O país do futebol de fantoches

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 10 de março de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

De uma hora pra outra, Marco Polo Del Nero, aquele que não pode sair do país porque seria preso pelo FBI e não pode entrar na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) porque desobedeceria o afastamento imposto pela Fifa, conseguiu fazer um arranjo nos bastidores para que as próximas eleições da entidade máxima do futebol nacional tenham candidato único – que seja um cupincha seu, é claro.

O escolhido é Rogério Caboclo, oficialmente diretor executivo da confederação, mas na verdade é quem comanda as ações em nome de Del Nero, já que, com todos os indícios de corrupção, a Fifa não teve outra opção a não ser empurrar o presidente pra fora do campo.

No meio deles, fica o coronel Nunes, um espantalho que senta de forma interina na cadeira da presidência da CBF, mas não serve para muita coisa além de dizer bobagens. Aliás, por ordem superior, nem entrevistas ele dá mais, sempre na tentativa de evitar a multiplicação de despautérios como “não acredito em corrupção no futebol. Nunca vi isso”.

O caso é que, da sala de casa, Del Nero montou todo o esquema para conseguir que pelo menos 20 federações estaduais assinassem um documento de apoio a Rogério Caboclo. Dessa forma, ninguém mais poderia concorrer, pois é obrigatório o suporte de ao menos oito entidades regionais para que um postulante entre na disputa do comando da CBF.

Meticuloso, Del Nero foi atrás do apoio de cartolas como Ednaldo Rodrigues, que preside a Federação Bahiana de Futebol há mais de 15 anos e, ao primeiro sinal de que poderia ganhar concorrência na próxima eleição local, já começou a se movimentar para manter as ligas amadoras do interior sob sua tutela. Ou seja, trata-se apenas de uma reprodução localizada da estratégia nacional.

Se o jeito é reproduzir, basta olhar o atoleiro do futebol baiano, com clubes acabados e nível técnico de dar dó, para vislumbrar com mais clareza a situação do futebol nacional. No geral, não tenha dúvida: o que prevalece é essa várzea mesmo que vemos por aqui. Aquele Campeonato Brasileiro com alguns bons jogadores e imagens (às vezes) bonitas é apenas uma exceção que serve somente para confirmar a regra.

E os clubes, ficam onde nisso tudo? Os clubes, até que se prove o contrário, ficam passivos, reféns que são, em sua maioria, de dirigentes que se locupletam na engrenagem da CBF e das federações estaduais.

Neste cenário, oferecem as estrelas para um espetáculo do qual não participam em nada da organização, ficando sujeitos a engolir sapos como de quando a CBF queria empurrar para as equipes os custos (superfaturados, registre-se) do árbitro de vídeo.

Este é o “país do futebol”. Um país em que o principal mandatário do esporte está proibido de participar do jogo, mas controla impunemente todas as peças.

Sem vergonha O efeito suspensivo existe e está ao alcance de todos, é verdade. Mas ver Bahia e Vitória recorrendo a ele depois daquele show de horrores do Ba-Vi e, principalmente, depois de toda aquela conversinha (mole) moralista e de promessas de punição serve apenas para cristalizar a certeza de que a falta de vergonha na cara não tem cor ou escudo. Ela é universal.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.