Operação Grande Família: empresários movimentavam entre si mais de R$ 2 mi, diz polícia

Investigação apontou que atacadistas sonegaram cerca de R$ 50 milhões

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  • Bruno Wendel

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 05:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

(Alberto Maraux/SSP) O repasse de mais de R$ 2 milhões em transações bancárias foi o motivo pelo qual se deu o início da Operação Grande Família, cujos mandados de busca e apreensão foram cumpridos na manhã desta quarta-feira (16) em Salvador e Santo Antônio de Jesus. Os investigados, a maioria de uma mesma família, atuam no ramo atacadista de alimentos e geraram um prejuízo aos cofres públicos estimado em R$ 50 milhões. 

A investigação foi realizada pelas secretarias estaduais de Segurança Pública (SSP) e da Fazenda (Sefaz), juntamente com o Ministério Público da Bahia (MP). As movimentações bancárias foram monitoradas entre 2012 e 2019. Ontem, a operação conjunta apreendeu, além de documentos diversos, aparelhos eletrônicos e joias.

Durante coletiva no Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), o delegado Marcelo Sansão informou que foram bloqueados R$ 21 milhões em contas bancárias dos investigados e sequestrados imóveis e carros com autorização judicial. 

“A movimentação entre as contas chega a R$ 2 milhões. Mas o que a gente tem de valor sonegado é de aproximadamente R$ 50 milhões. A gente já consegue hoje sequestrar em torno de R$ 21 milhões entre joias, valores em contas correntes, bens, imóveis e móveis também, entre os quais, veículos. A intenção nossa é assegurar que esses valores sejam depois retornados ao Fisco estadual e consequentemente utilizados pelo Estado para as ações devidas. As buscas de hoje são para coletar mais elementos, subsídios para dar continuidade às próximas ações”, declarou Sansão. 

De acordo com informações da polícia, o padrão financeiro apresentado pelo grupo não condiz com o que foi declarado oficialmente. Os mandados de busca foram cumpridos em residências dos investigados, lojas e em um escritório de advocacia.

Exterior Vários documentos, entre eles procurações, são indícios fortes de que empresários suspeitos de cometerem crimes fiscais pretendiam lavar o dinheiro das fraudes no exterior. ”Um dos objetivos da busca e apreensão é encontrar elementos para provar o destino dos recursos para exterior. Encontramos troca de procurações, autorização de movimentação em nome de pessoas que não são da família e nem do grupo empresarial para utilização de recursos fora do país”, explicou o coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate à Sonegação Fiscal e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Gaesf), o promotor Hugo Cassiano.

A operação cumpriu mandados de busca e apreensão em áreas nobres da capital baiana. Imóveis nos bairros de Cidade Jardim, Barra, Corredor da Vitória, Horto Florestal e Alto do Itaigara foram visitados. Documentos e aparelhos eletrônicos (celulares, tablets e computadores) foram os principais itens de interesse para a investigação.  Mandados foram cumpridos em bairros de classe média alta de Salvador (Foto:Alberto Maraux/SSP)   O representante do Ministério Público Estadual (MP-BA) revelou que o próximo passo é comparar as informações. “Tudo indica que a situação seria da lavagem de dinheiro no exterior. Mas para isso vamos precisar fazer um levantamento dos dados bancários e cruzar com outras documentações apreendidas”, disse Cassiano. 

Ele explicou como funcionava o esquema: “Havia aquisição de mercadoria por uma empresa, mas era comercializada por outra. Se percebeu que haviam transferências bancárias suspeitas para o próprio advogado do grupo e para amigos desse grupo familiar, não havendo motivo plausível outro que não a lavagem de dinheiro”.

Família Segundo o promotor, as empresas investigadas são a Cerealista Recôncavo, no bairro de Pirajá, em Salvador, e Atacadão Recôncavo, na cidade de Santo Antônio de Jesus.  Cinco pessoas são investigadas. Quatro delas são da mesma família: uma mulher, os dois filhos dela e um neto. A quinta pessoa é o advogado da família. 

Segundo informações do MP-BA, os empresários estavam sendo monitorados pelos órgãos fazendários desde 2017, que remeteram 15 notícias-crimes ao MP relativas ao grupo empresarial investigado. No entanto, ninguém foi preso. 

“Por enquanto, estão na categoria de investigados em inquérito policial. Ao final, a polícia vai remeter o inquérito para o MP, para analisar toda a documentação arrecadada e oferecer a denúncia-crime contra a ordem tributária, lavagem de dinheiro e associação criminosa”, declarou o promotor.  

A operação contou com apoio das equipes da Delegacia dos Crimes Econômicos e Contra a Administração Pública (Dececap), do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), do Centro de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar, da Sefaz e do MP-BA.