Obra do Parque de Xangô utiliza materiais de baixo impacto ambiental

Prefeitura entregará o espaço em novembro deste ano

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  • Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

Usada por escravos que fugiam das fazendas na região de Cajazeiras, em Salvador, durante o Século XIX, a Pedra de Xangô é um símbolo de resistência. Antes conhecida como Pedra do Buraco da Onça, ela ficava escondida por um matagal em uma área de Mata Atlântica que favorecia os escravos em fuga. Hoje, o local, que é considerado sagrado pelos religiosos de matriz africana, aos poucos se transforma no Parque de Xangô. A obra está sendo realizada pela gestão municipal, que dá um novo tratamento à área, permitindo tanto a preservação do espaço quanto a oferta à população de uma nova alternativa de lazer e convivência.

O Parque de Xangô, localizado na Avenida Assis Valente, no bairro de Fazenda Grande II, é um compromisso da Prefeitura de Salvador firmado à época do tombamento municipal da Pedra de Xangô, em 2017. A obra, que começou em fevereiro do ano passado e teve uma pausa por conta da pandemia, tem previsão de ser finalizada em novembro deste ano. O projeto, de autoria da FFA Arquitetura e Urbanismo e coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), atende a um pedido de estudiosos e adeptos de religiões de matriz africana à gestão municipal."O Parque Pedra de Xangô vai ser mais um patrimônio cultural da cidade. São 70 mil metros quadrados de Mata Atlântica que servirão também para preservar um dos principais símbolos de religiões de matrizes africanas da nossa cidade. Agora, todo o povo de santo vai ter um local belíssimo para cultuar a sua fé e pedir suas proteções. Será mais um ponto turístico que transcende a questão religiosa e vai atrair milhares de visitantes”_Bruno Reis, prefeito de SalvadorCompromisso ambiental Com uma intervenção urbanística numa área de 67.163,06m², o projeto, que tem investimento de R$ 8 milhões, tem como prioridade a manutenção da vegetação remanescente de Mata Atlântica. Com a construção do parque, a população, especialmente a de Cajazeiras, terá à disposição uma nova alternativa de lazer e convivência, que irá aproximar as pessoas da história cultural de Salvador e conscientizar da necessidade da preservação da natureza.

A urbanização do espaço ao redor da Pedra do Xangô prevê ainda o reflorestamento das áreas degradadas e espaços para cultivo das árvores consideradas sagradas para a religião e representativas da Mata Atlântica. Todos os serviços de infraestrutura utilizaram materiais ambientalmente sustentáveis, a exemplo de luminárias solares e paredes em Taipa de Pilão.“A Pedra de Xangô está inserida em uma Área de Proteção Ambiental. Toda a remanescente de Mata Atlântica está sendo preservada. Além disso, todas as áreas degradadas serão replantadas. Esse parque faz parte do chamado Parque em Rede, onde serão trabalhados todos os marcos que articulam os pontos sagrados, como nascentes e árvores”_Tânia Scofield, presidente da FMLFAndamento da obra Atualmente está sendo executada a urbanização do entorno da Pedra de Xangô, além da implantação do desvio da Avenida Assis Valente e do acabamento do memorial, que foi edificado em taipa de pilão e tijolos ecológicos. As obras de drenagem, a construção do anfiteatro e toda parte de terraplanagem já foram concluídas. Urbanização do espaço ao redor da Pedra do Xangô prevê ainda o reflorestamento das áreas degradadas (Foto: Divulgação/FMLF) O projeto prevê ainda a criação de uma zona de amortecimento paisagístico no entorno da pedra, a pavimentação do sistema viário e implantação de praça, construção de arquibancadas, escadas, pontilhões e vertedouro, além da instalação de equipamentos e mobiliários urbanos.

Também estão previstos auditório, área administrativa, sanitários e estabelecimentos comerciais voltados para o parque. Além disso, o projeto propõe trazer de volta o espelho d’água que circundava a pedra. O espaço terá trilhas a céu aberto, anfiteatro e áreas para exposições com elementos simbólicos das religiões de matrizes africana e indígena. “Tudo com o uso de materiais de baixo impacto ambiental e de alto valor ecológico”, garante Tânia Scofield.

Você Sabia? A Pedra de Xangô é protegida pela Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município (8.550/2014). Ela foi tombada pela prefeitura em maio de 2017, através da Fundação Cultural Gregório de Matos (FGM), que oficializou o tombamento da pedra em si e da área considerada sítio histórico do antigo Quilombo Buraco do Tatu. Com isso, a Pedra de Xangô se tornou o terceiro monumento protegido pela lei.

Xangô, um dos principais orixás no panteão africano, é o patrono da justiça. Kaô kabiesilê, sua saudação, em tradução aproximada para o português, significa “o rei quis assim”. Tem como parceira mais constante a orixá Iansã, embora se relacione também com Obá e Oxum. A rocha é sua força da natureza e o machado, seu símbolo.

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