O Elevador do Taboão

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  • Nelson Cadena

Publicado em 7 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Uma década transcorreu até o projeto do Elevador do Taboão sair do papel e, quando saiu, era outro, modificado. O projeto inicial, aprovado em 1886 e desde meados da década de 1870 em discussão na Assembleia Provincial, previa um elevador funcional dentro do objetivo que levou os investidores a construir o equipamento, ou seja, o transporte de mercadorias da Cidade Alta para a Cidade Baixa, atendendo a demanda do rico comércio da região. Pretendia-se acabar com o ir e vir de carroças puxadas por burro em íngremes ladeiras, pesadas cargas que sufocavam carroceiros e animais. A ideia era um elevador duplo, com duas cabines grandes para as carroças com mercadoria e duas menores para os passageiros. Nem imagino a manutenção dessas cabines, limpando toda hora o cocô dos asininos.

Quando da inauguração, em 16 de janeiro de 1896, outro era o elevador projetado na planta inicial. Não mais funcional, voltado somente para atender o fluxo de passageiros. Os baianos olharam com desconfiança o novo elevador, apesar de sua estrutura de ferro inglês, adquirido a preço de ouro, a ponto de quebrar a concessionária que com apenas um ano de serviço passou a encrenca adiante. A memória recente da primeira inauguração do Plano Inclinado Gonçalves, em 1888, que despencou nas primeiras semanas de uso, matando cinco pessoas, era uma incômoda lembrança. Reconstruído e com novo sistema de freios, voltou a funcionar no ano seguinte.

O Elevador do Taboão era diferente do Gonçalves. Era hidráulico, semelhante ao do Elevador Lacerda e construído com material mais resistente e não operava sobre trilhos como o do Plano Inclinado e o do Pilar. Morro de curiosidade em saber qual o impacto sobre os planos e preparativos de construção do elevador, após a tragedia do Taboão, de 04 de março de 1890, a maior da cidade na sua história, quando a ladeira praticamente voou pelos ares. Muitos feridos, 40 mortos e uma sequência de incêndios, esse foi o saldo da explosão de um depósito clandestino de pólvora. O Elevador começou a ser construído no ano seguinte ao sinistro. O espaço original dos terrenos doados por Manoel Brandão, foi ampliado?

Com sua torre de 28 metros de altura, o Taboão foi comparado pelo diretor da Transportes Urbanos, Teodoro Teixeira Gomes, num surto megalomaníaco, à Torre Eiffel. Excesso de orgulho pelo material empregado, ferro inglês da melhor fundição, ótimo para o clima Europeu, menos resistente nos trópicos. A corrosão do material pelo salitre da Baia de Todos Santos foi causa recorrente nas paradas do equipamento, pontuais e a que parecia definitiva, há mais de seis décadas. A caldeira do elevador era alimentada com carvão de pedra de Cardiff, importado do País de Gales. O povo o denominou de Parafuso dos Pobres, numa alusão ao Lacerda, chamado de Parafuso.

O sinistro de 1890 modificou parcialmente o perfil de ocupação da Ladeira do Taboão: Se estabeleceram lojas de fazendas, de miudezas, chapeleiros, oficinas de latoeiros, lojas de imagens, de material de construção, de instrumentos musicais...

 Não é de se estranhar que o Elevador do Taboão, reconstruído pela Prefeitura e inaugurado semana passada, tenha ficado tanto tempo desativado. Alguém que arde no último círculo do inferno de Dante jogou uma praga nos elevadores da Cidade da Bahia. Todo ano quebra um, as vezes todos ao mesmo tempo, isso já aconteceu. Os elevadores da Preguiça e da Graça não saíram do papel, os construídos quebram um ano sim e outro também. Os construtores do Lacerda e do Taboão faliram. Se não é praga é o que?

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras