Morre pedreiro que ficou soterrado ao escavar buraco em Cajazeiras V

Homem deixa esposa e dois filhos adolescentes

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 4 de maio de 2020 às 19:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros da Bahia
. por Foto: Divuldação/Codesal

O pedreiro Hildesio Antônio de Oliveira, de 39 anos, morreu no fim da tarde desta segunda-feira (4) após um deslizamento de terra no bairro de Cajazeiras V, na Rua Recanto dos Pássaros. O homem trabalhava numa construção no local e ficou soterrado após escavar um buraco, que terminou cedendo e desabou sobre ele. Hildesio deixa a esposa, Patrícia Oliveira Pedreira, e um casal de filhos adolescentes. O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM) esteve no local para realizar o resgate da vítima, mas ele não resistiu.

De acordo com o diretor-geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macêdo, a situação da morte do pedreiro não tem relação com as chuvas que caíram na cidade neste dia. “Não teve chuva para isso hoje. Aqui o caso foi construção irregular mesmo, escavação para construção e durante a escavação aconteceu a ruptura", contou ao CORREIO. 

Os bombeiros chegaram ao local por volta das 15h30 e tentaram fazer a retirada do pedreiro, que residia no bairro de Águas Claras, localidade adjacente à Cajazeiras V. Segundo o coronel Ramon Dieggo, do CBM, a vítima estava fazendo uma obra no fundo de uma casa e a terra cedeu. O coronel explicou que Hildesio e outro homem provavelmente estavam construindo uma fundação para o imóvel, mas acabaram rompendo o talude — um tipo de plano que dá estabilidade a terrenos inclinados. Hildesio ficou abaixo de quatro metros de terra e não resistiu (Foto: Reprodução/TV Bahia) Com o deslizamento, o pedreiro chegou a ficar soterrado debaixo de cerca de quatro metros de terra. Os bombeiros acreditam que a construção tinha o propósito de ampliar a casa. A corporação informou ainda que outra pessoa que participava da construção chegou a ser soterrada, mas foi socorrida por moradores da região. Pelo menos 20 bombeiros foram deslocados para o bairro, sendo uma equipe de Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (Brec) e duas guarnições de Busca e Salvamento.

"Há muito risco em fazer um procedimento como aquele. O corte do terreno já é contraindicado, é um contexto de insegurança que soma fatores de risco como chuva, terra molhada, terreno inclinado e ainda uma escavação grande com peso em cima", alerta o coronel Dieggo. Para encontrar a vítima, os bombeiros tiveram primeiro que realizar a contenção do talude e remover parte dos escombros. A operação toda durou mais de quatro horas, encerrando após às 19h30.

Prestando assistência às famílias residentes na área, a Secretaria Municipal de de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) informou que quatro famílias foram notificadas para evacuarem suas casas, que terão que ser demolidas. As famílias já foram cadastradas junto à secretaria e receberão auxílio moradia no valor de R$ 300, cestas básicas, colchões e kits de higiene pessoal. A família de Hildesio terá direito ainda ao auxílio funeral.

Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), polícias Civil e Militar também atenderam à ocorrência. O corpo da vítima foi removido e será periciado pela Polícia Civil.

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Ocorrências na capital

O boletim da Defesa Civil informou que a cidade teve 131 solicitações de atendimento até às 17h desta segunda-feira. Desse total, quatro foram desabamentos parciais de imóvel. Houve ainda 41 ameaças de desabamento, 34 deslizamentos de terra, 23 ameaças de deslizamento, nove avaliações de imóvel alagado, seis alagamentos de imóvel, seis infiltrações, cinco árvores ameaçando cair, dois desabamentos de muro e uma árvore caída. 

O órgão integra a categoria de serviços fundamentais e tem atendido a população durante a Operação Chuva em Salvador, que acontece a partir de março. Em casos de emergência, o cidadão pode ligar e solicitar os serviços da Codesal através do telefone 199.

Previsão de chuvas

A Defesa Civil alertou ainda que a previsão meteorológica para os dias 5 a 10 de maio aponta chuvas fracas a moderadas com risco de alagamentos, com temperatura variando entre mínima de 23ºC e máxima de 30ºC. 

Nesta sexta-feira (8), são esperadas pancadas de chuvas e neblina, principalmente à tarde e à noite. A previsão para o fim de semana é de céu com muitas nuvens e chuva a qualquer hora. Essa condição se deve à aproximação de uma frente fria em Salvador e há risco de alagamentos e também deslizamentos de terra.  

RELEMBRE: Avó e neta morreram soterradas em Águas Claras

Há quase duas semanas, uma família de seis pessoas também vivenciou um drama após um deslizamento de terra no bairro de Águas Claras, que terminou com a morte da bebê Maria Eduarda, de apenas quatro meses, e da avó dela, a diarista Maria da Conceição Fraga Teixeira, 41. Ambas faleceram depois de ficarem soterradas com o desabamento do imóvel em que estavam em função das fortes chuvas. A casa da família, localizada na 2ª Travessa Celika Nogueira, foi demolida e outras 16 construções foram interditadas pela Defesa Civil (Codesal).

Segundo moradores da área, quatro pessoas estavam na casa: o casal Maria e José, a filha Gabriela, 19, e a neta. Outros dois filhos do casal Daniel e Gabriel, de 17 e 18 anos, respectivamente, chegaram depois do fato. Ao ouvirem o estrondo, os próprios vizinhos correram para prestar socorro e conseguiram resgatar a bebê e a mãe da criança. Ao chegar no local, o Corpo de Bombeiros Militar retirou o pedreiro José Carlos Gonçalves Silva, 51. Segundo Daniel, a irmã Gabriela teve uma fratura na perna e o pai sofreu um ferimento no pé. 

Familiares informaram que Gabriela foi para a casa da mãe, que estava com saudades de ver a netinha. A jovem morava com o namorado Erick em uma casa no mesmo bairro. O nascimento da pequena Maria Eduarda foi muito comemorado pela família e também pelos vizinhos da família, que até fizeram um chá de bebê para a jovem. “Minha mãe estava com saudade da minha irmã e de Maria Eduarda ai pediu pra elas virem pra cá. Elas chegaram há quase uma semana e iam voltar para casa hoje [quinta] ou amanhã [sexta]”, disse Daniel.

Antes de sair para trabalhar nesta manhã, por volta das 7h20, Daniel falou com o pai, que estava preparando o café da manhã. A sobrinha Maria Eduarda também tinha acordado. Já Gabriel estava de folga nesta quinta, mas não estava na casa no momento do deslizamento. “Ele tinha saído para resolver algum problema na rua”, disse Daniel.

De acordo com o tenente Ricardo Cruz, do Corpo de Bombeiros, Maria da Conceição foi encontrada soterrada até a altura do tórax. Aparentemente, ela já tinha falecido quando a equipe conseguiu achá-la, possivelmente devido ao tempo em que ficou presa no volume de terra. O acidente ocorreu por volta das 9h30 e ela ficou soterrada por cerca de três horas. 

Ainda conforme o tenente, é possível que ela tenha caído e levado uma pancada na testa, o que levou a um traumatismo craniano. “Acreditamos que ela tenha desmaiado assim que sofreu o acidente”, relatou ao CORREIO por volta das 17h, quando o corpo da diarista foi transferido da ambulância para o rabecão da Polícia Civil, responsável pela perícia. 

Depois do deslizamento de terra, apenas o quarto onde dormia a neta do casal ficou de pé, mas teve que ser demolido por equipes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur). A família morava em um imóvel de um andar com três quartos, uma sala e um banheiro. No lugar que ficava a casa, sobraram apenas os escombros da construção e os móveis que não puderam ser retirados do local. Após o resgate das vítimas, moradores do bairro ajudaram Daniel a retirar os bens da família que ainda podiam ser utilizados.

Criança soterrada em Sussuarana

No mesmo dia em que avó e neta morreram, uma criança de 8 anos também foi soterrada após um deslizamento no bairro de Sussuarana. A pequena Sofia conseguiu ser resgatada com vida. Na ocasião, uma vizinha da família contou ao CORREIO que o barranco cedeu pelos fundos da casa da família, depois das 10h desta quinta-feira (23). "Quando eu passei para ir para casa de minha mãe eu vi o desespero da mãe da menina, gritando, pedindo socorro. Eu chamei o pessoal para ajudar a socorrer", diz ela, que prefere não se identificar.

A mãe de Sofia, Angela, relembrou a situação para a TV Bahia. "A gente estava na sala, chamei ela, chamei meu namorado para ir pra cama. Quando a gente deitou na cama eu só vi só o barro descendo... Imprensou minha filha. Saí na rua desesperada para chamar gente para acudir. Os vizinhos ajudaram, tiraram minha filha", conta. "Foi uma coisa rápida. Vi só o barranco desceu", lembrou.