Número de viagens de bike em Salvador cresce 72% em relação ao mesmo período de 2019

Quantidade de usuários das bicicletas compartilhadas também cresceu

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 30 de novembro de 2020 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Depois de meses sem sair de casa, quem começou a flexibilizar um pouco o isolamento parece ter encontrado uma opção de lazer para se divertir sem perder a segurança. Em outubro, foram 104.027 viagens realizadas com as bicicletas do programa Salvador Vai de Bike - aumento de 72% se comparado às 60.449 viagens de outubro de 2019. O número de usuários também cresceu. Foram 10.657 usuários em outubro de 2019 contra 17.848 no último mês (um acréscimo de 67,4%).

À frente da Saltur, empresa de turismo ligada à prefeitura e responsável pelo projeto que trouxe as famosas bicicletas laranjinhas para a cidade, Isaac Edington acredita que a segurança da atividade é um dos motivos que contribuíram para esse aumento. “Com a pandemia, um crescimento que já era gradativo acabou se intensificando, porque as pessoas viram que a bicicleta fazia sentido, por ser algo que ajuda na melhoria da condição de saúde, na preservação em relação ao transporte público. A bicicleta se tornou uma opção que fez todo sentido nesse momento”, diz o presidente da Saltur. Os advogados Arthur D'Arede e Fernando Sampaio criaram um grupo de ciclismo entre amigos recentemente (Foto: Acervo pessoal) Os advogados Arthur D’Arede e Fernando Sampaio fazem parte desse número de novos usuários e decidiram reativar um grupo de amigos criado exclusivamente para pedalar. “Tinha começado a andar de bike regularmente no início do ano, usando as bicicletas alugadas, porém devido à pandemia e aos riscos de uso compartilhado das bikes, parei. Voltei recentemente adotando os procedimentos de segurança como o uso de máscaras e álcool em gel para higienizar o equipamento”, conta Arthur, de 29 anos.

“É uma boa oportunidade para estar em contato com pessoas queridas protegido, mantendo a distância, seguindo os protocolos de segurança e ao ar livre. Nesse período de pandemia, resolvi dar preferência a esse tipo de exercício em espaço aberto”, completa Fernando, de 27 anos. 

Os cuidados tomados pelo grupo de amigos são bastante importantes, segundo os médicos. A infectologista Clarissa Ramos explica que, apesar da maior segurança por ser uma atividade ao ar livre, o passeio de bike ainda requer algumas medidas. “De fato estar de bike é mais seguro tanto como meio de transporte quanto como atividade física. Melhor estar de bike do que aglomerado no transporte público. A bike te limita a estar sozinho e te faz estar distante também. A única questão é cuidar para higienizar com álcool em gel as áreas que você vai tocar se for uma bike compartilhada”, diz a especialista. 

Quem começou agora a atividade foi a arquiteta Maria Clara Passos, 26 anos. “Eu e uns amigos criamos um grupo só para pedalar nos finais de semana. É um hábito novo incentivado por eles. Gosto porque, andar de bike, além de ser uma atividade física com diversos benefícios para o corpo, te permite observar as paisagens de Salvador de forma mais próxima e prazerosa, já que muitas vezes, de carro ou transporte público, na correria do dia-a-dia, não conseguimos parar para apreciar esses cenários”, explica Maria  Clara.

Assim como ela e os amigos, a maioria dos soteropolitanos escolhe o domingo para o passeio. Nesse dia, está registrado 16% do uso total das laranjinhas por semana. No que diz respeito à faixa etária a maioria dos usuários têm de 29 a 38 anos (33%), seguidos de perto pelos jovens de 22 a 28 (27%). 

O projeto Implementado em Salvador em 2013, o Movimento Salvador Vai de Bike (MSVB) é um conjunto de ações integradas de incentivo ao uso da bicicleta na capital. A ideia é a de melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida na cidade. Ao longo dos sete anos desde a implementação, diversas ações foram realizadas para incentivar o uso das bicicletas, dentre as quais estão a implementação de 247 km de ciclovias e das bicicletas compartilhadas - as famosas laranjinhas - implementadas pela ação Bike Salvador, em parceria com o Banco Itaú. Ao todo, são 50 estações e 400 bikes laranjinhas espalhadas pela cidade. O uso das bicicletas compartilhadas acaba servindo de termômetro para todo o programa e suas ações. 

“Nesse tempo todo de programa a gente já atuou em vários eixos, como a infraestrutura cicloviária, que cresceu de pouco mais de 20 para quase 300km, todo o trabalho de conscientização para os ciclistas, para motoristas de ônibus, como lidar com essa coexistência com os veículos. Introduzir a bicicleta na dinâmica dos eventos da cidade, até no Carnaval que é o nosso maior evento temos as bicicletas no abre alas, tudo isso acaba colaborando para o crescimento deste uso”, diz Edington sobre o programa. 

Para os usuários, as mudanças ao longo do tempo já conseguem ser sentidas por quem pedala com frequência. “Ultimamente, a cobertura de ciclovias têm sido bem completa, ao menos pela orla, o que traz mais segurança e conforto para quem anda de bike. Na minha realidade, inclusive, possibilitou tornar os passeios de bike um hábito”, conta Fernando. “Estar de bike em Salvador é muito  desafiador e também maravilhoso por conta das condições climáticas da nossa cidade e as belezas da orla. Com a ampliação da malha de ciclovias por toda a cidade se tornou uma atividade muito prazerosa se praticada na segurança desses espaços. Ainda é um ponto negativo as complicações no trânsito e a falta de respeito em geral ao ciclista”, opina Arthur; 

Já Maria Clara Passos, apesar de pedalar apenas nos finais de semana como forma de diversão, por conta da profissão de arquiteta, percebe que a cidade pode ser ainda mais inclusiva quando o assunto são as bicicletas. “A utilização dessa prática como meio de transporte tem diversos benefícios coletivos associados à diminuição da poluição urbana e do tráfego de veículos. Mas, em Salvador, temos alguns pontos que dificultam ou limitam para que essa seja uma prática a ser aderida por todos, como, por exemplo, as características do relevo da cidade (muitas ladeiras e desníveis) e o clima característico de elevadas temperaturas, que demandam um esforço físico maior para realizá-la. Além disso, temos locais e bairros sem ciclovia, o que pode tornar a prática perigosa”, analisa a profissional. 

A intenção do Salvador Vai de Bike é justamente seguir melhorando as condições para que o meio de transporte esteja cada vez mais difundido na cidade. “Quando a gente começou, as gente identificou que os ascensores da cidade nenhum permitia a entrada das bicicletas e isso mudou, para conectar a Cidade Alta e a Cidade Baixa também para os ciclistas. Ainda há espaço para crescer e se transformar inclusive num crescimento ainda mais orgânico e constante. A prefeitura continua fazendo sua parte, melhorando a infraestrutura, estimulando os processos, pessoas e as organizações a estarem introduzindo a bicicleta na rotina. Temos um governo de continuidade e um prefeito eleito sempre sensível a essa situação, um motivador, que já ocupou cargos importantes de infraestrutura e que, com certeza, vai seguir incentivando a bicicleta enquanto meio de transporte e instrumento de saúde para as pessoas”, avalia o presidente da Saltur. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo