Oito réus da explosão da Farmácia Pague Menos serão ouvidos em fórum de Camaçari

Tragédia aconteceu em Camaçari, na Região Metropolitana, em 2016

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  • Bruno Wendel

Publicado em 10 de setembro de 2019 às 05:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

Os oito réus do processo criminal que apura a explosão de uma loja da rede das Farmácias Pague Menos, em Camaçari, serão ouvidos na última audiência do caso na manhã desta terça-feira (10), no Fórum Criminal da cidade, na Região Metropolitana de Salvador. O acidente aconteceu no dia 23 de novembro de 2016, no Centro da cidade, e deixou 10 mortos e 9 feridos. 

Nesta terça, a partir das 8h30, os réus serão interrogados pelo juiz Waldir Viana Ribeiro Júnior na Sala de Audiências da Vara do Júri do Fórum de Camaçari. Dos oito réus, três, que estão em Brasília e Fortaleza, seriam interrogados por cartas precatórias. No entanto, abriram mão do direito de serem ouvidos em seus domicílios e serão interrogados pelo juiz Waldir Júnior.

A gerente da farmácia e três funcionários que trabalhavam na reforma da loja foram responsabilizados. Eles sofreram ferimentos no dia do incêndio. O diretor e o gerente regional da Pague Menos e os donos das empresas de manutenção Chianca, que fazia reforma no telhado, e AR Empreendimentos, que fazia reparos no sistema de ar-condicionado, também foram indiciados. A polícia concluiu que eles desrespeitaram regras indispensáveis para a segurança dos clientes e funcionários. 

No dia da explosão, funcionários da Chianca faziam reformas no telhado da farmácia e outros, da AR Empreendimentos, trabalhavam na manutenção do sistema de gás e ar-condicionado do estabelecimento. Os peritos concluíram que, primeiro, houve uma explosão provocada por um vazamento de gás, seguida de um incêndio e, depois, do desabamento do telhado.

Os indiciados são: Josué Ubiranilson Alves, diretor da empresa Pague Menos; Augusto Alves Pereira, gerente regional da Pague Menos; Maria Rita Santos Sampaio, gerente da farmácia incendiada; Erick Bezerra Chianca, sócio da empresa de manutenção Chianca; Rafael Fabrício Nascimento de Almeida, sócio da empresa de manutenção AR Empreendimentos; e Luciano Santos Silva, técnico em refrigeração pela AR Empreendimentos.  Farmácia estava cheia de clientes no momento da explosão (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) Esses seis respondem por homicídio por dolo eventual e tentativas, ou seja, não tinham a intenção de matar, mas assumiram os riscos. Dois funcionários da Chianca - Fernando Vieira de Farias e Edilson Soares de Souza - foram indiciados por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar). A polícia acusou os dois de terem sido negligentes durante o serviço. A pena por cada homicídio doloso varia de 6 e 12 anos de prisão. Foram dez vítimas. 

Dor O técnico em telecomunicações Fábio Souza Carlos, 36, disse ao CORREIO que irá amanhã ao fórum acompanhar a audiência. “É uma dor que não quero pra ninguém, nem para o maior inimigo. Luto por justiça”, desabafou. Por volta das 13h30 do dia 23 de novembro de 2016, a filha dele, Celine Pires Souza Carlos, 9 anos, estava dentro da farmácia com a mãe, a dona de casa Elisane Costa Pires, 37. Elas tinham acabado de sair de um consultório médico e foram ao local comprar uns medicamentos quando houve a explosão. 

O corpo de Celine foi resgatado dos escombros por volta das 21h. “Ela estava com a minha mulher já no caixa, mas deixou a mãe para ir até um lado da loja para pegar um desodorante, momento em que o teto desabou com a explosão. O corpo de minha filha foi encontrado abraçado a uma senhora, que também morreu”, lamentou Fábio. 

Apesar de o processo criminal está em sua fase final, ele falou em relação à demora, já que a audiência desta terça acontece depois de dois anos e oitos meses da tragédia.“Pelo tempo que aconteceu e o tamanho da tragédia, esta audiência é tardia. Os acusados respondem em liberdade. Deveriam estar custodiados. A gravidade foi alta. Foram 10 mortos e tantos feridos. A gente não sabe se vai ter justiça. A gente fica sem saber o que vai ser. Estão empurrando de qualquer jeito. Se fosse da nossa vontade, faríamos justiça com as próprias mãos, mas não podemos. Toda a prova a Justiça já tem. Por que a Justiça está demorado tanto? A gente acompanha todos os dias e nada”, desabafou novamente Fábio.Indenização O técnico em telecomunicações entrou com duas ações indenizatórias com a rede de Farmárcias Pague Menos. A primeira diz respeito à morte da filha. Segundo ele, a rede foi condenada em primeira instância a pagar uma indenização no valor de pouco mais de R$ 900 mil. “No ano passado, a juíza da vara deu a sentença, mas eles recorreram e agora o julgamento será pelos desembargadores e não tem data prevista”, contou Fábio. 

O segundo processo que ele move contra a rede está relacionado às sequelas deixadas na mulher dele. Além do trauma psicológico, Elisane teve um dos punhos quebrados. “Como se não bastante os tratamentos com o psiquiatra, porque ela não consegue esquecer aquele dia, e não tem como, minha mulher hoje não consegue segurar nada na mão direita. Ela era uma pessoa muito ativa. Uma tarefa simples, como varrer uma casa, é um tormento para ela e isso ainda a deixa com baixa estima, nervosa”, contou Fábio. De acordo com ele, o processo ainda está em primeira instância e uma mulher passou por uma perícia há uma semana e aguarda o laudo. Interior da farmácia ficou completamente destruído (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) O CORREIO procurou a rede de farmácias Pague Menos, mas não obteve resposta. Há 15 dias a rede inaugurou uma nova loja em Jardim Aeroporto, localidade de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador. De acordo com material de divulgação, “nos últimos 12 meses, a Pague Menos inaugurou 5 lojas na Bahia, o que representa um crescimento de 6% da rede na região. (...) A Pague Menos chegou à Bahia em 1999 e atualmente conta com 115 pontos de vendas em 42 municípios do estado, sendo 45 na capital (Salvador)”.

Ainda de acordo com o material, “as Farmácias Pague Menos são a primeira rede varejista presente nos 26 estados da Federação e no Distrito Federal, desde 2009. Mantém um crescimento médio anual (CAGR) de 15,6% nos últimos dez anos, um dos maiores índices de crescimento contínuos do Brasil”.