Onde o vento faz a curva: rajadas chegam a 49 km/h nesta segunda-feira (8)

Entenda os motivos para estar ventando e chovendo tanto em Salvador

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  • Eduardo Dias

Publicado em 8 de julho de 2019 às 15:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O mar podia até estar para peixe, mas não para pescador. Essa foi a conclusão do pescador Antônio Santana, 56 anos, ao resumir o seu dia e dos demais colegas da Colônia de Pesca do Rio Vermelho, nesta segunda-feira (8). Com chuvas desde domingo e ventos fortes ao longo de todo o dia em Salvador, nem mesmo quem lida com o mar diariamente se arriscou a encarar a água. 

Antônio já tinha ido dormir preocupado, no domingo (7). Chegou a acordar duas vezes no meio da noite para o olhar seu barco: queria ter certeza de que ele não tinha sido arrastado pela força das ondas e continuava atracado na praia. “Não gosto nem de imaginar”, contou ele, morador do Rio Vermelho há 40 anos.

Nesta segunda, ficou com os colegas na colônia. O pescador Antônio não entrou no mar (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “A gente se junta aqui, fica admirando o mar, mas sem poder entrar nele. Conversamos, jogamos dominó, é o que tem para fazer nesse dia assim. O vento está muito forte, as ondas altas”, refletiu. De fato, a conclusão de Antônio não veio sem fundamento. A frente fria que chegou a Salvador no fim de semana provocou ventos intensos. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologista, a velocidade dos ventos nesta segunda-feira (8) alcançou os 49 km/h – ou aproximadamente 13,6 m/s. 

Só para dar uma ideia, a média de velocidade dos ventos para o mês de julho é de 2 m/s. Junto com agosto, o mês é o que tem a maior intensidade prevista ao longo de todo o ano. “O vento está relacionado à frente fria, no momento que forma uma alta pós-frontal (sistema de alta pressão), os ventos que vêm do mar e do Sudeste são empurrados”, explica a meteorologista Maryfrance Diniz, do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). Prós e contras Sem a mesma vendagem de dias ensolarados, o comerciante e morador de Cajazeiras 10, Gilson Freitas, 44, trabalha na orla de Ondina vendendo água de coco e refrigerantes há mais de 10 anos. Ele estava preocupado com a estrutura de sua barraca por conta da ventania e mau tempo.

"O vento atrapalha até nós, comerciantes da orla. Nesse tempo de chuva quase ninguém vende nada. Lá onde moro ventou tanto, mas tanto, que eu cheguei a ouvir as telhas balançarem. Saí de casa hoje às 5h da manhã e ainda chovia e ventava muito. Abri a barraca aqui e foi preciso colocar uma lona para conter o vento e preservar a mercadoria. Se eu não fizer isso, vai tudo para o chão. Quando cheguei vi que muitos dos colegas não funcionaram por causa do vento”, relatou.  

Tem quem reclame, mas também tem quem goste do tempo assim. O advogado Paulo Sérgio Macedo, 50, é um deles. Ele aproveita as primeiras horas da manhã para fazer uma corrida na orla de Ondina. Acredita que a corrida na chuva ajuda a elevar a autoestima para encarar o restante do dia. O advogado Paulo Sérgio não deixou de fazer a caminhada, mesmo com chuva (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) "Faça chuva ou faça sol, eu faço minha caminhada todo dia. Esse vento todo e a chuva lava minha alma, eu não me importo. É o meu encontro com Deus. Estou desde cedo me preparando para enfrentar o dia, eleva minha autoestima. Faço o percurso na Barra toda. Me ajuda muito, estou indo para os 51, tenho que me cuidar, não vai ser um mau tempo que vai me atrapalhar”, disse Paulo Sérgio.Frente fria Segundo a meteorologista Maryfrance Diniz, do Inema, essa frente fria foi a mesma que provocou fortes chuvas em estados como São Paulo, na semana passada. De forma geral, as frentes frias são formadas no Sul e avançam em direção ao Nordeste. 

A formação dessa frente fria, já indicada pelas previsões do tempo da semana passada, é considerada uma condição comum, segundo a meteorologista Cláudia Valéria, do Inmet. As chuvas mais fortes, inclusive, devem permanecer até a noite desta segunda-feira. A partir desta terça-feira (9), já deve acontecer uma redução das chuvas, com maiores períodos de abertura de Sol. 

“Essa cara de inverno vai ser mais durante o dia de hoje. É uma frente fria que fica no oceano influenciando a costa”, diz Cláudia. Além de Salvador, as chuvas têm atingido, principalmente, o Recôncavo baiano e o Litoral Norte do estado. 

Em pouco menos de 24 horas – das 10h de domingo (7) às 9h desta segunda – o acumulado de chuva registrado foi de 112,8 mm. Isso significa que choveu pouco mais de 50% do esperado para todo o mês de julho. A média histórica para julho é de 208,6%. “Ontem (domingo), a gente teve registros de que a rajada máxima de vento foi de 46 km/h, o que não é algo muito extremo. Já teve registros maiores. A rajada máxima é sempre perto do mar e ocorre em um momento. Não é durante todo o período”, completa Cláudia. Em junho, por exemplo, houve ventos de 62 km/h. De acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal), nesta segunda-feira, foram registradas 94 ocorrências relacionadas à chuva até 11h. Entre as situações, há 35 casos de deslizamento de terra, nove alagamentos de imóvel, nove ameaças de desabamento e oito ameaças de deslizamento.

De acordo com o diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macêdo, a previsão é que a frente fria que está sobre a capital desde o final de semana já esteja se afastando em direção à região de Aracaju (SE) e Maceió (AL).

A temperatura máxima prevista para esta segunda-feira é de 29°C, com mínima de 22°C, de acordo com o Inmet. Nesta terça-feira, a previsão é de máxima de 26°C e mínima de 23°C. Em média, em julho, as temperaturas oscilam entre a máxima de 26°C e a mínima de 21°C. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier