O Vitória existe mas adoece, tendendo a não mais ser

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  • Gabriel Galo

Publicado em 28 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Você conhece o paradoxo do Gato de Schroedinger? Trata-se um famoso experimento em que um gato vivo está dentro de uma caixa, mas ao abri-la, ele estará morto. Cria-se um paradoxo mental estranho e meio mágico: o gato está, neste cenário, vivo e morto ao mesmo tempo. Tudo junto e misturado.

“Mas afinal, homem, o que diabos tem a ver esse diabo desse gato com o Vitória?”

Perdoe-me a filosofia, apressado amigo, enervada amiga, mas o sentido do experimento se aplica ao rubro-negro baiano nos dias de hoje. Expandamos o alcance, abrangendo coisas menos importantes da vida – há algo mais que o ludopédio em categoria de primeira grandeza? – e usemos o é-mas-não-é do felino do físico austríaco como espelho do nosso mundo na era da pós-verdade. As coisas, pois, são e não são ao mesmo tempo. Tomemos o caso do Vitória neste começo de ano 2019 e veja como tudo se encaixa.

O Sub-23 da equipe, segundo nota do clube, não é que acabou, apenas deixou de existir. Não é fantástico?

No nascer do ano, propôs-se um orçamento que foi prontamente rechaçado por quem tem a não-tão-apurada capacidade de somar um mais um. Temos, assim, ao mesmo tempo em que não temos, um planejamento financeiro para o clube.

Ou que tal falarmos da política de contratações, que mesmo depois de experiências próximas da completa insanidade – como oferecer 2 anos de contrato a Uillian Correia e a Ruan Renato – resolve repetir a fórmula do zagueiro pirulento e sem habilidade? Aprendemos e não aprendemos, pois, pois. (ah, saudade que tenho dos tempos em que os paranistas contratados vinham com o selo Ney Santos e Adoílson de qualidade...)

E o que dizer de Edcarlos, que num único jogo conseguiu meter um triplete twist carpado, um contra, dois a favor. É de defesa, pero no mucho, quem há de confiar? Sem falar no caso de Jeferson, o lateral que não sabe cruzar. É, assim, e não é ao mesmo tempo, porque o fundamento básico de sua função lhe foge à capacidade.

Ou, infâmia, contemplemos o fato de o Vitória se dizer um clube de futebol, mas que empurra sua torcida – o principal ativo de qualquer instituição – para longe. Fingido, faz de conta que está tudo bem. Para eles, portanto, está e não está tudo bem, enquanto nós seguimos torcedores mesmo com motivos demais para não sermos.

Você, no fim, poderá argumentar que este tipo de maldizer de palavras é estratégia feita para confundir utilizada desde que o mundo é mundo. E, corretamente, vai se sentir incomodado com tantos prolegômenos misturando bichano, física, paradoxo e mais sei-lá-o-quê. Tal qual Chacrinha, confesso, não vim aqui para explicar, vim aqui para confundir. Mas observe como há beleza neste emaranhado de letras e aperto de mente. Não seria o presidente (em caixa baixa, revisor) do Vitória ao mesmo tempo torcedor e não torcedor? Porque, convenhamos, fazer o que ele faz, implodindo a instituição, não é coisa de quem grita “Negô” na arquibancada. E enquanto ele estiver na cadeira máxima será o experimento de Schoedinger levado às últimas consequências: nele, o Vitória existe mas adoece, tendendo a não mais ser.

Gabriel Galo é escritor