Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2022 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Afetividade. Identificação. Saudade. Dengo. Percussão. Bahia. São várias as palavras-chave para o novo álbum da cantora Nara Couto. Em Retinta, a soteropolitana do Curuzu conseguiu mergulhar em suas próprias ideias e observar cada detalhe, ou célula, como prefere dizer, do trabalho construído a muitas mãos, mentes e sentimentos.>
“O álbum Retinta veio desse lugar de querer falar de mim com toda a minha potencialidade, que é atravessada por afetividade. Temos as lutas e todas as causas que a gente precisa falar. Enquanto corpo e mente política, precisamos nos posicionar, falar que lado estamos e fortalecer o que precisa ser feito por um mundo mais igualitário e justo”, explica a multiartista.>
A canção título é uma parceria de Nara com a cantora Ellen Oléria, que também assina a produção. A faixa ganhou um clipe dirigido por Edvaldo Raw e Preta Ferreira. >
Lançado pela Natura Musical e Alá Comunicação, o álbum vem de vários lugares e experiências vividas por Nara. Ela encontrou a música ainda na adolescência mas sua primeira experiência artística veio com a dança. Nascida em família de bailarinos, é sobrinha de Zebrinha, coreógrafo do Balé Folclórico da Bahia, a quem chama de pai.>
MAIS MÚSICA PRETA? CONHEÇA O CORREIO AFRO Capa do álbum Retinta (Foto: Kevin Oux/Divulgação) Entrou no Balé em 1997 e por lá ficou durante 7 anos. O coração continua por lá. Entre as idas e vindas, ajudou a fundar a Orquestra Afrosinfônica, onde trabalhou por 10 anos como bailarina e cantora, e também dançou no balé de Daniela Mercury - com quem também foi backing vocal. Antes, já tinha dançado com Ivete. “Mas dancei com muita gente nesse meio tempo: Gilmelândia, Margareth, subi no trio elétrico com Preta e Gilberto Gil. E também cantei. Fui backing de Daniela, vocalista de Magary, acompanhei Mateus Aleluia...", listou Nara.>
Parecia questão de tempo que ela abraçasse de vez a música em um projeto seu. Lazzo Matumbi repetia, por anos a fio, "Nara, está na hora de você lançar algo seu". Ela pensava, sorria e deixava a ideia ali. Até que chegou a hora em que não deu mais para segurar. Em 2018, deu um aperitivo no EP Contipurânia.>
Com produção musical assinada por Nara Couto e Faustino Beats, Retinta traz de forma harmônica a soma dessas linguagens artísticas que atravessam a vida e carreira de nara.>
Faustino Beats imprime neste trabalho todo o conhecimento de música eletrônica, urbana, do rap, com arranjos sofisticados, que se completam com a sonoridade de Nara, que vem dos tambores religiosos, da vivência com sons e ritmos de alguns países africanos e na forma de cantar, trazendo duas grandes inspirações, Sara Tavares e Sade Adu.>
"Meu trabalho é percussivo, é Bahia, tem uma identidade que torna fácil identificar de onde vem esse som. Eu faço música para o mundo, mas com uma identidade de território que tenho muito orgulho. A percussão baiana, não só o instrumento, mas os músicos com uma ritmica muito particular aqui da nossa terra e a partir disso fomos trabalhando passo a passo, música por música, estive atenta a cada detalhe, cada célula, me sinto muito plena por parir um álbum que tem minha célula em cada momento", disse em entrevista.>
Durante o processo de composição e produção do disco, Nara sofreu uma série de perdas em sua vida pessoal que acabaram mudando os rumos de seu trabalho. Duas delas ainda doem e é nítida a mudança na voz forte e doce da cantora ao mencionar: o irmão e o maestro Letieres Leite. A faixa 'Saudade', que fecha o álbum, tenta dar conta desse pesar que ainda está no peito.>
"Uma das características desse álbum é que eu quis que as pessoas que me seguem e admiram sentissem a Nara no seu mais total sentir. É um trabalho que até a voz foi pensada em como ser colocada. Pensei mais em estar dizendo, sentindo, do que em técnica. Me preocupei muito pouco em como iria sair tecnicamente. Normalmente quando a gente entra no estúdio tem a preocupação de afinar ou não. Eu não pensei nisso. Só quero que as pessoas saibam o que estava sentindo ao cantar", revelou a cantora.>
O álbum conta com participações de nomes como RDD, na faixa Tempo, que traz na composição o sentimento de estarmos ao lado de quem gostamos e o quanto esse tempo é especial. Já para a música Cura, que é uma composição em parceria com Marisol Mwaba e Eduardo Brechó, Nara traz a angolana Ary para um feat. >
"Quis falar sobre como eu me sinto, potente, me amando, me autorizando a ser quem eu sou, a falar sobre afetos, não precisando ser a mulher que sempre está lutando e resistindo, sem precisar ser forte o tempo todo. É preciso nos defender e pontuar como somos vistas na sociedade, de forma excludente e tendo nossa beleza negada", avalia a cantora. O disco chega está disponível nas principais plataformas de música.>
Conversas Plugadas>
Nara vai falar mais sobre o processo criativo do disco Retinta nesta quinta-feira (24), quando participa do projeto Conversas Plugadas, mediado pela jornalista e produtora Val Benvindo. Será a primeira edição completamente presencial da iniciativa desde a pandemia., que acontece na Sala do Coro do Teatro Castro Alves a partir das 20h, com entrada gratuita.>
Na conversa, Nara responde questões sobre a importância da afetividade para sua obra e seu uso como uma ferramenta política e filosofia de vida. O bate-papo gira em torno de como se deu a concepção do disco em meio à pandemia, além de suas influências e das suas performances para algumas músicas do álbum, em que é acompanhada por um pianista, um dos principais destaques do registro.>
O público poderá interagir e dialogar durante o debate, com intermédio da mediadora da noite. Criado em 2007, o Conversas Plugadas proporciona aos profissionais, pesquisadores e estudantes de artes, bem como ao próprio corpo técnico do TCA, o contato direto com nomes representativos dos diversos campos artísticos, em âmbito nacional e internacional. >