Nas ruas e nas janelas: o povo e a festa do Dois de Julho de 1979

Caboclos seguiram à frente do desfile num Pelourinho diferente de hoje

Publicado em 5 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Em uma série de lives no Instagram do CORREIO ao longo da última semana, pesquisadores falaram sobre o desfile do Dois de Julho e a festa que, ela primeira vez em 196 anos, não aconteceu com desfile pelas ruas. Para o jornalista, publicitário e escritor Nelson Cadena, que é colunista do CORREIO, o cortejo começou como qualquer outro desfile cívico - as pessoas só assistiam, das portas ou janelas, a passagem do cortejo. Só quase uma década depois é que o povo passou a participar da festa.

Para o professor e historiador Rafael Dantas, que pesquisa Cultura Material e Iconografia, importa dizer que o povo, com o tempo, tomou conta e passou a ter o protagonismo do Dois de Julho, como tem atualmente. É justamente o que mostra este registro do Dois de Julho de 1979, o primeiro acompanhado pelo CORREIO, fundado naquele ano.

O trecho entre a Ladeira do Carmo e o Largo do Pelourinho mostra as ruas do Centro tomadas de povo, enquanto passam os desfiles das escolas, com o carro dos caboclos logo à frente. Foi em 1828 que eles passaram a fazer parte do desfile - durante a República Velha, houve uma tentativa de substituí-los pelo Senhor do Bonfim. Dois de Julho de 1979, trecho entre a Ladeira do Carmo e o Largo do Pelourinho (Foto: Carlos Catela/Arquivo CORREIO) Em 1979, quando essa foto foi feita pelo fotógrafo Carlos Catela, o Centro Histórico ainda não era tombado pela Unesco - o que só aconteceu cinco anos depois, em 1984."Os casarões ainda arruinados, as fachadas com as tintas e os rebocos caindo, bem desbotadas. No canto esquerdo, a gente tem dois ou três casarões escorados com andaimes. A atual Casa do Benin, que fica nesse casarão do lado direito, está com as portas fechadas com blocos. Provavelmente fecharam para evitar que alguém ocupasse o imóvel. O telhado do prédio também tá caindo da parte superior, as janelas destruídas", analisa Rafael.Chama a atenção, ainda, pessoas nas janelas dos casarões do lado esquerdo, possivelmente ainda moradores. E.claro, o contraste entre o degradado, mais antigo, e as cores que certamente marcaram presença no desfile daquele ano. Olhando bem, ainda tem uma revoada de pombos no canto superior direito, próximo à Igreja do Paço.