'Novo normal' altera hábitos de baianos na hora de comprar imóveis

Espaços como lavabo, varandas verdes, e o próprio espaço de home office tem sido valorizados

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 12:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

Que a pandemia e as medidas de isolamento mudaram muitos hábitos e a rotina de todos, não é novidade. Mas o período em casa acabou provocando mudanças também na forma de morar e os novos hábitos já tem gerado reformas para tornar mais confortáveis as mudanças na rotina. Quem trabalha com os projetos já percebe uma nova tendência com grande procura por mudanças na área de entrada dos apartamentos e na adaptação de cômodos para atender ao trabalho em home office.  

“A valorização do apartamento e do condomínio ganhou máxima atenção a partir da necessidade de uma maior permanência no local. Com a perspectiva de termos o trabalho em casa sendo continuado para muitas pessoas, novos projetos ganharão também uma atenção maior a alguns aspectos. E, mesmo para outros casos, os novos projetos tendem a contar com alterações baseadas nessa experiência de pandemia”, acredita André Ferreira, responsável pela  área de incorporação da Sertenge, construtora e incorporadora baiana. 

Para o profissional, as mudanças nos novos projetos devem passar pelas áreas comuns, mas atingir também as plantas dos apartamentos. “Acredito que o empenho maior vai se dar nas áreas de uso comum, prevendo equipamentos de higienização coletiva do que propriamente acrescentando novos espaços de lazer. Estamos em fase de desenvolvimento de um projeto no qual teremos a brinquedoteca com fraldário vinculadas a áreas externas, próxima a espaços de lazer infantil ao ar livre, e não mais em local fechado. Estratégias semelhantes devem ser pensadas para outros locais de uso coletivo, como os espaços gourmets”, conta ele. 

Nos apartamentos, as mudanças devem atingir imóveis de todo tamanho. “Também pode haver uma reformulação das plantas, desde os apartamentos de um quarto até mesmo os de quatro quartos com maior área privativa, prevendo mais flexibilidade para oferecer ambiente de trabalho integrado à unidade”, acredita André.

Se os novos projetos ainda estão em fase de elaboração e devem apresentar mudanças apenas no futuro, já existe quem esteja buscando profissionais para adaptar seus apartamentos atuais à nova rotina. É o caso, por exemplo, do Studio Pro|ar Arquitetura e Design. “Os clientes tinham acabado de receber o apartamento pronto, com um projeto feito quando eles não tinham demanda de home office, e o espaço não foi projetado. Eles não queriam fazer um novo investimento para modificar o projeto anterior, mas queriam ter esse espaço destinado para o trabalho”, conta a arquiteta Ana Carolina Eustáquio, uma das sócias do Studio. 

Diante da situação, a solução foi investir em um móvel planejado. “Como no caso deles, já se sabe que o home office é temporário, a solução foi fazer um móvel sob medida, uma mesma retrátil que quando fechada vira um quadro, um objeto de decoração. No caso de quem for manter o estilo de home office mesmo depois da pandemia, o espaço precisa ser ainda mais bem planejado, de acordo com cada realidade, ver o que a pessoa usa para trabalhar, se usa papel, computador, telefone, se tem arquivo de documentos, livros, até para que se saiba a dimensão, o tipo de móveis e iluminação que o espaço precisa”, explica Ana. 

Mudanças permanentes Sócia do mesmo Studio, a arquitetura Tailine Figueiredo explica que, no caso de uma mudança permanente de rotina, mais variáveis precisam ser levadas em consideração na hora de fazer a adaptação para construir o espaço de trabalho em casa. “Pesquisas já apontam que o modelo de trabalho home office vai ser mantido em muitas empresas, então a adaptação de ambientes tem sido bastante procurada, até de uma forma mais definitiva. Nesse momento o importante é perceber como adaptar os espaços já existentes para a rotina da pessoa. O melhor local,  a depender do apartamento, de quem mora na casa, do que está disponível”, considera.

A profissional chama atenção para cuidados na hora de pensar a adaptação. Ter o espaço de trabalho no quarto, por exemplo, pode ser prejudicial para o rendimento. “Ter o ambiente de estudo e trabalho no mesmo ambiente do descanso não é bom. As necessidades diferentes, e isso pode até atrapalhar. O quarto tem várias distrações que podem te tirar do foco no trabalho, cama, televisão. Se você não tem um ambiente separado, as próprias pessoas circulando em casa podem ser uma distração. O ideal é que você prepare um espaço que atenda às suas necessidades daquele momento de trabalho”, explica 

Outra mudança que deve ficar diz respeito a entrada de casa, justamente pelos novos hábitos de higiene que a pandemia transformou em rotina. “Essas mudanças e o surgimento desses novos hábitos de moradia já acontecem desde o início da pandemia. Na entrada de casa, por exemplo, não é da nossa cultura ter um espaço para deixar sapatos. Mas é algo que agora tem ser investido, principalmente na questão do design, para criar móveis atrativos para esse uso”, diz Tailine. “Um espaço de higienização, onde seja possível deixar bolsa, casaco, lavar as mãos, uma espécie de lavabo com um pequeno hall tem sido já desejo dos clientes”, completa a arquiteta Carina Macêdo.   

Outro desejo dos clientes nesse novo momento é a presença da natureza dentro do apartamento. Mesmo depois do isolamento. “As pessoas têm pedido o espaço onde caibam plantas. Antigamente  era difícil encontrar quem quisesse ter muita planta em casa e agora esse contato com um ambiente mais natural está sendo mais valorizado. As pessoas estão requisitando a existência das plantas e pequenos jardins em casa. Acredito que em relação às plantas principalmente, seja inclusive uma mudança definitiva. Antes as pessoas não valorizavam esse ambiente mais natural, não tinham consciência do quanto é aconchegante. Agora, depois da experiência eles veem que é algo que soma ”, diz Carina. 

*Com orientação da subeditora Clarisa Pacheco