O conservador acredita que existe uma ordem moral duradoura

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

No capítulo intitulado Dez Princípios Conservadores, do livro A Política da Prudência, do conservador norte-americano, Russell Kirk, um dos mais influentes conservadores do século XX, elenca as principais concepções de todo conservador que se preste. Aqui em Pindorama o bolsonarismo é confundido com conservadorismo. Na verdade, é um reacionarismo em voga, uma reação à civilização ocidental moderna. Contudo, não é um fenômeno isolado.

O primeiro princípio: “o conservador acredita que existe uma ordem moral duradoura”, significa que criar instabilidade, caos como método político, vai de encontro à crença numa ordem moral coletiva, permanente. O que o governo e os sectários fazem? Promove a disrupção e a negação de tudo: ciência, academia, estado, imprensa, direitos individuais. Milícias ideológicas extremistas são sempre programadas para a destruição moral, intelectual da política e dos costumes. Reacionários querem fazer a história girar para trás.

O segundo princípio: “o conservador adere aos costumes, à convenção e à continuidade”. A lei deve garantir direitos e deveres que estão de acordo com as normas vigentes. “Conservadores preferem o mal que conhecem ao mal que não conhecem”. (KIRK, 2013, p.105).

O terceiro princípio: “conservadores acreditam no que se pode chamar de princípio da consagração pelo uso”.  Ou seja, é melhor guiar-se pelo uso corrente da memória coletiva, que passou por testes, do que viver a aventura de salvadores da pátria, de gurus de plantão, vide Olavo de Carvalho e seu rebanho.

O quarto princípio: “os conservadores são guiados pelo princípio da prudência”.  Estadistas, homens públicos, devem ter em seu espírito a temperança, a moderação como virtude máxima. O conservador deve refletir mil vez, prever a consequência de seus atos, evitando caos. Bolsonaro é prudente ou um adulto não crescido?

O quinto princípio. “os conservadores prestam atenção ao princípio da variedade”. Ordens, classes, oposições, diferenças materiais garantem a pluralidade social. “Se as diferenças naturais e institucionais entre as pessoas forem destruídas, em breve algum tirano ou alguma sórdida oligarquia criarão novas formas de desigualdade” (KIRK, 2003, p.107).

Sexto princípio: “os conservadores são disciplinados pelo princípio de imperfectibilidade”. Sendo o ser humano imperfeito, qualquer construção humana também será imperfeita. Mas há quem acredite em seres incorruptíveis, auras cândidas guiados pela Divina Providência.

Sétimo princípio: “os conservadores estão convencidos de que a liberdade e a propriedade estão intimamente ligadas”. A ausência de propriedade privada gera instabilidade e improdutividade à comunidade política.

Oitavo princípio: “os conservadores defendem comunidades voluntárias, da mesma forma que se opõem a um coletivismo involuntário”. As comunidades locais conhecem mais os seus problemas do que um observador externo, que dita uma certa ordem universal. Qualquer decisão centralista, uniformizadora, de cima pra baixo, vai de encontro à justiça e prosperidade das comunidades.

Novo princípio: “o conservador vê a necessidade de limites prudentes sobre o poder e as paixões humanas”. É fundamental equilibrar e limitar o poder político. O conservador jamais deve aceitar ou acreditar na benevolência humana, a priori, ainda mais com alguém que possui poder.

Décimo princípio: “o conservador razoável entende que a permanência e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade vigorosa”. O conservador não é contrário às transformações; elas devem ser operadas de forma lenta e gradual. Então, leitores, não há nada de conservadorismo no governo que está aí.  Referência. KIRK, Russell. A política da prudência. Tradução de Gustavo Campos e Marcia Xavier de Brito. São Paulo: É Realizações, 2013.

Alan Rangel é doutor em Ciências Sociais/UFBA e professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu. 

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores