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Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 05:09
- Atualizado há 2 anos
Por que as pessoas viajam? Para que serve o turismo? Viagens podem representar uma fuga da rotina, uma oportunidade para descansar ou até mesmo uma forma de se conectar consigo mesmo ou com a natureza e, sobretudo, aprender. Entretanto, o desenvolvimento da atividade turística ocorre em um cenário de desigualdades sociais, o que costuma privar muitas pessoas de viajar e de exercer o pleno direito à cidadania.>
O conceito de turismo social surgiu nas primeiras décadas do século XX com o objetivo de proporcionar férias e lazer ao maior número de pessoas e, mais recentemente, agregou o estímulo ao respeito às diferenças culturais, além de incentivar as viagens daqueles que, pelos mais variados motivos, não fazem parte do perfil de clientes da indústria turística tradicional.>
O Comitê Econômico e Social Europeu define o turismo social explicitamente como um direito. Apesar disso e de sua importância para a inclusão social e de seu potencial como instrumento de educação não formal e de promoção da cidadania, trata-se de um conceito ainda pouco conhecido no Brasil e na maior parte do mundo, mesmo após a criação da Organização Internacional de Turismo Social (ISTO), na década de 1960, quando se abriu uma nova perspectiva em relação a essa atividade. >
O turismo social evoluiu de um conceito destinado a facilitar o acesso a viagens de férias para camadas da população com menor poder aquisitivo para uma proposta muito mais ampla e holística, com foco em grupos desfavorecidos da sociedade, abrangendo as famílias, jovens, idosos e pessoas com deficiência, e deslocando parte do seu olhar também para as comunidades receptoras e profissionais da área. A nova visão tem como alguns de seus objetivos contribuir para uma transformação social por meio da inclusão, da educação e do desenvolvimento de regiões.>
Busca-se, também, integrar a cadeia produtiva do setor a partir de relações pautadas na solidariedade, confiança mútua e compromisso ético, de maneira a promover a distribuição justa da riqueza gerada e estimular serviços turísticos sustentáveis, solidários e socialmente responsáveis para todos, isto é, para turistas, comunidades receptoras, trabalhadores e empresas que atuam nessa atividade de relevância global. >
No Brasil, o Sesc é pioneiro e protagonista na realização de turismo social e, desde 1948, é referência no tema para pesquisadores e outras instituições em nível global. Membro da Organização Internacional de Turismo Social, foi o único representante do Brasil incluído na publicação “Turismo em Ação” (ISTO, 2017), que traz vinte exemplos de políticas sociais em turismo ao redor do mundo.>
Algumas tendências têm sido apontadas por especialistas para a retomada das atividades turísticas em um cenário pós-pandemia. Dentre elas, podemos destacar o turismo de proximidade (viagens curtas, notadamente rodoviárias) e viagens em grupos menores compostos por familiares, especialmente idosos, grupo que mais sofreu com a necessidade de se manter isolado. Nesse sentido, as atividades que já fazem parte do escopo de trabalho natural das organizações que atuam em turismo social, como o Sesc, apresentam-se como contribuições de primeira hora nesse processo de retomada, pois o turismo doméstico e as famílias – com especial atenção para aquelas de menor poder aquisitivo – formam os pilares de sustentação do turismo social. >
A viagem impacta corpo e alma do viajante, este sujeito que, no retorno, pode ser outro, e ver-se transformado por aquela experiência. Em um cenário de forte retração econômica, devido à pandemia da covid-19, o turismo social pode ser um importante vetor de retomada de crescimento, de inclusão e de promoção do bem-estar social para diversos municípios brasileiros. >
Anderson Dalbone - Gerente de Lazer do Departamento Nacional do Sesc>