Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Nelson Cadena
Publicado em 25 de outubro de 2019 às 11:22
- Atualizado há um ano
A prefeitura de Salvador anunciou na semana passada o início de obras do Museu da Música, uma boa notícia para os soteropolitanos pelo que representa como valor agregado: mais um espaço cultural e diferenciado para a cidade com impacto direto no turismo e na requalificação do Comércio. O museu, segundo se sabe, terá dois andares para exposição, um foyer, auditório, oficinas e espaços para ensaios (individuais e de bandas), restaurante, loja e uma luthieria para a fabricação de instrumentos, dentre outros itens de ocupação.
Pena que o prédio não tenha um histórico de sua construção, ou ocupação, em função de não ser um imóvel tombado individualmente; integra uma área tombada pelo IPHAN em 1969, do qual faz parte também o prédio dos fundos, que a Prefeitura pretende recuperar para instalar o Arquivo Público Municipal. Em levantamento feito pelo IPAC, em 1974, o sobrado já tinha sido descaracterizado, com intervenções que alteraram todo o interior do edifício e parte de sua fachada. Imóvel também é conhecido como Casa dos Azulejos Azuis (Foto: Max Haack/SecomPMS) Duas perguntas são pertinentes ao tema? Quem mandou construir e residiu no local? Ninguém sabe até hoje quem foi o proprietário e meu sentimento é que aquilo nunca foi residência e sim um imóvel comercial. Toda a vizinhança era. Quem em são juízo construiria um prédio com 60 janelas voltadas para os fundos da Alfândega, com largura entre 12 a 15 metros apenas, sem área de serviço? Naquela época, os homens ricos de Salvador não moravam mais no Comércio e sim na Vitória, no Santo Antônio, na Graça. Se fosse residência de um potentado, hoje saberíamos.
Na internet circulam já algum tempo informações inverossímeis sobre o suposto proprietário. Atribui-se a José da Silva Lisboa, Visconde do Cayru. Não faz sentido, o Visconde faleceu em 1835 e a construção é do final do século XIX. Atribui-se também ao Comendador Antônio dos Santos Coelho. Também não faz sentido. O Comendador jamais residiu na Bahia, viveu na Paraíba e no Rio de Janeiro - na capital paraibana foi chefe de polícia e no Rio delegado. O engano se deve ao fato de Santos Coelho ter morado da Casa dos Azulejos de João Pessoa.
Então, quem construíu o prédio? Esse é o desafio para os pesquisadores agora que o imóvel terá um uso qualificado. A foto mais antiga do local, do francês Camille Vedanni, 1860, em torno de três décadas antes da construção, nos revela um conjunto de casas de dois andares, e ao lado um hotel, um restaurante e outro estabelecimento que parece um bar. Essas casas foram derrubadas em 1867 para construir a Rua das Princesas, hoje Rua Portugal, esquina do prédio dos azulejos.
Em 1914, foi construída a Praça Cayru, arborizada em 1920 e, em 1934, reformada para a instalação do monumento ao Visconde do Cayru, obra do escultor Pasquale de Chirico. O prédio dos azulejos então já tinha ocupação comercial, provavelmente desde suas origens, vocacionada para os negócios portuários. Ali funcionavam a representação da linha italiana dos navios Andrea Zanchi; a linha holandesa Haven Line; escritórios diversos dos vapores Augusta; Cervino, Johshaven, Mar Blanco, Norge, Tara, Towa, e Zitella. E ainda os escritórios dos despachantes Manuel P. Azevedo, N.F. Macedo, Octavio A. Gomes, Orlando Mattos, Synd Despachos Aduaneiros, agência Machado Vapores e o Instituto de Aposentados Marítimos.
Em outras áreas de negócios encontramos os escritórios de Affonso R & Filhos, Felix Veiga, Pharmaclínica e o bar Tic Tac. E na década de 40 a representação da Revista Diretrizes e outra da Gazeta de Notícias. A vista era outra: um conjunto de belos e frondosos ficus que faziam sombra e refrescavam as tardes ensolaradas do Verão.