Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Nelson Cadena
Publicado em 17 de novembro de 2022 às 05:00
Só que não ganhou. Quando Ary Barroso compôs o samba Brasil Há de Ganhar, imortalizado na voz de Linda Baptista, nas irradiações da Rádio Nacional e outras rádios pelo Brasil afora, em 1950, estava em sintonia com milhões de brasileiros, na expectativa de que a nossa seleção conquistaria a Copa. O status de anfitrião e a qualidade reconhecida de seus jogadores, assim sugeriam, iriam fazer acontecer: “O Brasil há de ganhar ê ê/Para se glorificar é é/Bota a pelota no gramado/Palmas pro selecionado/Deixa a moçada se espalhar”. Ary Barroso ousou na assertiva do título, sem margem para a possibilidade de nossa seleção sofrer uma derrota. “Pelota” é a mãezinha, pelo amor de Deus, Ary, referência hispânica desnecessária.>
No mesmo clima de otimismo, Lamartine Babo compôs para ser interpretada por Jorge Goulart a marchinha oficial da seleção brasileira: “Eu sou brasileiro/Muito boa a gente brasileira é/Vamos torcer com fé/Em nosso coração/Vamos torcer para o Brasil/Ser campeão”. Não foi. Torcemos sim, de nada adiantou. Lamartine Babo exaltava em outros versos da música, o novo estádio, o Maracanã, motivo de orgulho para todos os fãs do esporte, reconhecido como o maior do mundo em exemplar reportagem da revista Time. Jorge Goluart cantou: “Salve, salve, nosso estádio Municipal/No campeonato mundial/Salve a nossa bandeira/Verde, ouro e anil/Brasil, Brasil, Brasil”.>
Sambas e marchinhas como as de Ary Barroso e Lamartine Babo ditavam a pauta das gravadoras e, em se tratando de grandes eventos como o Carnaval e a Copa do Mundo, não poderia ser diferente. Futebol e Carnaval sempre andaram de mãos dadas. Quando Jackson do Pandeiro gravou, em 1962, o Frevo do Bi, o frevo já era o gênero musical que prevalecia nos carnavais da Bahia, do Recife e Olinda e no carnaval de rua do Rio de Janeiro. A letra do Frevo do Bi destacava os craques da Copa de 1958, na sua primeira estrofe: “Vocês vão ver como é/Didi, Garrincha e Pelé/Dando seu baile de bola/Quando eles pegam no couro/O nosso escrete de ouro/Mostra o que é nossa escola”. Regravado por Tom Zé e Gereba, em 1990, já era frevo baiano.>
O Frevo do Bi fez menos sucesso do que o samba improvisado A Taça do Mundo é Nossa, composto após a conquista pelo Brasil da Copa de 1958, na Suécia, e menos do que o Frevo do Tri, que Jackson do Pandeiro gravou após a vitória, na Copa de 1970. Errou no verso “A taça não sai mais daqui”. Saiu. Saiu da vitrine e foi para a fornalha. Roubaram e virou ouro derretido. A Taça do Mundo é Nossa, de autoria do Victor Dagô, Maugeri Sobrinho, Lauro Muller e Wagner Maugeri, se perpetuou em várias gravações e mixagens e em novos ritmos: “A taça do mundo é nossa/Com brasileiro não há quem possa/Êh eta esquadrão de ouro/É bom no samba, é bom no couro”.>
Antes do samba de Ary Barroso e da marchinha de Lamartine Babo, em 1950, ouvimos na Copa de 1938, realizada na França, uma marchinha sem graça e emoção de Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho, interpretada por nossa embaixadora no mundo Carmen Miranda. Sem graça e sem bola, futebol, craques... Exaltação pura da cidade-luz e de suas mulheres bonitas de olhos azuis, do Rio Sena e outras referências gaulesas. Paris, Paris, não emplacou. Ninguém deu bola.>
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras>