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Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2020 às 05:33
- Atualizado há um ano
O governo federal e a grande mídia culpam a explosão do consumo - que para eles fervilha em razão do auxílio emergencial de R$ 600 - para explicar o aumento exorbitante do preço do arroz.
O arroz é o que se conhece como um Bem de Giffen, que são produtos em que (de forma anormal) quando seus preços sobem o seu consumo também se eleva (normalmente seria ao contrário), pois o consumo sobe justamente por ele ser um bem de primeira necessidade em que as pessoas aumentam as suas compras para tentar fazer estoques domésticos.
Mas a questão é por que os preços subiram?
A partir do governo Temer, o governo federal vem relaxando com as políticas de segurança alimentar e manutenção de estoques reguladores de produtos agrícolas, talvez pelo fato destas políticas serem de cunho antiliberal.
Em 2019, o governo Bolsonaro extinguiu o CONSEA que atuava em políticas de combate à fome. Ao mesmo tempo, as políticas de manutenção de estoques reguladores foram deixadas de lado.
Segundo a CONAB, verificamos que o volume de estoques reguladores públicos de arroz vem desabando ano a ano. Vejam os números, 2012 = 1.366.087 de toneladas estocadas (ton); 2015 = 196.000 ton e 2020 = 21.592 ton. Resumo: de 2012 até 2020 o estoque público regulador de arroz caiu em 98,44%.
Em paralelo temos também a desvalorização do real. A desvalorização estimula as exportações e faz com que o agribusiness olhe para o mercado externo em detrimento do interno, reduzindo a oferta interna, mas ao mesmo tempo encarece todas as importações. Ah sim, a desvalorização também impede que empregadas domésticas visitem a Disney, é claro.
Para piorar, o preço do arroz no mercado internacional disparou desde o início da pandemia, pois alguns países exportadores de grãos limitaram suas exportações a partir do início da covid-19 para proteger suas populações, foram os casos da Rússia, Cazaquistão, Filipinas e Vietnã entre outros.
Devido a isso, a China aumentou o preço de aquisição de arroz para poder garantir suas compras e proteger e alimentar sua população (para quem o arroz é a base alimentar).
Juntemos então:
1) Nenhuma política federal de abastecimento e, portanto, redução drástica de estoques reguladores públicos;
2) Desvalorização do dólar que estimula as exportações de arroz e reduz a oferta interna,
3) Aumento dos preços internacionais do arroz devido à pandemia da covid-19.
O preço sobe por razões externas, independentes da vontade do Brasil ou do seu governo. Mas a subida de preços recebe um empurrãozinho nosso, para cima (devido ao câmbio desvalorizado e à falta de estoques reguladores e políticas de segurança alimentar).
Com tudo isso dizer que a elevação dos preços nos supermercados brasileiros é fruto do aumento do consumo dos nossos pobres em decorrência do auxílio emergencial chega ao ponto de ser uma piada.
Luiz Marques de Andrade Filho é economista, mestre em Administração, consultor financeiro e professor da Faculdade Baiana de Direito