O sorriso do gato de Alice

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  • Kátia Borges

Publicado em 31 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Gosto dessa coisa de ouvir/ler/contar histórias desde sempre. Algumas guardo de memória desde os cinco anos. Culpa de minha avó, que nos assombrava com suas fábulas. Havia um componente mágico em tudo que ela contava. Tramas marcadas pelo extraordinário que roubavam o sono e que eu amava escutar, quietinha, sentada no chão, diante de sua porta – a noite iluminada pelo candeeiro a querosene.

Quando a contação terminava, a cabeça seguia revolvendo cada detalhe por horas, tentando processar o inexplicável, até cair no sono por cansaço. Me pergunto ainda hoje se algumas daquelas personagens realmente existiram. Talvez morassem na aldeia celeste de onde a roubaram para o casamento. Vinham do tempo em suas pálpebras, assim como os sambas que cantava rindo, repleto de sotaques.

Mas, talvez, minha avó apenas inventasse, como o faz agora minha irmã que herdou seu nome. Que destino emprestar ao que não se sabe? Uns dizem que corre no sangue, afluentes de rios fantasmas nos subterrâneos de alguma cidade, e todas aquelas lendas onde a maldade se recolhe diante da inocência. A intuição como uma lição que se aprende, corporalmente, à simples menção de um nome.

É preciso estar atento aos detalhes. E forte, porque vivo. Quando entrei em contato com livros, minha avó já estava morta. Foi como se retornasse a um universo conhecido por outro caminho, trilha mais acidentada e longa. Como se viajasse imensas distâncias para rever velhos amigos, tive que aprender a ler para ouvir histórias.

Forço a memória em busca dos primeiros títulos, dos primeiros textos impressos lidos no material didático, das dezenas, centenas, de revistas em quadrinhos, e tudo aquilo apenas dera prosseguimento ao gosto pelo intangível despertado na infância. Tocar o livro, passar a página, respirar seu hálito de pólen equivaliam à voz de minha avó no ouvido, a desfiar em looping suas fábulas.