Muro de museu desaba e atinge casa de moradora da Ladeira da Preguiça

Família foi orientada a deixar imóvel e deve dormir em casa de amigos

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 27 de abril de 2020 às 18:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo pessoal

Uma família moradora da Ladeira da Preguiça amanheceu sob susto, nesta segunda-feira (27), em função das fortes chuvas que caem em Salvador. Um muro de pedra que cerca o Museu de Arte Sacra (MAS), localizado na região do Dois de Julho, desabou por volta das 6h30 e atingiu a casa de Geovana Miranda, 45, onde ela vive com o filho e o pai idoso. Devido ao desmoronamento, o pedregulho rolou em direção à casa dela, afetando parte do telhado e comprometendo ainda a parede do quarto. O guarda-roupas da dona de casa também foi danificado.“Meu filho tem espectro autista e acordou me pedindo para sair do meu quarto. Eu levantei, coloquei ele no quarto dele, do lado do meu, e, quando voltei, desabou. Fiquei estatelada, sem reação. Parece que foi um livramento de Deus, eu gritei meu pai, que estava dormindo, tirei meu filho do quarto e chamei minhas amigas, as pessoas que estão sempre comigo”, conta ela. Apesar do susto, ninguém ficou ferido.Segundo ela, o muro já vinha dando sinais de que ia ceder e, na tentativa de evitar o pior, ela e outros três moradores da rua chegaram a improvisar uma contenção, mas não adiantou. Responsável pelo apoio imediato à família, Suzany Varela, liderança do Centro Cultural Que Ladeira é Essa?, conta que o muro que desabou cerca o terreno do museu e, logo ao fundo, está o imóvel da moradora, localizado no primeiro andar do nº 70, na Rua Visconde de Mauá. O museu está fechado por tempo indeterminado desde 16 de março, em função da pandemia de covid-19.

Depois do desabamento, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) foi acionada, assim como a Universidade Federal da Bahia (Ufba), que administra o MAS. Feita a vistoria, a Codesal constatou que uma das alvenarias de sustentação do muro se rompeu e atingiu a casa. Os moradores então foram orientados a deixar o imóvel para não correr novo risco, já que a casa é de construção simples e não possui colunas de sustentação.  (Foto: Arquivo pessoal) Em seguida, a família foi à sede da Defesa Civil para ver se há possibilidade de a família receber o auxílio-aluguel através da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre). Segundo Suzany Varela, a família vive em Salvador há 40 anos, mas não possui parentes na cidade e deve dormir parte na casa de vizinhos e parte no centro cultural. “É uma situação muito delicada. Ela está se recuperando de um câncer, tem filho autista e pai idoso, estamos aguardando para ver que tipo de assistência vai poder receber”, contou a amiga. 

A queda muro destruiu o encanamento que levava água para a casa e a Embasa também foi acionada, mas o serviço não pode ser restituído porque os canos estavam abaixo dos escombros. Com a ajuda de vizinhos, Geovana conseguiu retirar os móveis e eletrodomésticos do interior do imóvel. Alguns foram deixados na garagem e outros levados para o centro cultural.

Procurada, a Ufba informou que esteve no local com técnico da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai) e da direção do museu para avaliar a situação. A instituição disse que iniciará a remoção do pedregulho já nesta terça-feira, bem como o processo de recuperação da área e reconstrução do novo muro. A universidade instalou lonas plásticas para impedir novo desabamento nesta noite e se comprometeu ainda a recuperar o telhado da casa de Geovana.

As edificações do MAS não sofreram danos com as chuvas, somente o muro. De acordo com o historiador Rafael Dantas, o espaço é uma construção do século XVII e foi transformado em museu em 1959. Para ele, o muro certamente é quase tão antigo quanto a construção, mas não há como afirmar a data.

Emergências de chuva na cidade

Segundo a Defesa Civil, até às 17h desta segunda-feira Salvador recebeu 467 solicitações de atendimento. Deste total, 171 foram chamados de deslizamentos de terra, 69 ameaças de desabamento, 67 ameaças de deslizamento, 36 árvores ameaçando cair, 26 avaliações de imóvel alagado, 21 infiltrações, 15 desabamentos de muro, 14 desabamentos parciais, 12 árvores caídas, 11 imóveis alagados, sete orientações técnicas, cinco ameaças de desabamento de muro, quatro desabamentos de imóvel, três incêndios, dois destelhamentos, duas pistas interrompidas e dois alagamento de área. 

O mês de abril é conhecido por chuvas fortes na capital baiana. Em caso de emergências, os cidadãos podem acionar a Defesa Civil e ligar gratuitamente pelo 199.