Os cuidados com as apostas nos bons novinhos

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  • Paulo Leandro

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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- Jogadores da base são mesmo só números, uma mercadoria com valor de investimento, valor de negociação e facilmente descartada, quando não for útil.

Este é o pensamento de uma das mães de revelações das categorias de base de um de nossos clubes, ao saber do descarte, por telefone, de um dos colegas dos garotos cauterizados no Ninho do Urubu, cuja indenização o campeoníssimo Flamengo evita.

Que campeão pode ser um clube capaz de uma desumanidade a este grau? Além de não prevenir, com o devido cuidado, o acidente no qual resultaram óbitos de talentos em condição de revoada, como agravante, não paga o estipulado pelo dano.

Não que a monetarização da dor seja suficiente para trazer de volta a vida de quem a perdeu, mas para de facto proclamar-se campeão, um clube precisa defender as virtudes da coragem, do conhecimento, da moderação e da justiça.

Já houve tempo em Salvador, que perdemos um menino, num time de base, para o tétano, e, mais recentemente, as acomodações para os pequenos craques eram insalubres, apertadas, desconfortáveis.

Ao propor disputar o Campeonato Baiano com times de jovens, Vitória e Bahia chamam a atenção para a importância de cuidar bem destas ninhadas. A mesma mãe lá do alto do texto fica mais tranquila com a presença, hoje, de psicólogos e assistentes sociais:

- A intolerância e o fanatismo pentecostal estão crescendo de tal forma que a maioria dos colegas de meu filho faz brincadeiras depreciativas com as baianas de acarajé, quando estas já não aderiram à violência evangélica.

Seria demais pedir aos clubes cuidados não apenas com a revelação de jogadores, mas também com o incentivo ao perspectivismo: doutrina pela qual, pode-se interpretar um cenário de formas mais diversas, sem necessariamente alcançarmos a verdade absoluta.

Outro item capaz de atrapalhar este trabalho de Vitória e Bahia é a influência maligna da cadeia formada por empresários e seus apaniguados ‘jacarés’, forçando a opinião pública, visando seus interesses, elogiando ‘ruínas’, destruindo talentos.

Para mostrar o quanto a aposta nos novinhos é o caminho possível, estive folheando minha velha e amada Enciclopédia do Futebol e vejam quantos dos ‘heroes’ da seleção baiana de todos os tempos chegaram a Vitória e Bahia de 23 anos pra baixo:

Pelo maior Vitória que já existiu, o imortal zagueiro Válter chegou com 22; França, divindade da raça, 23; Osni Lopes, a Arte do drible e do gol, veio para a Toca com 19 anos, e Mário Sérgio, o homem da avenida, apenas 21 aninhos.

E se formos verificar o ninho de cobras armado por Paulo Carneiro, marca iniludível de sua proteção por Atena? Do time de 1993, Dida, Rodrigo, Paulo Isidoro, Alex Alves... Assim foi na sua primeira gestão e será agora e sempre.

A revolução impossível de ser combatida é a cultural: o sucesso do Vitória foi criar este ethos (jeito de ser) de formar na base os seus ídolos. Mais de 70 talentos feitos no Barradão foram convocados para seleções brasileiras de base.

O Bahia não fica atrás; da seleção de todos os tempos, Baiaco chegou menino, depois veio Beijoca. Dos bicampeões do Brasil, Zé Carlos pode representar o grupo de João Marcelo, Charles...  Avante, baianos, formar nossos craques e protegê-los das serpentes boquiagudas!

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade