'Muito amor': fiéis encaram pandemia e visitam santuário no dia de Santa Dulce

Até as recomendações das Osid não seguraram a fé das pessoas em casa

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 14 de agosto de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Não dá para saber o que seria de Salvador nesse primeiro dia de celebração à Santa Dulce dos Pobres se não vivêssemos uma pandemia. Turistas do Brasil inteiro? Grandes procissões? Demonstrações de fé e religiosidade? Tudo o que foi imaginado pelas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e o poder público foi readaptado para estimular o isolamento social. Mesmo assim, houve devotos que não ficaram em casa e peregrinaram até o Santuário Santa Dulce dos Pobres nesse dia 13.  

O fisioterapeuta Bruno Morais, 30 anos, nem tinha dormido. Ele passou a madrugada trabalhando no Hospital da Mulher, que fica ao lado do santuário. Quando o plantão acabou, foi direto até a igreja para assistir a principal missa do dia, a celebrada pelo cardeal Dom Sérgio da Rocha, a partir das 9h. Por causa da capacidade do templo, ele não conseguiu entrar no santuário, mas quem disse que isso foi um problema?  

“Participar da missa aqui fora é a mesma coisa do que aqui dentro, pois o meu coração está no altar da igreja”, disse o fiel, que tem na ponta da língua um pedido para ser atendido pela santa baiana: trabalhar no hospital Santo Antônio, administrado pelas Osid. “Pretendo em breve trabalhar aqui. Peço a intercessão da nossa santa para poder também ajudar, de alguma forma, a ajudar nesse seu legado de amor a Deus”, afirmou.   Após pôr sua oferta, voluntária passou álcool em gel na mão de Bruno, que estava circundado de idosas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Ao lado de Bruno, outros fiéis estavam juntos prestando atenção na missa e na entrevista que o fisioterapeuta dava. “Vamos rezar para você conseguir esse emprego”, disse uma senhora que estava ao seu lado. Uma outra, a ambulante Maria Passadora, 44 anos, fazia questão de mostrar a fé que ela eternizou no seu braço, através de uma tatuagem de Santa Dulce.   Tatuagem de Santa Dulce foi feita no braço direito (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) “Fiz essa homenagem no dia 25 de setembro. Ela ia ser declarada santa e aumentou a minha devoção. Já perdi os meus dois filhos uma vez e, graças a Sanda Dulce, consegui encontrá-los. Ela é uma pessoa que sempre ajuda a gente que é pobre. Ela fez e até hoje faz. É santa. É viva”, descreveu.  

Vestido de marinheiro e portando o que ele chama de estandarte de Santa Dulce, o artista de rua Adilson Guedes, 52 anos, chamava atenção do lado de fora do santuário. “Vim orar pela cura dos que estão hospitalizados e pedir pela chegada de uma vacina. Isso fortalece a fé. Esse dia é muito importante não só para a Bahia, mas para todo o país”, disse.   Personagem de Adilson é uma homenagem para Santa Dulce (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Dentro da igreja  Quem conseguiu entrar na igreja e participar da celebração soube aproveitar bem o momento vivido. O professor municipal Anderson Rios, 46 anos, proclamou a primeira leitura de um trecho da Bíblia, algo feito na Missa durante a etapa chamada Liturgia da Palavra. “A minha devoção começou a partir do momento que comecei a participar do santuário. Aqui me sinto em paz. Me tornei um propagador do seu legado”, disse o educador, que serve gratuitamente no templo religioso.  

A sanfoneira Deivy Ferreira 26 anos, que tem uma altura próxima a que Irmã Dulce tinha – 1,5 metro -, também foi convidada a participar da celebração, mas de uma maneira muito especial: ela pôs os trajes originais da freira baiana, tocou a sanfona durante a missa e pousou durante toda a manhã com os fiéis. “Participar desse momento é algo que aumenta a minha fé e me torna mais devota da santa”, disse a musicista.   Quem via a sanfoneira poderia pensar que era a prórpia Santa Dulce quando mais jovem (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Dos que ficaram nos bancos da igreja participando da celebração, haviam religiosos, profissionais das Osid, voluntários e políticos. Representando o governo do Estado, o secretário de Turismo Fausto Franco estava presente. Já a prefeitura de Salvador enviou o próprio prefeito ACM Neto e seu vice, Bruno Reis. Católico e devoto de Santa Dulce, Neto se emocionou.  

“Se não fosse esse período de pandemia, estaríamos com o santuário tomado por centenas de pessoas, celebrando o primeiro dia de Santa Dulce. Depois, todos sairíamos em caminhada até a Colina Sagrada. Estaríamos da forma tradicional que o baiano sabe estar, como fé e alegria", projetou o prefeito, com os olhos marejados.  Distanciado, Neto assistiu a missa entre Maria Rita, superintendente das Osid, e Bruno Reis, seu vice-prefeito (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Outra pessoa que se emocionou foi Dioneia Queiroz, 59 anos. Mesmo aposentada, ela continua trabalhando no hospital Santo Antônio como técnica de enfermagem, ofício que realiza no local desde quando Santa Dulce era viva. “Ela cuidou muito da gente. Enquanto vivi com ela, senti isso. A obra que ela fez é muito bonita. Ela me representa a bondade que deveria existir em toda humanidade. Tenho muito amor por esse local”, disse.   

Quando a Missa terminou, o santuário permaneceu aberto até às 17h e, por isso, recebeu devotos durante todo o dia. Um dos visitantes foi Ricardo Sousa, 45 anos, que decidiu assistir àmissa solene em sua casa e foi fazer sua homenagem presencial logo após a celebração, quando a igreja estava mais vazia.   A capela das relíquias foi o local onde Ricardo fez sua oração (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) “Eu moro no Uruguai, fica a 10 minutos daqui. Vim andando mesmo em sinal de agradecimento por termos essa santa baiana e brasileira, tão perto da minha casa. O exemplo dela me ensina a ser mais caridoso, a buscar ajudar o próximo de alguma forma”, disse.  

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.