Netflix, macarrão e garagem: a rotina de Rend durante a pandemia

Na companhia da família, volante concedeu entrevista ao CORREIO por telefone

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  • Daniela Leone

Publicado em 30 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo pessoal

A garagem é o único espaço da casa onde dá pra ter contato com a bola. É lá que Guilherme Rend mantém a intimidade com a redonda durante a pandemia do novo coronavírus. O volante de 21 anos mora com a família no bairro do Costa Azul e está contando os dias para voltar a jogar futebol. Ele entende a gravidade do momento, mas confessa estar entediado após 12 dias em casa. Para eviar o contágio, o Vitória liberou jogadores e funcionários desde o dia 18.

“Já vi tudo que é possível na Netflix”, conta Guilherme Rend em meio a risos. "A verdade é que eu não estou muito acostumado com essas coisas. A gente viaja muito e, para mim, está sendo novidade ficar com a família. Meio estranho. É bom, mas depois se torna entediante não poder sair para lugar nenhum, mas estou aproveitando um pouco a família”, afirma um dos destaques do Leão nesse começo de temporada. 

Elogiado pelo técnico Geninho, o volante foi titular nos nove jogos que fez - dois pela Copa do Brasil e sete pela Copa do Nordeste - e ainda marcou um gol. 

Em isolamento social, Guilherme Rend está curtindo os mimos e também os dotes culinários da mãe. Dona Magali, de 54 anos, sabe o que o filho gosta. “Está tendo um macarrão aqui bom demais”, conta Rend, que também divide a casa com a namorada Milena, 21, o irmão Francisco, 13, e o pai Tibor, que tem 62 anos e, como  parte do grupo de risco da Covid-19, faz com que todos tenham cuidado redobrado com a higiene. “Lavamos muito as mãos, usamos bastante álcool e é muito difícil sairmos de casa. Quando saímos pra fazer compras, usamos máscara”, conta Rend.

Quando não está relaxado diante da televisão, o jogador aprimora a forma física. “Faço esteira e alguns exercícios que o Vitória deixou pra gente. Tudo isso que aconteceu foi inesperado e a gente tenta treinar em casa para se manter no ritmo, não perder tanto o preparo físico. A gente pensa que é questão de uma semana, duas, mas vê a gravidade no mundo... Que leve o tempo que for, mas que todo mundo fique bem”. O contato com a comissão técnica e jogadores tem sido apenas por WhatsApp.

Salário reduzido

Apesar do tédio, a jovem aposta vai ter que segurar a onda um pouco mais. Afinal, ainda ficará algumas semanas longe dos gramados. O Vitória dará férias coletivas a funcionários e atletas a partir de quarta-feira, dia 1º. 

Em princípio, o benefício será concedido por 20 dias, mas pode ser prorrogado por outros 10. “É um pouco complicado. São férias inesperadas. Do nada, sair de férias assim é um pouco complicado, mas já que foi definido assim, vai ser melhor para os jogadores e para os clubes”.

O Vitória se adiantou e informou a resolução na quarta-feira (25) passada. Um dia depois, houve o anúncio em conjunto dos 20 clubes da Série B do Campeonato Brasileiro comunicando a decisão por férias coletivas após as negociações entre o Conselho Nacional de Clubes (CNC) e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) terminarem sem acordo. O cenário da pandemia e a necessidade da prorrogação das férias serão analisados pelos dirigentes dos clubes em uma reunião agendada para o dia 15 de abril. 

Outra medida adotada é a redução de 25% do salário dos jogadores, algo que Guilherme Rend compreende. “Normal, com as condições em que estão as coisas. Achei normal essa redução, já que o clube não vai ter renda de público, de jogos, achei justa”, opinou o jogador, que foi emprestado ao Vitória no ano passado pelo Jacuipense para disputar o Campeonato Brasileiro de Aspirantes. Destacou-se, renovou o contrato por um ano e nesta temporada ganhou oportunidade no elenco principal.

Agora, seja na sala ou na garagem, o jeito é esperar: “Acho que todo mundo acorda e liga a televisão com a expectativa de ter uma notícia de que isso está acabando, que as pessoas já podem voltar ao trabalho, às ruas, até porque muitas pessoas precisam sair pra trabalhar para sobreviver. Espero que esse tempo ruim passe logo, que a gente possa voltar a jogar bola e que esse susto chegue ao fim”.