Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gabriel Amorim
Publicado em 10 de março de 2020 às 18:36
- Atualizado há 2 anos
Desde o início da tarde as homenagens já haviam começado. O pátio do cemitério da Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, em Salvador estava lotado antes mesmo das 14h. Familiares, amigos e companheiros de Exército de Fernando Silveira Gardiano, 21 anos, foram se despedir do jovem, que morreu depois de ser espancado e obrigado por traficantes a nadar numa lagoa na comunidade da Timbalada, no Cabula.>
[[galeria]]>
Fernando era soldado do Exército e estava de férias quando o crime aconteceu. “Servir era um sonho dele. Era um menino bom, que vai fazer falta. Uma convivência tranquila”, disse um amigo, que pediu para não ser identificado, já que o comando do Exército deu orientações para que nenhum membro da corporação desse qualquer declaração à imprensa.>
“Estamos respeitando o pedido da família para evitar exposição nesse momento. A família está abalada, em choque e não quer dar declarações”, disse a assessoria da corporação durante o velório. >
De fato bastante abalados, os parentes mais próximos precisaram ser amparados em vários momentos da despedida. Vestindo uma camisa com a foto de Fernando, familiares chegaram a desmaiar durante a cerimônia. “Meu Deus, como pode? Não é justo um menino tão bom morrer desse jeito. Não é justo”, dizia um familiar durante o velório. “Meu soldado, eu não acredito”, disse outra. >
Por volta das 15h, o corpo de Fernando foi levado até o local do sepultamento. A cerimônia foi realizada com todas as honraria e homenagens prestadas a oficiais do Exército. O caixão deixou a capela 11 carregado por oficiais fardados, que ainda conduziram o corpo do jovem em um cortejo lento, com direito a salva de tiros e banda de sopro. Um dos soldados que tocava, não conteve a emoção e precisou ser amparado por colegas depois das homenagens.>
Durante o sepultamento, amigos de Fernando contaram à reportagem que o soldado sobrevivente também estava no local. Bastante abalado, o rapaz, identificado com Henrique Freitas, preferiu não falar com a imprensa, alegando também ter sido proibido pelo Exército. >
“Qualquer soldado, fardado ou não, que der uma declaração, estará descumprindo ordens do comandante”, disse a assessoria, que também confirmou a alta do outro soldado alvo do ataque.>
Investigações As investigações do crime que levou à morte de Fernando estão sendo conduzidas pela Polícia Civil, através da Delegacia de Homicídios (DH/Múltiplos). Autoria e motivação ainda são apuradas.>
Em nota, o exército informou que segue acompanhando os trabalhos. “O Comando da 6ª RM e o Comando do 6° BPE seguem acompanhando as investigações, sendo que, a prioridade das ações, neste momento, é prestar o apoio necessário à família do militar falecido, bem como ao militar agredido, o qual foi medicado e teve alta hospitalar, e prestar apoio também à família deste último. As investigações policiais pelos órgãos competentes continuam, com a finalidade de identificar e responsabilizar os criminosos”, disse o texto. >
Relembre o caso Era por volta das 2h de domingo quando três soldados do 6° Batalhão de Polícia do Exército, sediado em Salvador, retornavam de uma festa, de carro. Após um deles ter sido deixado nas proximidades de sua residência, na localidade de Timbalada – comunidade que fica atrás do Colégio Estadual Governador Roberto Santos –, no Cabula, os outros dois foram abordados por um grupo de bandidos armados.>
Criminosos que fazem parte da facção Comando da Paz (CP), uma das maiores do estado, espancou dois soldados e, depois, obrigaram os homens a nadarem na lagoa e fugir atravessando pela água, enquanto atiravam contra eles.>
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier>