O jovem nerd baiano que faz entrevistas estranhas com astros de Hollywood

'Trollado' por Wesley Snipes e acolhido por Mel Gibson, Pedro Duarte se orgulha dos papos malucos em promoções de filmes e seriados; assista

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  • Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2021 às 05:40

- Atualizado há um ano

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Num quarto escuro de um apartamento localizado numa rua com nome de estado, na Pituba, há um portal para um universo de fantasia que só um baiano tem acesso. Não chega a haver mágica no processo, embora a tecnologia de um notebook Avell possa dar essa impressão quando coloca o jornalista e escritor Pedro Duarte, 34 anos, em contato direto (e quase cotidiano) com estrelas de Hollywood e outros astros das mais famosas produções audiovisuais do mundo. Pedro com Mel Gibson e John Lithgow após bate-papo em Los Angeles, em 2017 (Foto: Acervo pessoal) Antes da pandemia, na verdade, esse contato era ainda mais próximo, pessoalmente mesmo: gerente de conteúdo no Jovem Nerd, a maior plataforma multimídia voltada ao público nerd e geek do país, Pedro costumava viajar para cobrir lançamentos de filmes e séries, o que lhe rendeu uma coleção de entrevistas – tête-à-tête ou tela a tela – estranhas ou, no mínimo, curiosas. Entre os protagonistas de papos pra lá de qualquer coisa nomes como Dolph Lundgren, Tessa Thompson, Wesley Snipes, Bill Pulmman e Mel Gibson, de quem recebeu elogios e até um abraço após um mal entendido.

“Eu tava muito nervoso, e ele tava muito engraçado. No final, o assessor (de Gibson) ficou gesticulando uma coisa e entendi que eu tinha mais tempo, só que na verdade ele tava dizendo que tava acabando. E aí quando ele falou que acabou, eu reclamei, o assessor ficou puto, mas Mel Gibson levantou e me deu um abraço e falou que eu era muito engraçado”, recorda sobre os bastidores da conversa em Los Angeles com Gibson e John Lithgow, na divulgação de ‘Pai em Dose Dupla 2’. Assista.

Menos de um ano antes disso começava a jornada de papos com astros que descambam para desatinos e devaneios imprevistos. Ainda mais nervoso, afinal era uma de suas primeiras entrevistas, perguntava a Bill Pullman, no lançamento de ‘Independence Day: O Ressurgimento’, se o ator acreditava em vida inteligente fora da Terra. 

“Foi muito interessante porque ele começou a falar sobre formigas e alienígenas. Eu perguntei se ele acreditava em aliens, e ele falou algo como: ‘olha, se a gente come formiga, por que não?’ Ele fez uma ligação muito estranha e aí acho que começou a minha carreira de entrevistas com situações estranhas, da qual me orgulho”, conta Pedro, que também é roteirista e apresentador.

Snipes da capoeira Mais recentemente, quando se apresentou a Wesley Snipes e Tracy Morgan, inventou de comentar que é baiano, e a resenha começou no primeiro minuto da conversa. “A entrevista foi muito louca, porque ele viu que eu era da Bahia, aí falou de capoeira, ficou tirando sarro, falando português. Ele falou 'tchau' no início e 'obrigado', 'bem-vindo' no final. Ele sabia do que tava falando, e foi muito engraçado”, relata sobre o lançamento de ‘Um Príncipe em Nova York 2’, há dois meses.

Snipes tentou justificar a zoação. “Às vezes, o capoeirista dá uma cambalhota e vai de um lado para o outro, quando você está na roda”, disse o ator, misturando os idiomas para tentar dar uma rasteira no baiano.

Emma, Emma, Emma Mas nem toda troca de ideia com Pedro Duarte acaba em com as ideias trocadas. É o que prova o papo da semana passada com parte do elenco de ‘Cruella’. A protagonista, Emma Stone, ajudou a tornar as coisas mais fáceis após o repórter cair de paraquedas na conversa com ela e os colegas Paul Walter Hauser e Joel Fry.

“Fui jogado na sala, do nada. Coisas da pandemia, a gente fazendo tudo virtual. Mas ela foi um amor, incrível, entrou na brincadeira do delay, das conexões com problemas e tudo”, comenta o jornalista, que realmente foi tratado com muita simpatia pela estrela hollywoodiana.

“A maioria das pessoas quer estar ali. Querem trabalhar e promover os filmes. Claro que alguns ficam exaustos porque, às vezes, são 20 entrevistas por dia, e as perguntas meio que se repetem, tudo é muito corrido; são só 5 minutos contados com cronômetro, com assessor falando, você nunca está sozinho. Então, é uma loucura”, comenta o repórter, que considera sua função principal “fazer render” as conversas. “E eu acabo fazendo render essas maluquices sem querer”.

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Foi o que aconteceu num episódio envolvendo outra atriz do momento. Em janeiro de 2019, Tessa Thompson (Valquiria de ‘Thor: Ragnarok’), à espera de um bebê, veio ao Brasil para a turnê de divulgação do filme ‘Creed II’. “Eu falei da gravidez e acabei imitando uma grávida, e aí ela ficou, ‘como é que é? Como é que é?’, tirando sarro”. 

Também teve a vez em que o protagonista de ‘Shazam’, Zachary Levi, tratou de ajudar o jornalista a fazer as coisas darem certo. “Deu um negócio na câmera aqui no Brasil, e ele começou a dirigir a entrevista. Perguntou se ele mesmo podia começar e deu o ‘action!’ Eu acho que essas coisas só acontecem comigo, dos convidados entrarem nessas loucuras, nessas coisas estranhas”, admite o pitubano criado no Rio Vermelho.

Quase normal Embora o foco esteja nos percalços da nada mole vida de entrevistar famosos, também há espaços para momentos mais ortodoxos, a exemplo de uma foto de bastidor fingindo ser boxéu ao lado de Dolph Lundgren, o eterno Ivan Drago de ‘Rocky IV’. Jornalista dando uma de Rocky Balboa pra cima de Dolph Lundgren (Foto: Acervo pessoal) Numa das viagens a Los Angeles, onde fica Hollywood, se hospedou no hotel onde foi filmado ‘Uma Linda Mulher’. “E o hotel era um espetáculo. No café da manhã, se você pedisse um pão com ovo era capaz de vir com fios de ouro comestível por cima”, ilustra, citando a vez que entrevistou Will Ferrell e Mark Wahlberg para o mesmo filme de Gibson e Lithgow. 

Ah, sim: essa entrevista também tem uns momentos engraçados por motivos de Will Ferrell. Confira.

Mas se você acha que Pedro pescou famosos com bomba nesse dia com quatro astros entrevistados, teve dias 'piores', em que resenhou com mais de cinco de um mesmo elenco, como na promoção do filme ‘Space Force’, com destaque para Lisa Kudrow (Phoebe de ‘Friends’) e John Malkovich (John Malkovich!); ou quando falou com a galera da série ‘Lovecraft Country’, incluindo o protagonista Jonathan Majors; ou ainda na troca de ideias com Randall Park e Kat Dennings, do seriado WandaVision, todas entrevistas razoavelmente recentes.

Nerd sem nerdice Embora seja um dos nerds mais famosos do Brasil – o alcance do conglomerado Jovem Nerd é gigante, incluindo 5,5 milhões de inscritos nos canais do YouTube –, Pedro Duarte não se enquadra bem no estereótipo, apesar de os óculos de armação grossa e o cabelo partido no meio darem margem para isso.

“Sempre fui nerd, mas não consigo dizer ‘ah, eu sou o cara que gosta de cultura pop, nerd ou geek’. Eu gostava de tudo, então, eu era nerd acho que no sentido de quem vai atrás muito de algo que gosta”, explica, citando a ausência de bullying na escola, a participação nos babas e, especialmente, nas festas –   nada de viver e morrer estudando. “Ia pros reggaes todos, pra Carnaval. Não participei da jornada clássica de um nerd, porque eu não era o cara do (óculos) fundo de garrafa”, diz o ex-aluno do fundo da sala. Pedro Duarte (@pedrohduarte) foi o criador da loja virtual Japapop e do site e festival Bacanudo, já descontinuados (Foto: Manuela Cavadas/Divulgação) Deixar o galho na Bahia, terra quase deserta de nerds, também não deu muito certo por um motivo que o impediria de visitar o set de filmagem Frozen (brinqs!). “Eu voltei de São Paulo, onde passei um ano, essencialmente porque eu odeio frio. Quando tava frio lá, eu ficava muito mal humorado, não saía de casa, praticamente. Pode ser o paraíso, com frio, não dá. Só pra visitar”, sentencia o parceiro do pinguim Pablo, de ‘Você Já Foi à Bahia?’, que corre do Polo Sul porque detesta uma friaca.

Podcast e livro Antes de voltar ao polo nordeste, com livro e podcast de sucesso, Pedro inventou outras duas artes que o colocaram entre os nerds mais bem relacionados do BR. Aos 21 anos, abriu uma loja virtual voltada para a comercialização de produtos da cultura pop japonesa. A maioria das quinquilharias, curiosamente, fabricada na China. Além do virtual, rodava todo tipo de evento pelo país que reuniam nerds e geeks interessados em animes, mangás e afins. 

Depois, de 24 pra 25 anos, montou o Festival Bacanudo, filhote do site de entretenimento Bacanudo.“Eu fechava o Teatro Eva Herz com pessoas do Brasil inteiro. O festival nasceu em Salvador, com patrocínio, com tudo, e depois virou um evento itinerante em mais três cidades: Brasília, Recife e Fortaleza. Sempre fui um agitador cultural”, diz sobre sua fase pré-Jovem Nerd.As duas agitações mais recentes têm nomes e formatos bem distintos: a primeira, o podcast ‘This is Brazil’, em parceria com o amigo carioca Nícolas Queiros, criado no início da pandemia.

“Na verdade, a pretensão era: ‘não vamos fazer isso virar um trabalho, vamos publicar quando a gente quiser’. Mas aí o negócio foi tomando uma proporção, e hoje a gente tem 44 episódios, 1,2 milhão de plays, e tamos aí com publi, fechando parceria... virou uma empresinha”, comemora.  ‘Gastaria Tudo com Pizza’, livro de ficção científica lançado por Pedro no ano passado (Foto: Andressa Almada/Divulgação) A segunda é o livro de ficção científica ‘Gastaria Tudo com Pizza’ (Pipoca & Nanquim), o terceiro da carreira, e que conta a história de um cara que inventa uma forma de abrir portais no espaço-tempo para um universo de fantasia usando não um notebook de última geração, mas uma máquina de escrever azul-bebê.