Musk e as moedas digitais

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  • Hugo Brito

Publicado em 13 de maio de 2021 às 14:24

- Atualizado há um ano

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Quem me conhece sabe que sempre tive o pé atrás em relação às moedas digitais. Você que está lendo pode pensar… “como é possível alguém escrever sobre tecnologia e ser resistente à ela?”. Queria deixar claro que não é resistência mas sim uma observação cautelosa. Essa semana por exemplo Elon Musk, o multi bilionário dono da Tesla e da SpaceX, essa última que levará o homem a marte, fez um movimento que mostrou uma certa fragilidade, no modelo atual do mercado das moedas digitais. Algum tempo atrás a Tesla passou a receber uma destas moedas, a Bitcoin, para encomendas de carros elétricos. Isso gerou um grande alvoroço.

Mas na semana passada ele anunciou que parou de aceitar as moedas digitais devido, segundo ele, a empresa ter notado apenas agora (?) que havia mineração de moedas, em atividades que impactam o meio ambiente de forma negativa.A queda das cotações das moedas em questão foi instantânea, e girou em torno de 10%. Bem, sabemos que moedas e ações variam de acordo com sinais da economia mas, como Andrew Sorkin, do The New York Times, comentou, o que assustou foi uma variação por causa da fala de um empresário. Vejam, não foi um governo, não foi um setor, foi uma pessoa dona de uma empresa.

Tem futuro?

Pode ser pessimismo ou miopia desse jornalista que vos fala, mas com essa volatilidade excessiva fica difícil confiar, pelo menos por enquanto, que esse mercado não venha a se tornar mais uma bolha. Moedas eletrônicas pipocam aqui e ali e já ouvi palestras de amigos animadíssimos investindo nelas, e mostrando como é fácil e rentável. Confesso que até fiquei com vontade de testar, mas aí lembrei de Paul Donavan, economista inglês e chefe da UBS, uma das maiores empresas de investimento do mundo, que tem vários vídeos sobre o assunto. Em um especificamente, ele discute que o maior problema dessas novas moedas é, justamente, no item confiança.

A maior parte dessa fraqueza está no fato de que não são aceitas para pagar impostos em nenhum lugar, e que para esse tipo de pagamento é necessário o uso de moeda tradicional. Daí ou a pessoa vende as moedas digitais para gerar essa dinheiro, digamos, real, ou então, o que é pior, "minera" para "criar" mais moedas digitais e então comprar moeda tradicional. O que Donavan analisa é que esses fatores enfraquecem as moedas digitais porque, na realidade, não há um aumento da quantidade delas pela demanda de utilizá-las como são, e sim para permitir comprar dinheiro tradicional, o que cria um jogo de gato e rato, que até poderia ser comparado com o existente nas bolsas mas sem as empresas reais como lastro, e no final levar tudo a um cenário de bolha e perda dos investimentos.

Não sou bom de economia mas, por tudo isso ainda sigo aqui, conectado e observando de forma conservadora, claro que pensando vez por outra no sonho de um mundo de economia livre e ao mesmo tempo conectada, sem o comando de bancos, corporações e governos, mas também ciente de que isso tem remotas chances de acontecer e que, o modelo de moedas digitais para sobreviver talvez tenha que seguir o que ocorreu na internet, que teve que perder um pouco da sua liberdade em prol da segurança, com controles como os das leis de proteção de dados. 

IBM THINK 2021

O evento foi essa semana e tive a oportunidade de assistir a algumas discussões bastante interessantes. Foi possível  confirmar que o foco da empresa americana é cada vez mais intenso no sentido do uso da Inteligência Artificial (IA). Lembrei logo de 2015 quando entrevistei um dos criadores do Watson, Jim de Piante, e lá lembrávamos de quando a IBM resolveu apostar nessa tecnologia que teve sua primeira amostra de poder em 2011, quando a máquina ganhou uma edição do programa de perguntas e respostas “Jeopardy”.

De lá para cá a conexão entre bancos de dados, especialmente médicos, foi crescendo de forma exponencial. Muita da velocidade na criação de vacinas e no entendimento da COVID 19 seguramente se deveu à IA, e muito ainda vai passar por sistemas assim. Em uma das palestras, presidida pelo CEO da empresa, o indiano radicado nos EUA, Arvind Krishna, foi possível ver como a IA impactou no mercado de medicina norte-americano. Um grande cliente da companhia que usa o sistema Watson, a CVS Health, responsável por parte da vacinação por lá, teve sua CEO, Karel Lynch, mostrando como a gestão de toda a logística e o planejamento das ações passou pela plataforma.

Em um dos exemplos ela citou como a evolução desse sistema o deixa quase humano, contando um caso onde uma pessoa foi atendida de forma automática e teve a experiência tão natural, que fez o cliente nem perceber que se tratava de um atendimento por robô. O sistema que fez essa interação está conectado ao novo serviço da IBM, o Watson Orchestrate, que foca em permitir que todo o trabalho que uma máquina pode fazer seja realizado, deixando o humano com ações que só ele tem como realizar, com prospecção e visitas a clientes. 

Espaço para o contraditório

O evento também marcou pela abertura à discussão, sem posicionamentos políticos ou comerciais. O que me faz afirmar isso foi o fato de que, em uma os painéis o entrevistado foi Tristan Harris, co-fundador e presidente do Centro para a Tecnologia Humana. Para quem não lembra, Tristan é um dos que mais traz revelações no documentário “O Dilema das Redes Sociais", disponível na Netflix e já assistido por milhões de pessoas no planeta.

Ele foi um dos desenvolvedores do Google e é um dos que mais enfaticamente fala no filme, contra o caminho que a tecnologia está tomando, com o uso indiscriminado da IA. Foi ele que disse, durante o documentário, uma frase de impacto que resumiria a indústria das redes sociais: “quando você não paga pelo produto, significa que você é o produto”.

Tristan…

Não dá para evitar falar mais profundamente sobre a participação dele que, tão fortemente quanto no filme, disse que não podemos seguir como estamos, ao falar especificamente na IA usada nas redes sociais, onde as empresas ganham mais, quando as pessoas usam mais e que, a ação destas empresas pensando apenas nisso, as torna nocivas. Como exemplos ele falou sobre um adolescente que usa as redes de forma intensa e deixa de estudar, de comer, de interagir, ou então como mostrado no documentário, uma notícia falsa que gera engajamento e acessos. Ambas as situações, pontuou, trazem mais resultado à medida que causam mais problemas sociais. P

ara ele há que se achar uma forma de parar isso e ele pensa que, um dos caminhos, seria mexer no dinheiro que as empresas ganham através de taxações, como as aplicadas nas companhias de energia elétrica norte-americanas, que ganham mais pelo consumo, é claro,  mas ao mesmo tempo taxam os usuários quando consomem muito. Esse dinheiro por lá é direcionando, de forma compulsória, para programas de uso consciente e de preservação do meio-ambiente.

Para as redes Tristan pensa que talvez a solução seria manter as operações sem cobrar do usuário, mas taxar as companhias pelo tráfego gerado por quem usa, carimbando o dinheiro desses impostos para campanhas e ações, focadas na melhoria do comportamento dos usuários ou recuperação dos estragos causados.

Pensando 2021, 2022…

Voltando ao evento, que teve também a participação do apresentador James Corden, que faz em seu programa o quadro onde anda de carro e entrevista celebridades, pego uma das piadas que ele usou para iniciar o fechamento de nossa conversa de hoje. Na abertura de uma de suas participações James disse: “Vamos pensar 2021 porque 2020 não queremos nem lembrar…”. O que pode parecer uma brincadeira com o nome do evento - Pensando 2021 - na realidade, é uma máxima que o mercado de tecnologia está usando.

O que aprendeu-se com a a pandemia e com a aceleração de processos de mudança que ela trouxe, deve ser combustível para o futuro. Apurar erros e responsabilidades não pode ser abandonado, e é socialmente necessário, mas tudo deve servir mesmo para olhar para a frente, e para implementar, especialmente nos negócios, uma nova cultura. James Whitehurst, presidente de uma das divisões da IBM responsável pela aquisição da empresa Red Hat, mais focada nas soluções abertas em nuvem, outro negócio forte da IBM, fechou um dos dias do evento falando sobre isso. E é com uma reflexão sobre uma fala marcante dele que encerro a coluna de hoje.

James disse que na quase pós pandemia, e para depois dessa crise e em outras que venham a acontecer,  a colaboração deve ser a palavra de ordem. Para a IBM, por exemplo, Amazon e Microsoft não são concorrentes porque oferecem soluções em nuvem. Estas empresas hoje são encaradas como parceiras de negócios e, dentro delas, é assim que a IBM é vista. O que ele quer dizer é algo que no capitalismo original seria impossível se pensar. No novo mundo concorrer seria então coisa do passado e, o foco no cliente e em fazê-lo ter o que precisa, mesmo que isso venha de outra empresa, deve ser o pensamento para quem quiser continuar no jogo.