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Os mausoléus do Campo Santo


 

  • Nelson Cadena

Publicado em 04/11/2021 às 05:00:00
Atualizado em 21/05/2023 às 03:45:34
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Domingos Borges de Barros, Visconde da Pedra Branca, pai da Condessa de Barral, governanta dos filhos de Dom Pedro II e sua amante por muitos anos, foi um dos primeiros a ser enterrado num mausoléu do Campo Santo, em 1855, com espaço para doze pessoas de sua família. Antes, Francisco Lopez Guimarães, proprietário de navios negreiros e avô do poeta Castro Alves, foi sepultado num jazigo, em 1852, tudo indica que tenha sido o primeiro mausoléu do necrotério. Pela mesma época, em 1853, Antônio Joaquim Alvarez do Amaral, ex-presidente das províncias de Sergipe e do Maranhão, foi sepultado em jazigo de grande porte.

Ainda na década referida, foram enterrados em jazigos e mausoléus: Alexandre Cardoso de Souza, em 1854; Antônio Joaquim de Oliveira e Helena Menezes Nair, em 1855; Bento José de Almeida, em 1856; Joaquina Rita de Araújo, Domingos José Fernandes e Amelie Vignoles, em 1857; Joaquim Machado Cayres Junior, em 1858; Francisco Xavier Menezes Sobral, Guilherme José Baptista Vianna e Sofia Lima Lobo, em 1859.

Exatos vinte anos depois da construção do jazigo do avô de Castro Alves, o mais antigo do Campo Santo, o cemitério já contava com 106 mausoléus, segundo o relatório do provedor da Santa Casa De Misericórdia, de 1872. A maioria era de porte mediano e levavam a assinatura dos mais afamados marmoristas lisboetas: Antônio M. Rato e Germano; Cesário e Francisco Salles. Este último assina também a escultura da Estátua da Caridade que adorna o pátio central do claustro do hoje Museu da Misericórdia, por encomenda e doação do provedor da Santa Casa Francisco José Godinho. Prevalecia, então, o estilo neoclássico, uma tendência que permaneceu até a década de 1880.

A mesma categoria de fornecedores lisboetas fez com que alguns desses jazigos não fossem totalmente originais. A partir da década de 1870, há um incremento de grandes mausoléus, em especial nas duas últimas décadas do século XIX, e já se verifica uma tendência estilística diferente, sem maior influência da belle époque e do art-noveaux que se manifestou na arte cemiterial do sul do país. Porém, já há uma diversificação em relação aos fornecedores portugueses tradicionais. Encoontra-se estatutária francesa e Italiana.  O imponente mausoléu do Conde Pereira Marinho, ali sepultado em 1886, em estilo neogótico, foi encomendado em Gênova, e o do Comendador Bernardo Martins Catharino, em Milão.

Outros mausoléus imponentes do século XIX se destacam no Campo Santo: o de Manoel Cardoso Amaral, no formato de uma capela em mármore rosa, construído em 1867; o da família do arquiteto e professor da Escola de Belas Artes José Allioni, também uma capela em mármore cinza, de Carrara; o do comendador e provedor da Santa Casa, Manoel de Souza Campos. Os mausoléus em formato de capela e outros de arquitetura vertical, podiam ser vistos de longe, destacavam-se do conjunto, já que o Campo Santo não era arborizado até a década de 1870/80 quando se iniciou o plantio de oitizeiros e casuarinas para sombreamento.

Os ricos mausoléus erigidos desde 1852, concentram-se, a maioria, à direita e esquerda da igreja e tornaram o Campo Santo um museu a céu aberto, pela beleza das esculturas e de sua arquitetura. A Estátua da Fé é uma das joias da coroa, adquirida pelo Barão de Cajaíba para adornar o túmulo de seu filho José Joaquim Gomes d’Argolo, encomendada ao escultor alemão Johann Halbig, autor de obras de arte funerária em alguns cemitérios da Europa.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras