Na ponta do pé: histórias de superação pela dança

Arte é usada como ferramenta em tratamentos fisioterapêuticos para problemas crônicos

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  • Wendel de Novais

Publicado em 29 de abril de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho

Fazer das dores, passos de dança. Foi essa a alternativa encontrada pela bailarina profissional Daniela Guedes, 24 anos, que sofria com problemas nos pés e na coluna desde pequena. Colecionando cirurgias quando ainda tinha 8 anos, Dani recebeu a dança como um auxílio recomendado por uma terapeuta ocupacional e, hoje, tem a prática como elemento essencial de sua vida. "A dança é um sonho. Ela diminuiu minhas dores e me deu mais qualidade de vida. Mas, mais do que isso, virou minha paixão. De quando eu era mais nova pra cá, muita coisa mudou. Minha coluna quase não dói mais, meu corpo todo evoluiu, mas o meu amor pela dança está no mesmo lugar", conta a moça, que é bailarina profissional e faz parte do núcleo de dança da Ebateca.

A evolução física da bailarina não é fruto de um milagre. O impacto da dança, que é comemorada mundialmente nesta quinta-feira (29), pode ser explicado cientificamente de acordo com a Jucilene Pitágora, fisioterapeuta do Hospital Geral Roberto Santos. "A influência que a prática da dança tem para um desenvolvimento físico é fantástica. Ela incentiva a neuroplasticidade do corpo, que, em resumo, estimula a  capacidade do sistema nervoso central de se adaptar e responder melhor às demandas de movimento", explica Jucilene, que aponta o ritmo como uma repetição de movimentos que ajuda a melhorar quadros físicos que pareciam não ter solução.

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Movimento que cura

Caso de Nathan Robert, 21, que é estudante de dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e nasceu com o pé direito quebrado e virado para dentro.  Desde a infância, ele precisou usar botas ortopédicas, fazer fisioterapia e tratamento de massagem para corrigir o problema, mas nunca teve sucesso. Realidade que mudou quando ele começou a praticar dança e apresentou melhora no seu quadro. "Eu ganhei consciência corporal. Passei a entender a diferença e me adaptar. Até minha perna direita, que tem musculatura menos desenvolvida, melhorou bastante. Antes, meu pé era bem mais pra dentro e, hoje, se repara menos. Por isso, já consigo correr normalmente, coisa que não dava pra fazer", conta.  Nathan encontrou na dança o tratamento para problemas nos pés (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Além de ser fator significativo para o corpo, a arte virou uma ação que faz bem para a sanidade mental de Nathan, que não quer saber de parar. "Quando a dança apareceu, eu tava meio perdido e não tava feliz. Nos primeiros quinze minutos dançando, eu me achei, despertou uma paixão. Não dá mais pra viver sem isso, mesmo que não seja profissionalmente, não consigo pensar em parar de dançar", declara. 

Sentimento parecido com o de Dani, que concilia a dança com o seu trabalho como colaboradora da CCR Metrô e esbanja confiança. "Eu me sinto forte, capaz, uma guerreira. Depois de começar a dançar, comecei a acreditar mais em mim. Consegui entrar na CCR e ser uma bailarina profissional ao mesmo tempo. E não quero parar. Quem sabe não sou chamada pra ser bailarina na Europa, né", brinca Dani, que vai se apresentar, pelo zoom, no espetáculo #PorAmor da Ebateca, no próximo domingo (2). Dançar dá confiança para Dani (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Para Victor Lima, 23, que é outro estudante da Funceb, a dança, que está na sua vida desde quando ele tinha 16 anos, foi fundamental para melhorar não só a saúde física como também mental. "Eu tinha um sobrepeso que me causava alguns problemas, mas não comecei a dançar por isso. Foi algo despretensioso mesmo. Mas, depois de começar, eu comecei a conhecer meu próprio corpo e só ganhei com isso tanto fisicamente como mentalmente", afirma.

No ritmo da recuperação

A prática de ligar o som para curar dores já é executada em ambientes de fisioterapia como alternativa didática que faz da recuperação física um momento menos exaustivo. É o que garante a Jucilene Pitágora. "A dança é utilizada como ferramenta em diversas áreas e na fisioterapia não é diferente. No Roberto Santos, nós já desenvolvemos atividades ligadas a música para pacientes que chegam lá depois de um AVC porque torna o processo menos exaustivo para pessoas que já têm que lidar com um momento muito difícil que é se recuperar", informa.

A fisioterapeuta ainda exemplifica como a decisão de optar pela dança como parte do tratamento para recuperação física ajuda os pacientes. "Se você pega uma pessoa que tem uma lesão de ombro e precisa repetir sempre o mesmo movimento toda seção, ele cansa, se desgasta. Quando isso acontece através de movimentos rítmicos e musicalidade, o esforço é algo que continua ali, mas, com a coreografia, a dificuldade é colocada em segundo plano pelo bem estar que eles sentem", conclui a fisioterapeuta que faz parte do núcleo de fisioterapia do Roberto Santos que começou usar a dança nas atividades de recuperação pouco antes da pandemia, mas teve que parar por conta das restrições sanitárias.

*sob supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro