O bom capacho

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  • Nelson Cadena

Publicado em 22 de outubro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Chega uma hora na vida em que você dá um tempo para refletir, em busca da felicidade, e então se pergunta quais os ingredientes para ser feliz, se é que esse estado de espírito comporta um receituário. Comporta sim. A felicidade do ser humano, na minha avalizada opinião, não diga que não, depende de duas coisas: você ter um capacho na sua vida e, a segunda, exercitar o seu lado mau, pelo menos uma ou duas vezes por semana. A dosagem depende da necessidade e das circunstâncias.

Tenha um capacho para chamar de seu. E não me venha com escrúpulos bobos, aquela coisa de que ninguém é dono de ninguém, não é disso que estou falando. O bom capacho é aquele que dorme na sua cama. E se você é homem não hesite em pedir a ela, meia noite, para lhe preparar um misto e aí, 10 minutos transcorridos, você grita: “Amor faça um suquinho também e não esqueça o guardanapo... e as sandálias, viu... e da comida do cachorro”.

 Mas se você for mulher, vá com jeito, aconselho, faz um biquinho e revire os olhinhos antes de falar: “Mó, você faz um favor para mim, promete?”. “Depende. Se não for para me ajoelhar nos seus pés, tudo bem”. Desconsidere a grossura, faça carinha de emoji, olhos virados para cima e boca aberta, que seu capacho logo, logo, se rende: “Tá bom amor, se você pedir eu ajoelho e mais o que você quiser, minha linda”. Viu como é fácil. O ponto alto do bom capacho, o auge, é coçar as costas dos outros. Acabou de fazer as unhas, e dai? Esqueça. As obrigações do capacho em primeiro lugar. Lembre que o empoderamento do bom capacho passa e se consolida nessas situações.

Mudando de assunto, exercitar o seu lado mau é um pouco mais complicado do que ter um capacho de estimação. O seu lado bom você exercita todos os dias, por índole, ou por adaptação social, já o lado mau fica meio descuidado e quando menos você atenta a seu redor, já montaram em cima, estão lhe explorando, lhe sacaneando, se vacilar lhe chamam de otário, e, mesmo que você reconheça que é, não é agradável ser lembrado disso. Exercite o seu lado mau para não atrofiar. Sugiro dentro de casa, onde você estabelece filtros para não passar dos limites, nessas horas o coração apela; se apelar para valer ponha algodão nos ouvidos e siga em frente, cumpra a tarefa e pratique a maldade da semana.

A essas alturas você já percebeu que o maior alvo para exercitar o seu lado mau é seu capacho, mas tem um alvo mais produtivo e que lhe rende eternos dividendos de sacanagem: filhos e netos. Sacanear um filho, ou um neto, mais crescidinho, é mais prazeroso que falar mal dos outros. O lado bom é que um dia, em reunião de família, Natal ou São João, eles vão passar isso na sua cara e dar muitas risadas. Como você era escroto meu pai? É, meu avó ”. Kkk. Outra faceta desse lado bom é que uma maldadezinha bem dosada, do tipo deixar um dia sem almoço, educa. Acabaram com a palmatória, ainda bem que não com a sacanagem. Amanhã, eles ajudam a cortar tempero, ou descascar as batatas. Quem sabe, lhe surpreendam preparando um macarrão para você.

 Exercitar o seu lado mau, no trabalho, pode lhe proporcionar emoções orgásticas, a depender do contexto, mas não aconselho. O feitiço pode se virar contra o feiticeiro. E tem a questão do filtro, que em casa seu coração estabelece, mas no serviço, a depender da raiva, pode extrapolar. Melhor praticar na sua residência. São outras emoções. Faça a maldade com um risinho na boca. Contenha o riso escrachado, esse você libera quando ninguém estiver ouvindo, ou, olhando. E seja feliz.!

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras