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O Bahia do bem ampara seus ídolos


 

  • Paulo Leandro

Publicado em 11/08/2019 às 05:00:00
Atualizado em 20/04/2023 às 03:20:06
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Para que serve um clube de futebol? Qual sua finalidade ou o “telos”, como diria o grego das antigas, em busca de definir o que a coisa é? Ganhar títulos? Alegrar a torcida? Aumentar o patrimônio? Revelar jogadores? Representar seu Estado?

Pois o Bahia está nos mostrando que um clube de futebol pode ser muito mais que tudo isso junto. Uma agremiação esportiva tem o “telos” de educar a cidadania, transmitir valores, produzir ações positivas e fortalecer virtudes.

O projeto Dignidade aos Ídolos é uma ação cujos juízos são positivos, logo, seu valor é do bem, conforme entendi na boa aula de Ética. O Bahia de virtudes ampara aqueles que hoje, aposentados da bola, precisam de uma força.

Jogadores como o meia Helinho, tetracampeão de 1981 a 1984. Um dos heróis da Odisseia tricolor, quando Homero cantou em versos os 5x0 sobre o Santa Cruz que valeram a classificação para a Taça de Ouro em 1981. O Bahia precisava de 5 e fez 5.

“A gente combinou, eu, Osni, Robson, Leo, toda a rapaziada que íamos direto pra concentração depois de uma viagem a Campinas. E deu tudo certo. Outro jogo inesquecível foi a virada de 2x1 na decisão também em 1981, com o Vitória, em dois minutos a gente reverteu o placar no segundo tempo”.

Helinho sofre de diabetes, tem hipertensão e a bola não foi lá muito alegradora no assunto finanças. A aposentadoria não vem sendo fácil, apesar da felicidade do convívio com a família. O Bahia ajuda Helinho com um salário mínimo.

O coordenador Humberto Netto explicou que o projeto garante 0,31% do orçamento anual do clube para ex-ídolos. Uma ideia com este valor humanitário precisa ser copiada e ampliada por todos os grandes clubes do mundo.

Também ali no meio-campo, brilhou Alberto Leguelé, lançado por Jorge Vieira em 1972, contra o então campeão brasileiro, o Atlético de Minas. Saiu 0x0, ele ganhou a posição e do Bahia foi para a Seleção olímpica.

Leguelé reclama seu lugar entre os jogadores que fizeram parte do heptacampeonato, entre 1973 e 1979. Emprestado ao Flamengo em 1978, Leguelé, hoje com problemas nos joelhos, também tem apoio do clube.

“Eu estou junto com Sapatão, Baiaco, Douglas e Fito no hepta porque quando fui pro Flamengo já tinha jogado muitas partidas e, em 1977, estive machucado mas também atuei”.

Leguelé talvez seja o único octacampeão baiano da história porque, além de ter feito parte do plantel do hepta tricolor, quebrou o galho do Vitória, ao colaborar com o título de 1980, que interrompeu a série.

Também está na relação de ídolos da Previdência tricolor o lateral Maílson, que sofre de uma doença degenerativa, e recebe ajuda de três salários mínimos, recursos destinados para compra de medicamentos e pagamentos relacionados ao enfrentamento da doença.

E o ponta Jorge Campos, como poderia o Bahia abandonar aquele que viabilizou a compra do terreno e a construção do Fazendão, com a sua transferência ao Atlético Mineiro? Um atacante que formou no grande time de 1976, com Douglas, Beijoca e Jésum.

Naldinho, revelação da Catuense, também tem o amparo deste clube cujo coração bate em sintonia com a Bahia da Misericórdia, um dos traços mais firmes do nosso perfil identitário.

A relação dos convocados inclui o lateral Zanata, que sustenta a ele e uma filha pequena, mas não parou bem, como ocorria com frequência. O Bahia corrige, assim, seus próprios erros e mostra ao mundo que é mesmo o bom e do bem. 

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.