Na corda bamba: ônibus metropolitanos voltam a circular hoje, mas com ressalvas

Entenda qual é a situação das empresas de transporte metropolitano e o que está motivando as paralisações

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 18 de março de 2022 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

O Sindicato dos Rodoviários da Região Metropolitana de Salvador (Sindmetro) afirmou que os ônibus metropolitanos irão circular normalmente nesta sexta-feira (18) após a paralisação de 24 horas realizada ontem. Já para a próxima semana, a situação é outra. O sindicato afirma que, se as demandas não forem atendidas pela Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), que representa o governo do estado, haverá greve por tempo indeterminado. O prazo máximo para uma resposta é a próxima terça (22).

“Os trabalhadores aprovaram por unanimidade esse posicionamento. Já esperamos demais. Se não tivermos as demandas atendidas, vamos parar em todos os 28 municípios. Vai ser toda a Linha Verde, de Salvador até a divisa com Aracaju, incluindo as cidades de Rio Real e Esplanada. Aí pega a RMS também, exceto a parte dos transportes municipais, que não é com a gente”, diz o diretor do Sindmetro, Mário Cléber. Ao todo, são seis empresas: Nova Aviação, Atlântico Transporte, Asa Bela, Avanço Transporte, Costa Verde e Expresso Luxo Vitória, além da BTM, parada desde segunda-feira. 

O Sindmetro aponta cinco reivindicações. São elas: empregabilidade imediata dos funcionários da empresa VSA, pagamento de salário de fevereiro dos funcionários da BTM, contratação imediata de uma empresa para assumir as linhas da BTM e requalificação tarifária da integração (que 50% da tarifa seja para o metrô e 50% para as empresas de ônibus). O diretor coloca que o reajuste da passagem não é uma solução no momento, já que a população seria penalizada. 

Trabalhadores ficaram na mão Desde segunda (14), a empresa BTM está sem circular. Nesta quinta (17), as outras seis empresas que fazem transporte metropolitano entre Salvador e RMS realizaram uma paralisação de 24 horas, pegando muitos trabalhadores de surpresa. Sem ônibus circulando, as estações de ônibus e metrô, assim como os pontos de ônibus, ficaram lotados. A confusão causou pontos de engarrafamento nas cidades. Quem tentou o transporte por aplicativo como alternativa precisou esperar mais do que o normal devido à alta demanda. 

Esse foi o caso do estudante Edvaldo Paixão, de 23 anos. Ele pega, diariamente, um ônibus da empresa Costa Verde para chegar à Estação Aeroporto. Ontem, sem essa opção, teve que caminhar por cerca de 20 minutos e chegou atrasado. Na volta, já de noite, optou pelo transporte por aplicativo. “Demorou 20 minutos para encontrar motorista, provavelmente porque tinha muita gente no mesmo local solicitando corrida”, conta. As empresas Uber e 99 Pop foram procuradas para informar sobre o percentual de aumento da demanda, mas não responderam ao contato. 

O filho do analista de sistemas Marcus Bispo, de 44 anos, ficou sem ir para a escola por falta de transporte. Ele mora no Jardim das Margaridas e o colégio fica no Centro de Lauro de Freitas. “Ele saiu de casa às 6h20 e foi para a Estação Aeroporto pegar o transporte para o colégio, não sabia da paralisação. Mas lá não tinha ônibus para ele, aí teve que voltar para casa. Não tinha nem como pedir um transporte por aplicativo porque não tinha crédito no cartão”, conta Marcus.  Muitos usuários recorreram ao transporte por aplicativo, mas espera foi grande (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Já o estudante João Gabriel Mota, de 21 anos, sempre pega o ônibus da empresa BTM para o estágio. Desde segunda, vem sendo prejudicado. “Eu moro em Itinga e preciso ir para Piatã. Com a saída da BTM, estou tendo que caminhar 3 km para o outro ponto de ônibus e ainda fico esperando 30 minutos a mais do que esperava antes”, diz. Ontem, ao saber da paralisação, ele trabalhou em esquema home office. 

A Secretaria Municipal de Mobilidade de Salvador (Semob) afirmou que iniciou uma operação emergencial para atender usuários de ônibus metropolitanos que operam na capital baiana. As linhas da Estação Mussurunga e Aeroporto que atendem a região do centro da cidade foram reforçadas, com veículos remanejados de linhas de menor carregamento, com objetivo de aumentar a oferta de veículos e atender a demanda no horário de pico. Os intervalos nas linhas de maior carregamento também foram reduzidos para dar conta da demanda. A prefeitura de Lauro de Freitas não respondeu ao contato. 

Paralisação de atividades na BTM

Desde a última segunda-feira (14), os ônibus da Bahia Transporte Metropolitano (BTM) não circulam, causando transtornos para trabalhadores entre Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari. A empresa estaria passando por problemas financeiros, e a falta de abastecimento dos coletivos seria uma consequência dessa situação. “A gente foi pego totalmente de surpresa. Só avisaram que não teria a panha, aí a gente se deslocou para a garagem por conta própria. Quando chegamos lá, tinham 10 ônibus a menos e o restante estava sem combustível. O dono sumiu, não deu notícia”, conta um dos 367 motoristas da BTM, que preferiu não se identificar.

De acordo com o Sindmetro, a garagem ficou abandonada e os próprios rodoviários estão fazendo a segurança do local. “Os motoristas é que estão lá se revezando para fazer uma segurança mínima para que os veículos não sejam roubados, na esperança de que o local e os ônibus sejam aproveitados por uma nova empresa que venha assumir. Mas o dono fugiu sem pagar os salários de fevereiro”, diz Mário Cléber. 

A Agerba informou que “está em fase final o trâmite para contratação emergencial de empresa que substituirá a operação da BTM, e será publicado em breve no diário oficial do Estado da Bahia”. As outras empresas integrantes do sistema, que paralisaram as atividades por 24 horas nesta quinta, estão dando apoio nas linhas operadas pela BTM até que a situação fosse normalizada. 

Procurado, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) afirmou que oficiou a Agerba para obter informações quanto à interrupção do serviço de transporte metropolitano pela empresa BTM, bem como as medidas adotadas pela agência para garantir a prestação do serviço à comunidade atingida.

O Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) disse que está acompanhando o caso e que denúncias de ilegalidades trabalhistas envolvendo a BTM foram feitas anteriormente, mas o caso foi arquivado após o início do processo de contratação de uma nova empresa para assumir as linhas. 

Outras empresas à beira do colapso

De acordo com o sindicato, a situação da BTM não é isolada. Em janeiro deste ano, a VSA foi fechada, deixando os rodoviários desempregados. “Os trabalhadores estão sem saber o que vai acontecer. A empresa Avanço Transporte vai substituir, mas, para isso, a Agerba tem que liberar o cadastro da empresa para a contração dos trabalhadores, o que não aconteceu”, diz Mário Cléber. Segunda a Agerba, a Avanço Transportes assinou nesta quarta (16) o contrato para operação das linhas, que deve ser iniciada em 7 dias.

A empresa Costa Verde pode fechar a qualquer momento, aponta o Sindmetro. “A Costa Verde, nesta quarta, anunciou que não tem dinheiro para fazer os pagamento de salário que estavam previstos para a próxima segunda (21). A empresa pode fechar a qualquer momento”, acrescenta o diretor do sindicato. 

Segundo Mário Cléber, oito empresas de transporte metropolitano interromperam as atividades por problemas financeiros durante a pandemia e não voltaram a rodar, sendo quatro entre Salvador e RMS (que tinha um total de 11). São elas: Expresso Linha Verde, ATP Transportes, VCA e Castur. As outras quatro estão entre Alagoinhas e Paulo Afonso, essas de responsabilidade das prefeituras. “Dessas, os rodoviários da Expresso Linha Verde e da Castur não foram aproveitados e estão sem trabalhar”, diz o diretor. 

Os rodoviários também reclamam do sucateamento dos veículos, apontam que dos 600 ônibus apenas 480 estão rodando desde o início da pandemia e que não há diálogo com a Agerba. “Agora foi o estopim. Estamos vivendo há anos o descaso do Governo do Estado com o transporte”, diz Mário Cléber. Além disso, os rodoviários apontam que o grande problema está no descompasso entre os valores da passagem. 

“A nossa tarifa é menos do que a paga em Salvador, sendo que a gente percorre distâncias maiores. O ônibus que sai de Madre de Deus para Lauro de Freitas roda mais de 100 km numa tarifa de R$4,30. E metrô leva R$2,61 dessa tarifa e o empresário fica com R$1,69. Se o passageiro passar depois para um transporte urbano de Salvador, a gente fica só com R$1,02. É um absurdo com esse combustível que está aí, não tem empresa que aguente”, coloca o diretor do Sindmetro. 

O Sindmetro afirma que, conforme orienta a lei, comunicou a população com antecedência sobre a paralisação e avisou a Agerba. Uma publicação foi feita na edição do Jornal A Tarde da última sexta (11). A Agerba nega que tenha sido comunicada e diz que está mantendo diálogo com as empresas e o sindicato. “A diretoria da Agerba está se reunindo para elaborar um plano emergencial, com o intuito de reduzir os danos causados a população”, diz a nota. 

Depois de ver rodoviários afirmando que a gestão estadual é a principal culpada pela crise que afeta as empresas de ônibus da RMS, o governador Rui Costa rebateu as críticas. Em coletiva à imprensa, Rui citou o subsídio que o governo concede ao setor para ressaltar o apoio da gestão ao transporte público. "Nós concedemos um subsídio gigantesco. O Estado oferece um forte subsídio todo mês ao sistema e ao metrô. São mais de R$ 30 milhões no ano, um volume gigantesco de recursos", afirmou. Rui disse ainda que, ao contrário do que é dito por sindicalistas rodoviários, o metrô não recebe mais que os ônibus na tarifa de integração.