O que fazer quando encontrar um pinguim em Salvador

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  • Kátia Borges

Publicado em 21 de junho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Em julho de 2015, cinco pinguins perdidos vieram parar na Bahia. Um deles foi resgatado por um pescador na Avenida Beira Mar, na Praia da Ribeira. Um operário que trabalhava nas obras de requalificação do bairro atravessou a rua e meteu os pés na areia para fazer uma selfie e mostrar ao filho, dizia a reportagem.

Especialistas do Instituto Mamíferos Aquáticos explicaram que aquelas aves, provavelmente, nadaram desde a zona costeira da Argentina. De Buenos Aires a Salvador são 3.760 milhas marítimas. A distância justificava a exaustão do pinguim da Ribeira, relatada ao repórter pelo homem que a encontrou.

Nas imagens feitas pelo fotógrafo, já engaiolada e aquecida, a ave parecia pedir um nome que a singularizasse. Pensei em Noa, porque significa repouso. O jornal publicou, no dia seguinte, nova matéria sobre o caso e um quadro de instruções com o título “Saiba o que fazer quando encontrar um pinguim em Salvador”.

Fiquei preocupada. A lista publicada no jornal possuía numerosos itens. Por duas vezes, repetia que não se deve dar nenhum alimento a eles. Anotei essa orientação com destaque em um de meus cadernos. Também escrevi à caneta, circulando em vermelho, que não é recomendável molhar os patos-marinhos após o resgate.

Eu sou uma pessoa muito precavida, porém um pouco distraída. Só na terceira notícia que li, soube que se tratava de um Pinguim-de-Magalhães, espécie que, vez em quando, erra a rota no Atlântico e vem parar na Bahia. Em 2008, mais de mil deles apareceram ao longo do litoral. Também já encontraram foca e até lobo marinho.

“Pegaram uma corrente errada”, observou a veterinária ouvida na matéria. No ano em que apareceram na Bahia mais de mil pinguins, um rapaz foi detido tentando vender um deles. Pedia R$ 500. Comentei com um amigo sobre isso e ele falou para mim: “ainda bem que esse cara não encontrou a minha mãe, ela ficaria louca”.

Outros conhecidos também disseram que comprariam um pinguim vivo. Lembrei o conto de Clarice Lispector sobre a menor mulher do mundo, aquele trecho em que a autora descreve a recepção das manchetes, o efeito nas pessoas, e pensei que até os pinguins perdidos estão em vantagem em relação aos seres humanos.

É que naquela mesma época, em julho de 2015, eu havia lido sobre uma mãe viciada em crack que tentou vender a filha por R$ 5 a um traficante. Para ajudar a criança, uma pessoa teve que “comprá-la” por R$ 15. A menina foi parar na Vara da Infância e Juventude. O mundo sempre foi um lugar estranho, caro leitor. Muito estranho.