados de pequeno e médio porte geram 250 miL empregos diretos e 500 mil indiretos (Foto: Betto Jr./CORREIO) Empregos A maioria - 90% - dos estabelecimentos opera com até dois caixas, aponta a Abase. Por enquanto, o Menor Preço funciona apenas com um, mas o sonho do empresário, assim como dos outros, é que o quadro de funcionários aumente, bem como os lucros. 

Neidejane Ferreira, 49, já está há sete anos como caixa no local. A vantagem de trabalhar no bairro é que ela mora a 15 minutos a pé dali.

“Sem contar na segurança de ir ao trabalho sem correr o risco de ser assaltada. Também tem as pessoas que a gente já conhece há muito tempo e tem uma certa confiança”, afirma Neidejane.

Ela faz parte das 25 mil pessoas com empregos diretos gerados pelos pequenos mercados em Salvador. Em toda a Bahia, são 25 mil unidades que geram 250 mil empregos diretos e 500 mil indiretos. 

Em busca do lucro Mas, embora eles dominem o setor de varejo, o pequeno negócio nem sempre consegue fazer crescer as margens de lucro. O mercado Engenhão, também no Engenho Velho de Brotas, possui uma clientela fiel, mas que, no fechar das contas, só consegue  pagar os custos de manter o espaço de portas abertas. 

O gerente Renato Souza, 41, observa que o setor conta com um público que, geralmente, realiza suas compras do mês em um atacado, mas, no restante do mês, faz pequenas compras diariamente no mercado do bairro.

É o caso da diarista Neuza Pereira, que prefere realizar suas pequenas compras em um supermercado que fica a cerca de 200 metros da sua casa, na Rua Hélio Santana de Oliveira, em Luiz Anselmo.

“Aqui, já conhecemos os donos, a caixa, todos os outros funcionários, isso passa confiança. Deixo para comprar pequenas coisas que faltam na feira principal do mês que é feita em um estabelecimento maior”, diz. 

Renato conta ainda que gerir um pequeno negócio é como andar em corda bamba. Nem sempre os rendimentos resultam em lucro. No total, o Engenhão precisa faturar por mês R$ 50 mil - para quitar despesas como água, luz, funcionários, aluguel do espaço, novos produtos e manutenção de equipamentos. 

De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado da Bahia (Sebrae/BA), um pequeno negócio, quando bem gerido, chega a faturar, por ano, algo em torno de R$ 2 milhões. Uma realidade ainda distante para o Engenhão, segundo o gerente. 

“Não temos toda essa lucratividade. Às vezes, ganhamos mais na rotatividade do que na margem de lucro. O custo do aluguel dos pontos influencia muito, se você for reparar, a maioria do comércio trabalha em pontos alugados, sem falar nos impostos que pagamos nas mercadorias”, observa Renato. A luta pelo lucro é diária. Para o gerente Renato, mercadinhos ficam com as compras diárias (Foto: Betto Jr./CORREIO) Feiras especializadas ajudam em capacitação Para o superintendente da Associação Bahiana de Supermercados (Abase), Mauro Rocha, o faturamento de um negócio depende do local onde ele está inserido, os produtos que são oferecidos e o tipo de vizinhança que ele vai atender. Muitos quebram, pontua, por não ter acesso a uma linha de crédito, por fazer marcação de produtos de maneira incorreta e não fazer o gerenciamento de perda de produtos.

“Com certeza, se ele se capacitar, ele vai melhorar o resultado da sua loja, entendendo como o consumidor se posiciona. Existe uma tendência de mercado em hábitos de consumo, que entende como o cliente vai ativar o seu consumidor em seu ponto de venda em tempos de crise”, explica. 

É justamente para orientar esses pequenos empresários que, nos próximos dias 17 a 19 de julho, na Arena Fonte Nova, acontecerá a SuperBahia, maior feira do setor supermercadista do Norte-Nordeste do Brasil. 

Em sua nona edição, 60 expositores, atacadistas, fornecedores, distribuidores e outros segmentos de interesse do setor terão, durante os três dias, contato direto com os empresários. 

De acordo com o superintendente, essa é uma chance para o investidor estreitar laços com representantes de grandes empresas, além de buscar capacitação para gerir seu negócio. 

“A feira se tornou uma vitrine para quem quer vender. Por isso, o expositor traz lançamentos e boas condições de preço e pagamento. Já o supermercadista tem a chance de sair na frente do concorrente, ofertando produtos novos, além de se capacitar com palestras e um fórum”, afirma.   As inscrições podem ser feitas através no site www.abase-ba.org.br, pelo telefone (71) 3444-2888 ou na sede da Abase. Não é permitida a entrada de pessoas com menos de 18 anos.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier