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Nelson Cadena
Publicado em 12 de março de 2020 às 05:38
- Atualizado há um ano
Em 2 de outubro de 1915, o Hospital Santa Izabel da Santa Casa da Bahia entrou para a história realizando a primeira transfusão de sangue do país a utilizar o revolucionário aparelho desenvolvido médico argentino, Dr. Luís Agote; consistia em duas bombas de sução, uma para sugar o líquido, outra para injetá-lo e uma mangueirinha por onde o sangue corria, no processo recebia uma mistura de citrato de sódio. Doador e paciente ficavam, de braço esticado, um olhando para a cara do outro. A inovação da técnica de Agote é que evitava a coagulação. Até a sua descoberta, esse era o Calcanhar de Aquiles das transfusões realizadas no mundo inteiro.
Três personagens devem ser destacados nesse pioneirismo. O Dr. João Américo Garcez Froes, professor da Faculdade de Medicina e médico da Santa Casa; a paciente M.S de 26 anos, natural de Iguape, com um quadro de hemorragia provocada por um pólipo uterino e o servente da enfermaria do Santa Izabel, e João Cassiano de Santana, 22 anos, o doador, que antes se submeteu a um procedimento pelo método de Wasserman para descartar a possibilidade de seu sangue estar contaminado pela sífilis, a doença de maior incidência na época.
João Cassiano era um rapaz solidário e corajoso, nada mais desacreditado no mundo do que as transfusões de sangue, experimentações cujos resultados não eram satisfatórios, de alto risco. O histórico de transfusões realizadas na Europa, com o uso de sangue animal, diversos anticoagulantes e misturas que incluíam o leite de vaca, favorecia esse descrédito entre a comunidade acadêmica. O sucesso da primeira transfusão realizada pelo Dr. Froes, animou o médico a fazer novos procedimentos.
Em 25/10/1916, a garota M.F. L de 18 anos, com um quadro de anemia provocado pela sífilis, recebeu o sangue do aluno do quinto ano da faculdade Adalberto Silva Visco. Em 26/07/1916, a doméstica F.C de 31 anos, com um quadro de ictérica agravado por uma blenorragia, recebeu o sangue de Godofredo Vicente Viana, estudante de terceiro ano da faculdade. As reações de aparente rejeição desta vez assustaram o médico que recorreu a banhos hidroterápicos em altas e baixas temperaturas até estabilizar a paciente. O sobressalto não desanimou o Dr. Froes. Pela mesma época o jovem A.J.E de 21 anos, com anemia provocada pelo paludismo, recebeu o sangue do estudante de medicina Luís da Silva Guerra.
Há um quarto personagem a se destacar nesta história de pioneirismo do Santa Izabel, na época com exatos 100 anos de expertise como hospital escola, a formanda de medicina Isaura Leitão, que documentou o passo a passo das transfusões de sangue, na sua tese de doutorado apresentada em 25/10/1916, documento único no Brasil, desse gênero, raridade bibliográfica pertencente ao acervo da Biblioteca Gonçalo Muniz do Pelourinho.
Ao Dr. Froes da Santa Casa da Bahia credita-se o pioneirismo, no país, no uso de método de Agote e o pioneirismo no Norte e Nordeste das transfusões de sangue. Documentado e fotografado. Acredito que possa ter sido o pioneiro, também, no Brasil, independente do procedimento utilizado. A literatura médica credita aos Drs. Brandão Filho e Armando Aguinaga o pioneirismo, sem registros de data e nem documentação, apenas vagas citações. Sabemos pelo jornal Correio da Manhã (RJ) que Aguinaga, um dos maiores obstetras do país, concluiu seu curso de medicina em 1911 e no ano seguinte fez o internato. Idem o Dr. Brandão Filho. Dois jovens recém formados fariam uma transfusão de sangue antes de 1915?