Negra, travesti e estrela: conheça Oda Taylor, modelo baiana que desfilou no Afro Fashion Day e São Paulo Fashion Week

Natural de Cairu, ela é multiartista, já morou em Casa de Acolhimento e hoje luta por novas narrativas na moda

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 27 de novembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Lucas Assis / Tati Freitas

Pouco menos de 24h antes de começar o desfile do Afro Fashion Day na Estação CCR de Metrô Campo da Pólvora, Oda Taylor (@oda_tlr, no Instagram) dava duro atendendo clientes no Bar Velho Espanha, nos Barris, onde trabalhava como garçonete para garantir uma renda extra. Entre um atendimento e outro, a garota de 22 anos, natural de Cairu, pensava no quanto a vida dela mudou nos últimos anos. E ainda iria mudar mais: no outro dia, desfilava na passarela mais negra do Brasil. Um mês depois, estreou na semana de moda mais famosa do país, o São Paulo Fashion Week. 

Filha de Cairu, multiartista, negra e travesti. É assim que Oda se define para o mundo, enquanto aproveita para descobrir a cada dia. “Vai saber o que Oda tem que eu ainda não sei”, disse sorridente em entrevista ao CORREIO. A primeira manifestação artística que a tocou foi a música: num trabalho de escola, cantou Milton Nascimento e sentiu que a partir dali tudo era diferente. “Às vezes eu sinto que nasci ali, não lembro muito de minha infância, era uma criança muito tímida e também passei por situações que acho que bloquearam essa fase de minha vida”, contou. 

Foi a música quem fez com que ela desejasse expandir os horizontes. Saiu de Cairu e foi para Valença estudar no Instituto Federal, onde concluiu o Ensino Médio e fez curso técnico. Sentiu que precisava de mais e, em 2019, veio para Salvador estudar na Escola de Belas Artes, onde cursa Desenho e Plástica, na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Foram momentos difíceis, inclusive internamente: Oda se identificava como um homem gay, mas ao mesmo tempo gostava de ficar com meninas. Por ser, na época, um rapaz magro, com voz fina e jeito ‘afeminado’, era empurrada para uma caixinha, mas sentia que ainda não era aquilo que te contemplava.  Além do Afro Fashion Day, Oda também desfilou na São Paulo Fashion Week deste ano (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Pensou em desistir da moda porque, após chegar a uma agência em Salvador, comprou books, cursos e no final das contas nunca era chamada para nada: só um perfil de pessoas era chamada e eram todas brancas. Uma seletiva do Afro Fashion Day foi o que começou a mudar isso. Ao ver a quantidade de pessoas negras no meio da rua sendo aplaudidas, acreditou que aquilo poderia mudar. E deu certo.

Foi encontrada pelo scouter Vinny Vasconcellus e desfilou no Afro Fashion Day deste ano: a sua primeira vez desfilando, inclusive. A modelo integrou o bloco Black Panther, que abriu o desfile e teve inspirações no Partido dos Panteras Negras, símbolo na luta antirracista até os dias atuais. 

"Sou travesti, preta, já morei numa casa de acolhimento para pessoas LGBTQIA+ em Salvador, chamada Casa Aurora. Foi lá onde comecei a me entender como uma travesti e graças às pessoas que me acolheram lá eu criei embasamento para desmistificar esse nome, nos tirando desse lugar de marginalização. Essa é a minha identidade, não é algo ruim", afirmou.

Menos de um mês depois e ela desfilou para o público pela primeira vez. E na semana de moda mais importante do Brasil. Oda esteve na passarela representando A la garçone, Rocio Canvas, Handred Studio, Walerio, Silverio, Apartamento 03 e Isaac Silva. Para desfilar, também fez a sua primeira viagem de avião - fato que ilustra bem até onde Oda Taylor quer chegar: no céu, nas nuvens ou onde ela bem entender.

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com o patrocínio do Grupo Boticário, Hapvida, TikTok, com apoio Institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Sebrae, apoio do Shopping Barra, Laboratório CLAB, CCR Metrô, Vizzano, Clube Melissa e Suzano.