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Carol Neves
Publicado em 10 de abril de 2017 às 07:43
- Atualizado há 2 anos
Marcos coloca dedo na cara de Emilly em briga (Foto: Reprodução/TV Globo)O telespectador do Big Brother Brasil 17 teve o desprazer de assistir cenas de terror na noite deste domingo. O relacionamento de Emilly e Marcos atingiu seu ponto mais baixo, com o médico se comportando de maneira truculenta com a namorada. Incapaz de manter uma conversa (especialmente com mulheres) sem intimidar fisicamente, Marcos colocou o dedo na cara de Emilly, a encurralou em um canto da sala, abraçou à força, segurou com ignorância. O tempo todo ela pedia para ele parar, reclamou que estava machucando, pediu para sair de perto. No jardim, para onde a briga se arrastou, foi agonizante ver Emilly deslizando para o chão em fuga de um abraço de Marcos só para ver o médico deitar por cima dela e ainda bater com a cabeça dela no gramado. Marcos chorou depois, os dois fizeram as pazes, ele disse que ela provocou a briga – nada diferente do que acontece em muitas relações abusivas.>
Ao longo do dia, campanhas nas redes sociais pediam expulsão de Marcos, enquanto enquetes de intenção de voto mostravam que pelas mãos do público ele não deveria sair. A expectativa crescia antes do programa – desnecessariamente. A Globo já expulsou dois participantes da casa ao longo da história do BBB, nunca ao vivo. O fato de chegar ao momento da edição sem nenhuma indicação da emissora já era sinal de que Marcos seguiria na casa.>
Coube ao apresentador Tiago Leifert, meio prostrado, a missão de falar com o público para explicar o que estava acontecendo a e posição da Globo. E não foi legal. De cara, Leifert afirmou que o “comportamento do casal nos preocupa e preocupa vocês”. Do casal? Sério? Depois anunciou que os dois foram chamados ao confessionário para conversas, separadamente. Marcos foi alertado sobre seu comportamento e Emilly teve reforçada a ideia de que “deve e pode procurar a produção quando quiser”. Ou seja: colocou na mão da garota que está em meio a um relacionamento abusivo a responsabilidade de, na reta final do reality show, denunciar o namorado e causar sua expulsão. O apresentador disse ainda que o BBB está “preparado para intervir” caso algo aconteça, deixando claro que para a Globo não houve agressões até o momento. No popular: estão deixando rolar, esperando para ver se algo mais explicitamente físico vai acontecer. A emissora não é polícia, mas deve se responsabilizar pelo que exibe e pelo bem-estar dos participantes de suas atrações.>
Na edição do ano passado, houve uma expulsão. Ana Paula foi retirada do jogo após dar tapas no rosto do rival Renan, que imediatamente reclamou no confessionário. Sem querer defender a agressão física, e Ana Paula foi corretamente expulsa, para mim as cenas exibidas de Marcos e Emilly são muito mais violentas e dolorosas. Foi difícil “desligar” do programa ao final da exibição, difícil tirar o gosto ruim que deixou na boca.>
É desanimador ver tudo isso acontecendo, especialmente em um momento que tivemos muitas mulheres e homens se unindo em uma campanha contra assédio após o caso do ator José Mayer. A atriz Luana Piovani inclusive falou sobre esse caso em seu canal no Youtube, citando outro famoso reality show e sua experiência com o ex-namorado Dado Dolabella. “Dado Dolabella enfiou a mão na minha cara, eu fui para o mundo contar e seis meses depois ele ganhou R$ 2 milhões na Fazenda, votados pelo telefone. Pelas pessoas. Vocês imaginam como eu me senti quando Dado Dolabella ganhou R$ 2 milhões depois de ter enfiado a mão na minha cara?”. A sensação deve ter sido amarga, como foi ver Marcos voltando do paredão aos gritos de “é campeão” de sua torcida. Não deu tempo para o público absorver a edição de ontem a tempo para este paredão, mas será que vai? A quatro dias da final, a torcida não parece disposta a abandonar o médico, que ao lado de Emilly é um dos favoritos desta edição.>
Para muitos o que aconteceu na casa entre Emilly e Marcos foi um desentendimento normal. Para outros, Emilly “provoca”, “merece”, é “briguenta”. Segue a linha de pensamento de gente que não conhece – ou prefere ignorar – os padrões desse tipo de relação: “E foi agressão mesmo? E por que ela ainda está com ele?”. O que vimos na noite deste domingo só contribui para normalizar esse tipo de cena agressiva, para validar comportamentos como o de Marcos. Vivemos em um país em que a violência de gênero é gravíssima, com casos diários de mulheres mortas e agredidas por companheiros, ex-maridos e quetais. Em briga de casal se mete a colher, sim, mas a Rede Globo preferiu se isentar de alguma medida mais drástica que um puxão de orelhas nos bastidores.>